Veneza em risco de inundação. É o que diz o alerta da Organização das Nações Unidas.
A subida do nível do mar, as inundações e a intensificação das ondas de calor ameaçam uma das cidades mais visitadas da Itália, diz relatório provisório do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima (IPCC, na sigla em inglês).
Veneza está “na linha da frente” da crise climática, que corre o risco de redesenhar os mapas dos continentes, afirma o documento. O relatório traz ainda alertas para as cidades de Mumbai (India), Miami (EUA) e Jacarta (Indonésia).
“O nível do mar continua a subir, as inundações e as ondas de calor são cada vez mais frequentes e intensas e o aquecimento aumenta a acidez do oceano”, observam os cientistas no relatório de 4 mil páginas sobre os impactos das mudanças climáticas.
De acordo com os peritos climáticos, é preciso “fazer escolhas difíceis”.
Sob o efeito combinado da expansão dos oceanos e do degelo causado pelo aquecimento, a subida do nível do mar também ameaça contaminar os solos agrícolas com água salgada e engolir infraestruturas estratégicas, como portos ou aeroportos.
Um “perigo para as sociedades e para a economia mundial em geral”, alerta o IPCC, lembrando que cerca de 10% da população mundial e dos trabalhadores estão a menos de dez metros acima do nível do mar.
“Para algumas megalópoles, deltas, pequenas ilhas e comunidades árticas, as consequências podem ser sentidas muito rapidamente, durante a vida da maioria das populações atuais”.
De acordo com os peritos, o nível do oceano pode subir 60 centímetros até ao final do século.
“O destino de muitas cidades costeiras é sombrio sem uma queda drástica nas emissões de CO2”, dizem os pesquisadores, acrescentando que “qualquer que seja a taxa dessas emissões, o aumento do nível dos oceanos acelera e continuará a ocorrer durante milénios”.
“A maioria das cidades costeiras pode morrer. Muitas delas serão dizimadas por inundações de longo prazo. Em 2050, teremos uma imagem mais clara”, disse Ben Strauss, da organização Climate Central.
Mas, apesar dessas previsões sombrias, as cidades costeiras continuam a crescer, multiplicando as vítimas em potencial, especialmente na Ásia e na África.
O relatório de avaliação global dos impactos do aquecimento, criado para apoiar decisões políticas, é muito mais alarmante que o antecessor, divulgado em 2018.
O documento deverá ser publicado em fevereiro de 2022, após a aprovação pelos 195 Estados-membros da ONU e depois da conferência climática COP26, marcada para novembro em Glasgow, na Escócia.
Prevista originalmente para novembro de 2020, a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), com líderes de 196 países, empresas e especialistas, foi adiada devido à pandemia de covid-19.
Veneza em risco de inundação: fala o especialista
Georg Umgiesser, oceanógrafo do CNR-ISMAIR em Veneza, explicou os detalhes do risco de inundação que afeta a cidade da lagoa.
“O nível do mar em Veneza aumentou 32 cm desde 1890 por vários motivos. Um é a subsidência – fenômeno de rebaixamento da superfície do terreno devido às alterações ocorridas no suporte subterrâneo. Veneza está afundando aos poucos. Depois o nível do mar está subindo cada vez mais. Pensa-se que o nível do mar em Veneza poderá aumentar mais 50 cm até ao final do século, ou seja, até 2100”.
Veneza em risco de inundação: a situação
Como o nível médio do mar começou a subir, as inundações são mais frequentes. De 2 ou 3 por ano, passou para 20. O hipotético aumento de 50 centímetros no nível do mar em Veneza significaria ver a Praça de São Marcos totalmente inundada.
Reduzir as emissões agora pode ajudar a diminuir os riscos para cidades costeiras como Veneza (ou, por exemplo, Jacarta), de acordo com o relatório das Nações Unidas. Segundo a ONU, porém, é preciso agir imediatamente.
Caso contrário, os níveis de água devem ser 60 centímetros mais altos até 2100 e, a longo prazo, as perspectivas para muitas dessas cidades costeiras seriam sombrias.