No evento criado no Facebook, os militantes classificam a mobilização como “a revolta do povo contra a globalização”.
Em plena crise diplomática entre Paris e Roma, o braço dos “coletes amarelos” na Itália – os “gilet gialli” – marcaram seu primeiro grande protesto para o sábado (9) em Roma.
A manifestação dos “coletes amarelos” italianos está prevista para ser realizada na Praça da República, em Roma, ao meio-dia de sábado (9h pelo horário de Brasília). O movimento defende a saída da Itália da União Europeia e da zona do euro, assim como a nacionalização dos bancos e a deportação de migrantes irregulares, entre outras questões.
Paradoxalmente, os “gilet gialli” declaram-se contra o governo italiano, no mesmo momento em que o vice-premiê Luigi Di Maio desencadeou a pior crise diplomática entre a Itália e a França dos últimos 70 anos, com sua tentativa de aliança com os coletes amarelos franceses.
Depois do aumento da tensão entre os dois países, na quinta-feira (7), o embaixador francês na Itália, Christian Masset, foi convocado para consulta por Paris. O motivo foi o encontro do vice-premiê italiano com representantes dos coletes amarelos franceses na terça-feira (5), considerado pela França como “uma provocação inaceitável”.
Jornais italianos destacam crise diplomática
A tensão diplomática entre Itália e França é manchete nos principais jornais italianos nesta sexta-feira. La Repubblica escreve: “França-Itália, rompimento total”. No Corriere della Sera o destaque é: “França-Itália: o dia da crise”.
Para a imprensa italiana, a crise tem motivos políticos, sobretudo com a aproximação das eleições para o Parlamento europeu, em maio. Tanto Macron como Di Maio apostam na busca de aliados para compor as maiorias em Bruxelas.
Do Palácio do Quirinal, sede da presidência da República italiana, aumenta a pressão para que o governo italiano resolva a questão o quanto antes.
Di Maio justifica encontro
A reunião entre Di Maio e os coletes amarelos franceses foi realizada na região parisiense. Segundo o vice-premiê, ele se encontrou com os militantes na qualidade de líder do Movimento 5 Estrelas (M5E), partido antissistema que governa a Itália em uma discrepante aliança com a extrema-direita Liga.
No Facebook, Di Maio disse que a tentativa de aliança com os coletes amarelos franceses “é completamente legítima”. “Reivindico o direito de dialogar com outras forças políticas que representam o povo francês. Assim como República em Marcha, o partido do presidente Macron, é aliado na Europa do Partido Democrático (PD), partido de oposição na Itália, o M5E também encontra uma força política de oposição ao governo francês”, afirmou.
Autoridades italianas reagem
Em viagem de retorno de Angola, o presidente italiano, Sergio Mattarella, falou em uma “grande preocupação com a situação”, destacando que “é preciso defender e preservar a amizade com a França” e “restabelecer imediatamente o clima de confiança”.
Já o premiê Giuseppe Conte disse que “a relação entre Itália e França tem raízes antigas de ordem cultural e econômica e não pode ser colocada em discussão”.
Na manhã desta sexta-feira, o porta-voz do governo francês, Benjamin Griveaux, tentou acalmar os ânimos, ressaltando que “o diálogo nunca foi rompido” com a Itália. Segundo ele, a convocação do embaixador da França em Roma tem o objetivo de “chamar atenção”. “A Itália é um aliado histórico da França e também é um dos países fundadores da União Europeia”, reiterou.
Ruptura diplomática seria catastrófica
A França é o segundo maior parceiro comercial da Itália, atrás da Alemanha, responsável por 10% das exportações italianas. Em 2017, as trocas comerciais entre os dois países aumentaram 8,3%, superando a marca de € 76 bilhões. Um cenário de ruptura diplomática que poderia ser economicamente catastrófico em uma Europa que ainda tenta encontrar uma solução para o Brexit.
Rafael Belincanta, correspondente da RFI em Roma