A Etti, muito conhecida pelo extrato de tomate, foi fundada pelo italiano Salvatore Paoletti. Ele iniciou o negócio com os filhos Carmello e Francisco.
Essa empresa marcou bastante a vida dos brasileiros, que durante décadas consumiram não somente o famoso extrato de tomate Etti, como outros produtos em lata, como goiabadas e marmeladas, frutas em calda, ervilhas e azeitonas.
A história começa quando o imigrante Salvador Paoletti, nascido na cidade de Catânia, na região da Sicília, na Itália, resolveu vir para o Brasil em busca de oportunidades de trabalho.
Ele desembarcou no porto de Santos em 1922, aos 16 anos, e no Brasil se casou com Ermelinda Volpi. O casal teve os filhos Carmello, Francisco e Cleide Paoletti.
Estabelecido em São Paulo, Salvador Paoletti sustentava sua família com uma barraca de “secos & molhados” instalada no Mercado Municipal, que tinha como principais produtos as azeitonas, ameixas e os frios.
A origem dos copinhos
Naquela época, nos anos 1940, ele já era ajudado na barraca por seus filhos ainda meninos, Carmello e Francisco Paoletti. A história conta que Salvador vendia também em sua barraca o extrato de tomate da Cica, que era adquirido em latas de 18 quilos.
O extrato era vendido em porções de 1 quilo e, para levar o produto para casa, as freguesas traziam todo tipo de copos e canecos. Isso fez o italiano Salvador Paoletti ter a ideia de colocar o extrato em copinhos de vidro, que eram vendidos com o produto em seu interior. Foi a origem de sua ideia de industrialização do extrato de tomate.
As atividades industriais da família Paoletti iniciaram no ano de 1954, com uma fábrica de processamento de azeitonas, adquirida da antiga marca Loretto, no município de Várzea Paulista, que integra a Aglomeração Urbana de Jundiaí.
Como o resultado da empreitada foi muito bem sucedido, com muitas vendas, em 1959 os Paoletti adquiriram uma área em uma das margens da Via Anhanguera, em Jordanésia, distrito do município de Cajamar, na região metropolitana de São Paulo.
Foi ali que começou a construção da fábrica da Companhia Industrial e Mercantil – que ficou conhecida nacionalmente pela marca Etti, quatro últimas letras do sobrenome italiano da família.
Os tradicionais produtos Etti
A fábrica começou efetivamente a funcionar em agosto de 1960, já com uma linha de produtos bem extensa, que incluía o extrato de tomate, caldos de carne e outros produtos enlatados, como azeitonas, ervilhas, marmeladas, goiabadas e os doces em calda.
O extrato de tomate em copinhos de vidro, ideia de Salvador Paoletti da época em que tinha sua barraca no Mercado Municipal de São Paulo, tornou-se um grande sucesso de vendas. Na propaganda, que ficou muito conhecida na época, um tomate dizia para o outro: “Ei, você, pule para dentro do copo”, eternizando a marca registrada da empresa.
O sucesso foi aumentando e, no final dos anos 1960, o grupo já abria uma segunda unidade fabril, dessa vez no município de Taquaritinga, interior do estado de São Paulo. Nessa unidade, eram processadas principalmente as safras de tomate e goiaba, que eram utilizados nos produtos da marca.
Recorde no processamento de tomates
Em meados de 1974 foi construída uma terceira fábrica, em Araçatuba, também no estado de São Paulo, para atender as importações e as demandas do maior sucesso da marca Etti, o molho de tomate Puropurê. Na época, a unidade de Araçatuba era a maior concentradora de massa de tomates da América Latina.
Ainda na década de 1970, um outro galpão fabril foi construído em terreno anexo à fábrica de Cajamar, para fabricação das linhas de sucos de frutas Bebifru, outro produto de grande sucesso da Etti.
Após muitos anos de sucesso, a família Paoletti decidiu negociar a marca para o grupo Fenícia, no ano de 1979. Já na década de 1990, a Etti foi vendida para a Parmalat.
Em dezembro de 2011, o grupo norte-americano Bunge, um dos maiores produtores de commodities agrícolas do Brasil, dono das marcas Salada, Primor, Doya, Delícia e Andorinha, comprou por R$ 180 milhões a marca de alimentos Etti, que desde 2006 pertencia ao grupo Hypermarcas. O negócio incluiu as linhas Etti, Salsaretti, Puropurê e Cajamar.
O legado da Etti
O patriarca Salvador Paoletti morreu em 1983, mas antes disso seu filho Carmello Paoletti já havia assumido os negócios. No mesmo ano da morte de seu pai, Carmello assumiu a função de diretor industrial da Arisco e foi ajudar a empresa a montar sua fábrica em Goiânia, capital do estado de Goiás.
Em 1985, o próprio Salvador Paoletti Neto iniciou a empresa Coniexpress (Quero Alimentos). Apesar de sempre ajudar o filho nos negócios, Carmello Paoletti se transferiu para a Quero somente em 1996 e ficou até 2004. Curiosamente, a marca Quero passou a disputar mercado com a Etti, já então gerenciada por outro grupo.
Carmello Paoletti morreu no dia 11 de setembro de 2012, aos 82 anos, de câncer de próstata, deixando dois filhos e quatro netos. Salvador Paoletti Neto conta que um dos maiores prazeres de seu pai era ficar dentro da fábrica, acompanhando de perto todos os processos de fabricação e distribuição.
Uma família de empreendedores
Em 2011, parte da Quero Alimentos foi vendida para a norte-americana Heinz por R$ 1,2 bilhão. Segundo os termos do contrato, a Heinz ficou com 80% da empresa brasileira. O contrato previa também que os altos executivos da empresa, pessoas de confiança da família Paoletti, deveriam ficar na empresa por pelo menos dois anos. Em 2013, Salvador Paoletti Neto acabou assumindo a vice-presidência do Conselho de Administração da Heinz.
Essa é a história de uma família de imigrantes italianos que veio para o Brasil e, com o fruto de seu trabalho, construiu um verdadeiro império e deixou sua marca na indústria, nas mentes e nos corações dos brasileiros, colocando seus produtos inesquecíveis em milhares de mesas do país por muitos anos.