O menino Henrique Lupo chegou ao Brasil com 11 anos, vindo com sua família da Itália. Seria mais um imigrante, se não fosse o legado que construiu para o país.
A família desembarcou em 21 de março de 1888 no Porto de Santos, vinda da cidade de Strigno, localizada na província de Trento, região de Trentino-Alto Ádige, no extremo norte da Itália.
Rumo ao interior de São Paulo, os Lupo chegaram a Araraquara no dia 13 de maio de 1888. Quatro anos depois, Henrique já aplicava os conhecimentos aprendidos com seu pai Teodoro na Itália, trabalhando na relojoaria da família.
O início de uma potência
À procura de um empreendimento mais rentável para sustentar sua família, já que tinha dez filhos, Henrique – nascido em 21 de março de 1877, também em Strigno – abriu no dia 21 de março de 1921 a Fábrica de Meias Araraquara.
A produção era artesanal, na própria casa da família, com duas máquinas de costura na sala e o processo de tingimento nos banheiros.
Em 1927, Rolando Lupo, um dos filhos de Henrique, foi para a Europa e de lá trouxe novas técnicas de fabricação.
A família Lupo também passou a importar fios para confecção das meias, que ganharam em qualidade.
O negócio passou a se chamar Meias Lupo em 1937 e, dez anos depois, já era a maior fabricante de meias masculinas, todas em 100% algodão.
Na década de 60, começou a produção de meias femininas, em máquinas de 474 agulhas, que garantiam qualidade e elegância ao produto.
A reivenção de um império
A empresa passou a se chamar LUPO S/A em 1987, para ressaltar a diversificação dos produtos. Vale destacar a importância de Liliana Aufiero, hoje com 76 anos, neta de Henrique Lupo, que assumiu os negócios em 1993.
Naquela época, a Lupo estava à beira da falência e Liliana adotou medidas que reergueram a empresa, como cortes nos custos de produção, expansão da linha de produtos e aquisição de equipamentos de ponta.
Em 1994, a empresa iniciou a abertura de novas lojas de varejo com todos os produtos da marca.
Nos anos seguintes, a Lupo aumentou sua participação no mercado externo e passou a associar seus produtos a grifes famosas.
Começou a fabricar cuecas para marcas como Zoomp e Cavalera, meias para marcas esportivas como Reebok e Speedo e lingeries para a Rosa Chá.
Lupo e o sonho realizado
Em 2011, a empresa contratou o jogador Neymar como garoto-propaganda de sua linha de meias sociais, cuecas e pijamas.
Hoje a Lupo possui uma linha com mais de 14 mil produtos, desde as tradicionais meias até bermudas femininas redutoras de celulite, passando por lenços, bonés, toalhas, mochilas e bolsas.
No ano de 2019, a empresa registrou receita líquida de R$ 901 milhões e lucro líquido de R$ 111 milhões.
Em março de 2021, a empresa completou 100 anos de fundação, colhendo os frutos do trabalho de uma família de imigrantes italianos que escolheu o Brasil para viver e fazer crescer seus sonhos de empreendedorismo.
O centenário trouxe também o desafio do enfrentamento da pandemia de coronavírus. Algumas medidas foram necessárias, como férias coletivas, redução de jornada de trabalho e, claro, uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento de equipamentos. “Por enquanto, está tudo sob controle”, avalia Liliana Aufiero.
Orgulho e identidade de uma cidade
Para o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, a história da Lupo se confunde com a própria história da cidade. “A empresa nasce de uma família muito importante para nossa história, do ponto de vista social, econômico e político. E cresce para se tornar uma porta-voz da cidade, motivo de orgulho e da construção de nossa identidade nos últimos 100 anos”.
Ouça o depoimento de Edinho Silva:
Por Roberto Schiavon/Italianismo