Conhecido por suas posições polêmicas e ativismo contra o reconhecimento da cidadania italiana por descendência, o prefeito Camillo De Pellegrin, de Val di Zoldo, no Vêneto, afirma ter recebido ameaças de morte vindas do Brasil.
“Você será um homem morto” teria sido a frase enviada por meio das redes sociais, segundo reportagem do jornal Il Gazzettino, espécie de porta-voz informal do prefeito. Em outro comentário, De Pellegrin teria sido chamado de “fascista”.
O jornal informou que o prefeito não quis se manifestar oficialmente, mas confirmou às autoridades locais que se sente ameaçado.
Gesto provocativo gerou ação judicial
De Pellegrin é conhecido por provocar os ítalo-brasileiros e gosta de um embate público. Em 2024, ele hasteou uma bandeira do Brasil na fachada da prefeitura de Val di Zoldo como protesto contra o que chamou de “indústria da cidadania”.
O gesto gerou indignação. O advogado ítalo-descendente Luis Gustavo Scarpelli dos Santos Reis entrou com uma ação judicial, acusando o prefeito de injúria à bandeira nacional brasileira e incitação à discriminação.

Polêmica e decreto
O prefeito também é apontado como um dos articuladores do Decreto-Lei nº 36/2025, o chamado Decreto Tajani. A norma limitou o reconhecimento da cidadania italiana iure sanguinis (por sangue) a duas gerações. Antes disso, a Lei nº 91, de 1992, permitia o reconhecimento sem restrição de tempo ou número de gerações.
A medida teve forte impacto especialmente no Brasil, onde vivem milhões de descendentes de italianos que buscavam o reconhecimento da cidadania.
Comuna sobrecarregada
Com apenas 2.700 habitantes, Val di Zoldo foi diretamente impactada pela alta demanda. Segundo a prefeitura, cerca de 600 processos ainda aguardam a finalização. O prefeito alega que a estrutura administrativa foi sobrecarregada por solicitações externas, comprometendo os serviços locais.
Boa parte dessas demandas vem do Brasil, país que recebeu migrações em massa da região do Vêneto entre o final do século XIX e o início do século XX.
Julgamento à vista
A Corte Constitucional italiana vai analisar, no próximo dia 24 de junho, uma ação movida pelo juiz Marco Gattuso, de Bolonha. O magistrado questiona a constitucionalidade do reconhecimento irrestrito da cidadania por sangue.
O julgamento pode alterar os efeitos do decreto em vigor ou até invalidar dispositivos da legislação anterior.
Enquanto isso, De Pellegrin permanece no centro de uma controvérsia que mistura história, política migratória e tensão diplomática com a comunidade ítalo-brasileira.
