No final da Segunda Guerra Mundial, a carbonara foi o prato do renascimento. Na verdade, o prato se espalha desde a segunda metade da década de 1940 e coincide com o fim das privações do conflito e com a volta à normalidade, quando as pessoas voltam a comer fora, a frequentar restaurantes.
As primeiras carbonaras nascem da união do gênio italiano com a logística americana, ou seja, com os ingredientes trazidos pelo Exército dos Estados Unidos nas famosas rações K: bacon e ovos – já mexidos, enlatados ou em pó – cada vez mais encontrados no mercado negro.
A contribuição italiana, é claro, é a tradição da pasta, um alimento capaz de tornar uma substancial ração militar deliciosa e satisfatória, sim, mas sempre igual a si mesma.
Essa hipótese de sua origem – muito plausível até para historiadores – foi recentemente contada em um curta-metragem, dirigido por Xavier Mairesse, que mostra um soldado americano, em uma Roma recém-libertada, que recebe a tarefa de organizar uma refeição que vai levantar o moral das tropas.
É uma verdadeira missão, quase impossível, mas graças à ajuda do jovem cozinheiro – Claudio Santamaria – o espaguete alla carbonara, um prato de ponte entre dois povos que se encontram num abraço de bom gosto, vão ver a luz.
O filme foi procurado pela Barilla para celebrar o Carbonara Day relembrando esse mesmo espírito de encontro e solidariedade entre as culturas, na ideia de cuidar de alguém.
Para isso usaram o CareBonara com trocadilhos, doando um milhão de pratos de macarrão aos refeitórios do Food For Soul.
Dia da Carbonara: pasta para 1 bilhão de pessoas
Mas no dia em que o mundo festeja a Carbonara, promovida todos os 6 de abril pelos fabricantes de massas da Unione Italiana Food, com um imenso banquete virtual que alcançou um público de 1 bilhão de pessoas nas últimas 5 edições, é curioso notar como o prato que mais une é também aquele cuja receita é mais discutida.
Existem apenas cinco elementos, mas eles podem ser diminuídos de mil maneiras diferentes. Assim, discutimos todos os aspectos: pancetta ou guanciale, parmesão ou pecorino, apenas gema de ovo ou mesmo clara de ovo, ovo cozido ou cru, macarrão curto ou longo.
E os italianos ficam indignados quando no exterior se atrevem a propor versões sui generis, como se questionassem a própria identidade.
Entre os primeiros “escândalos” públicos sobre a carbonara aconteceu em 2006, quando o ator Tom Cruise, que se orgulha de preparar uma carbonara especial, dá sua receita no programa da Oprah Winfrey: ele começa com um refogado de uma cebola e dois dentes de alho. Neste momento os italianos socam a mesa.
Depois, há o fatídico Carbonara-gate, em 2016: o site francês Demotivateur publica uma receita bem controversa. Bacon, macarrão tipo borboleta, água e cebola fatiada, são todos cozidos juntos em uma panela com água, depois batidos com natas e finalmente enfeitados com gema crua e salsa.
Quase que as relações diplomáticas entre Itália e França se estremesseram.
Ainda bem que os italianos não sabem que no Brasil a carbonara é feita com creme de leite.
Na verdade, não existe carbonara perfeito, todos têm uma receita que consideram perfeita.
A versão mais credenciada é a com bacon, pecorino, gema de ovo e pimenta. Mas alguns usam outros alguns ingredientes: esses são os erros que os puristas carbonara, principalmente nas redes sociais, não perdoam.