Os principais partidos da Itália chegaram a um acordo neste sábado (29) para reeleger o presidente da República, Sergio Mattarella, para mais sete anos de mandato.
O pacto envolve todas as legendas que integram o governo de união nacional encabeçado pelo premiê Mario Draghi e chega após quase uma semana de votações fracassadas no Parlamento para tentar eleger um novo chefe de Estado.
“O país está em segurança”, afirmou o ex-premiê e senador Matteo Renzi, líder do partido de centro Itália Viva (IV). “É uma grandíssima alegria“, reforçou o ministro da Saúde, Roberto Speranza, da aliança de esquerda Livres e Iguais (LeU).
Já o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, presidente do partido conservador Força Itália (FI), telefonou para Mattarella de um hospital em Milão e declarou apoio à sua reeleição.
Com 80 anos de idade, o atual chefe de Estado está no cargo desde 2015 e encerraria seu mandato no próximo dia 3 de fevereiro. Ao longo dos últimos meses, Mattarella deu vários sinais de que não queria ser reeleito, mas ele se mostrou o único nome capaz de manter unida uma coalizão tão heterogênea.
A direita tentou eleger a presidente do Senado, Elisabetta Casellati, na última sexta-feira (28), mas sua votação (382 votos de um total de 1.009) ficou aquém do esperado. Já a esquerda e o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) preferiram aguardar para buscar uma solução que englobasse toda a base aliada.
Havia o temor de que a eventual eleição de um candidato sem uma maioria ampla provocasse a ruptura da coalizão que sustenta Draghi, o que poderia jogar a Itália em uma nova crise política em pleno início de retomada econômica.
“O objetivo era enfrentar essa etapa complexa garantindo a estabilidade do Executivo, e nós alcançamos esse resultado”, disse o ex-premiê e líder do M5S, Giuseppe Conte.
A reeleição de Mattarella deve ser sacramentada em uma votação na tarde deste sábado, mas, antes disso, os líderes dos partidos da situação vão ao Palácio do Quirinale, sede da Presidência, para informá-lo sobre o acordo.
Para ser reeleito, o presidente precisará obter pelo menos 505 votos no colégio eleitoral, que é formado por 630 deputados, 321 senadores e 58 delegados regionais.
No entanto, o mandatário já obteve 387 votos no sétimo escrutínio, na manhã deste sábado, mesmo sem ainda ter o apoio formal de nenhum partido.
Precedente único
Em 75 anos de República na Itália, apenas um presidente foi reeleito, Giorgio Napolitano, em 2013, e ele renunciaria cerca de 20 meses depois, abrindo espaço para Mattarella.
O atual chefe de Estado sempre foi contra a sua reeleição por acreditar que isso estabeleceria de vez um precedente perigoso para um cargo de mandato tão longo.
Mattarella chegou até a alugar um apartamento em Roma para o pós-Presidência e a despachar parte de suas coisas para Palermo, sua cidade natal.
Apesar de ter um papel mais institucional do que político, o presidente está longe de ser uma figura meramente cerimonial e tem poder para influenciar os rumos do país, nomeando premiês, barrando indicações de ministros e até cobrando a aprovação de leis do interesse da nação.
O próprio Mattarella é exemplo da importância que um chefe de Estado pode ganhar em momentos delicados.
Em 2018, os partidos populistas M5S e Liga saíram vencedores das eleições e tentaram indicar um professor abertamente antieuro, Paolo Savona, como ministro da Economia, mas o presidente, um defensor da integração europeia, se negou a empossá-lo para não alimentar o euroceticismo na Itália.
O mandatário chegou a ser ameaçado de impeachment e acusado de “alta traição”, mas não recuou e conseguiu fazer M5S e Liga indicarem outro ministro – hoje os dois partidos são favoráveis à sua reeleição.
Já no início de 2021, após a queda de Giuseppe Conte, o mandatário convocou o ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi para formar um governo e colocar fim a uma crise política que ameaçava levar o país a eleições antecipadas.
Com o apoio de Mattarella, Draghi conseguiu costurar uma coalizão de união nacional que vai da esquerda à extrema direita e chegou a ser cotado para substituir o atual presidente, mas viu suas chances diminuírem pela dificuldade de se encontrar um novo primeiro-ministro para governar até o fim da legislatura, em 2023.
Segundo informações de bastidores, o próprio Draghi teria feito um apelo para Mattarella continuar no Palácio do Quirinale “pelo bem e a estabilidade do país”.
Ansa