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Adoniran Barbosa: filho de italianos retratou trabalhador paulistano

Compositor ítalo-brasileiro era filho do casal Ferdinando e Emma Rubinato, que chegou ao Brasil em 1895

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Compositor ítalo-brasileiro era filho do casal Ferdinando e Emma Rubinato, que chegou ao Brasil em 1895

O cantor e compositor Adoniran Barbosa, conhecido por clássicos como Saudosa Maloca e Trem das Onze, é mais um filho de imigrantes italianos que fez história no Brasil.

Ele nasceu em Valinhos, município do interior de São Paulo, em 6 de agosto de 1912, com o nome de batismo João Rubinato. O artista era filho do casal de italianos Ferdinando e Emma Rubinato, que saiu da cidade de Cavarzere, na província de Veneza.

Seus avós paternos eram Angelo Rubinato e Anna Manfrinato, e os maternos, Francesco Ricchini e Antonia Freddo.

Adoniran, à direita, o pai Ferndinando (centro) e um dos irmãos

Mudanças da família

Em busca de melhores oportunidades de trabalho, assim como fizeram milhares de imigrantes italianos no mesmo período, Ferdinando e Emma desembarcaram no Porto de Santos em 15 de setembro de 1895. Eles haviam casado quatro meses antes na Itália, mais precisamente no dia 23 de maio de 1895.

Após passar pela Hospedaria dos Imigrantes, os dois foram trabalhar nas lavouras do município de Tietê e depois se mudaram para Valinhos, onde nasceu João Rubinato, sétimo filho do casal.

A família morou ainda em Jundiaí, época em que Adoniran Barbosa era ainda criança, mas já ajudava o pai no serviço de cargas na Estrada de Ferro (E.F.) São Paulo Railway, hoje E.F. Santos – Jundiaí. Trabalhou ainda como entregador de marmitas e varredor em uma fábrica.

Adoniran, cercado por amigos

Adoniran Barbosa, menino trabalhador

A história conta que o pai de Adoniran falsificou sua certidão de nascimento, alterando a data em que o filho nasceu de 6 de agosto de 1912 para 6 de agosto de 1910, já que o trabalho era permitido somente a partir dos 12 anos.

Em 1924, os Rubinato se mudaram para Santo André, na Grande São Paulo, onde ele seguiu trabalhando para ajudar a numerosa família. Nessa época, ele foi tecelão, pintor de parede, mascate, encanador, serralheiro, garçom, ajustador mecânico e vendedor.

Aos 22 anos, Adoniran foi morar em São Paulo, onde conseguiu emprego como vendedor de tecidos. Nessa época já se arriscava a compor e escreveu Minha Vida Se Consome, em parceria com Pedrinho Romano e Verídico, e Socorro, com Pedrinho Romano.

O artista começou sua trajetória no rádio na década de 1930

Vida de artista

Na capital paulista, começou a participar de programas de calouros no rádio. Em 1933, foi aprovado no programa de Jorge Amaral, interpretando Filosofia, de Noel Rosa e André Filho.

Foi nesse período que ele adotou o nome artístico Adoniran Barbosa, uma união dos nomes de Adoniran, seu melhor amigo, e Barbosa, homenagem ao cantor Luís Barbosa, seu ídolo.

Em 1934, com a marcha Dona Boa, feita em parceria com J. Aimberê, conquistou o primeiro lugar no concurso carnavalesco promovido pela prefeitura de São Paulo. Foi sua primeira canção gravada e lançada, na voz de Raul Torres.

No ano de 1936, o artista se casou com uma antiga namorada, Olga Krum, e o casal teve uma filha, Maria Helena Rubinato. No entanto, o casamento não chegou a durar um ano.

Adoniran e a esposa Matilde, companheira por mais de 30 anos

Adoniran Barbosa e o rádio

Em 1941, Adoniran Barbosa foi convidado para atuar na Rádio Record, onde trabalhou por mais de trinta anos como ator cômico, discotecário e locutor. No programa Casa da Sogra, de Osvaldo Moles, criou e deu vida a vários personagens, como Zé Cunversa (o malandro), Perna Fina (motorista italiano) e Mr. Morris (professor de inglês).

Em 1949, ele se casou novamente, com Matilde de Lutiis, sua companheira por mais de 30 anos e que chegou até a ser sua parceira em algumas composições.

O compositor vivia para o rádio, a boemia e Matilde. Essa convivência, nem sempre pacífica, mas muito criativa, pode ser resumida em uma história. Voltando de uma noitada, Adoniran perdeu a chave e teve que acordar a mulher. No dia seguinte, os dois passaram discutindo e, para encerrar o assunto, ele escreveu o samba Joga a Chave.

O compositor era um cronista urbano e se tornou símbolo da cidade de São Paulo

Primeiro sucesso

Em 1955, Adoniran conseguiu o primeiro sucesso, Saudosa Maloca, composição feita em 1951 e gravada pelo conjunto Demônios da Garoa. O grupo, formado em 1943, se consagraria como o maior intérprete de Adoniran Barbosa.

Inspirado no samba Saudosa Maloca, Osvaldo Moles escreveu no mesmo ano para o rádio o programa História das Malocas, que ficou no ar até 1965 na Record. Na atração, Adoniran interpretou com enorme sucesso o personagem Charutinho. O programa chegou a ser levado até para a televisão.

Em seguida, Adoniran Barbosa lançou músicas que se tornaram eternas, como Samba do Arnesto (1953), Abrigo de Vagabundo (1959) e a famosa Trem das Onze (1964), mais uma de suas composições que retrata o cotidiano das camadas mais pobres da população urbana.

Elias Regina e Adoniran Barbosa

Classe trabalhadora

Adoniran Barbosa contava em suas canções o dia a dia da classe trabalhadora e também as mudanças causadas pelo progresso na cidade grande. Para isso, usava a maneira de falar dos moradores de origem italiana de alguns bairros paulistanos, como Barra Funda e Brás.

Seu primeiro disco individual (LP) só foi lançado em 1973, com ele interpretando suas músicas, inéditas e antigas. No total gravou três LPs. Passou os últimos anos da carreira em esporádicos shows, restritos à região de São Paulo, acompanhado pelo Grupo Talismã.

Uma de suas últimas composições foi Tiro ao Álvaro, gravada por Elis Regina em 1980.

O progresso na cidade grande era um dos temas recorrentes de Adoniran

Cinema e televisão

Adoniran Barbosa participou como ator em vários filmes: Pif-paf (1945), Caídos do Céu (1946), A vida é uma Gargalhada (1950), O Cangaceiro (1953), Esquina da Ilusão (1953), Candinho (1954), Mulher de Verdade (1954), Os Três Garimpeiros (1954), Carnaval em Lá Maior (1955), A Carrocinha (1955), Pensão da Dona Estela (1956), A Estrada (1956), Bruma Seca (1961), A Superfêmea (1973) e Elas são do Baralho (1977).

Na televisão, o artista participou de novelas como A Pensão de Dona Isaura, na TV Tupi, e programas humorísticos na Record de São Paulo, como Papai Sabe Nada e Ceará Contra 007.

Busto de Adoniran, em São Paulo

Adoniran Barbosa eterno

Adoniran Barbosa morreu em São Paulo no dia 23 de novembro de 1982, deixando sua companheira Matilde Lutiis. Estava internado no Hospital São Luís tratando um enfisema pulmonar. Foi sepultado no Cemitério da Paz, conforme seu desejo.

O casal Adoniran e Matilde não teve filhos. Sua filha Maria Helena Rubinato, do casamento com Olga Krum, seguiu carreira de tradutora e morreu em 2021, aos 84 anos.

Consagrado como grande representante da música popular paulistana, Adoniran ganhou um busto na Praça Dom Orione, no bairro do Bixiga. Virou também escola, praça, bar e, no bairro do Jaçanã, existe uma rua chamada Trem das Onze.

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