Em Como, na região da Lombardia, Dolce & Gabbana promove desfiles e experiências superexclusivas
Domenico Dolce e Stefano Gabbana têm tanta intimidade que se interrompem o tempo todo enquanto falam. Um adora terminar a frase do outro. “Para essa coleção de Alta Moda partimos de um clássico da literatura italiana que todos temos que ler na escola”, começou Gabbana, referindo-se ao romance Os Noivos, do século 19, escrito por Alessandro Manzoni. “Mas fizemos uma mistura de tudo. Não existe mais uma só moda, um só estilo. Talvez, aqui seja possível encontrar até sete referências diferentes em uma única roupa”, completou Dolce, antes do desfile de Alta Moda, no último fim de semana, armado à beira do lago Como – um destino de férias italiano, frequentado por estrelas de Hollywood e magnatas do norte europeu.
A passarela formada por uma bucólica trilha de cascalhos foi instalada no Parque Teresio Olivelli, em frente à magnífica vista do lago. Enquanto anoitecia, os convidados chegavam de barco e eram recepcionados por atores vestidos de freiras e monges, que serviam champanhe em taças arredondadas de cristal. Poltronas de veludos clássicas e namoradeiras vintage compunham uma enorme primeira fila que circundava todo o ambiente. “A alta costura hoje é também uma questão da experiência proporcionada aos clientes”, avaliou a jornalista Suzi Menkes, da Vogue Internacional. E que experiência!
A diversidade da coleção e também do elenco de modelos foram responsáveis por momentos de moda mágicos e espetaculares. O show começou com a aristocrata Lady Kitty Spencer, sobrinha da princesa Diana, seguida pela chef britânica negra Emma Weymouth, ambas exibindo longos com saias rodadas de seda pura e espartilhos, numa alusão aos personagens narrados no livro que é considerado uma joia da cultura italiana. Na sequência, a modelo canadense Maye Musk, de 70 anos, mostrou uma túnica florida com barras de plumas verde sorbet, e a belíssima Ashley Graham, diva do plus size, encarnou a mama italiana, em um vestido de renda justo e decotado. “Não há um tamanho certo ou errado nem uma roupa certa ou errada. Todos temos constituições físicas diferentes e isso é uma coisa maravilhosa”, diz ela, que vem ajudando quebrar padrões de beleza antiquados.
Três musas de diferentes fases da década de 1990 estrelaram o desfile. Naomi Campbell surgiu em ótima forma em um longo multicolorido, a top dinamarquesa Helena Christensen fez as vezes de femme fatale, enquanto Eva Herzigova desfilou uma casaca azul, com corte masculino superelegante. “Pensamos na roupa de acordo com a forma como ela funciona em cada modelo”, disse Gabbana.
Bordados com aplicações de pedras exuberantes, paetês reproduzindo a paisagem local e franjas arrematando vestidos deram toques luxuosos às criações. Mas a ala mais inusitada – e interessante – do desfile são os looks lisérgicos, apresentados por modelos com cabelos em tons de lilás, verde e azul. “Amei o mood gypsy e os coletes bordados usados com jeans trabalhado no tie-dye”, disse Daniela Falcão, CEO da editora Conde Nast no Brasil. Um caftã de arco-íris forrado de marabu rosa e coroas de flores reforçaram o clima hippie.
Na entrevista que deram antes do desfile, os estilistas brincaram dizendo que pensaram em deixar um baseado no assento de cada convidado para que eles pudessem entrar na “vibe”. “Nós não fumamos baseados, mas adoramos imaginar como seria nossa coleção caso fumássemos”, disse Gabbana rindo. “Seria como um sonho completamente louco!”
O desfile de Alta Moda traz looks para uma seleta turma de clientes vindas do mundo todo para dias de festas e apresentações espetaculares. Em Como, onde veranistas abonados se acomodam em torno do lago, a diversão acontece em propriedades privadas – George Clooney tem casa por ali, Julia Roberts e Beyonce estão entre os frequentadores assíduos.
Após a apresentação, clientes e jornalistas seguiram para uma festa no hotel Villa Olmo. “No final, um desfile se trata de roupas e de emoção”, disse Gabbana. Disso eles entendem.
Originalmente publicado em Conteúdo Estadão