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Como a Itália transformou Kobe Bryant em uma estrela

Kobe Bryant passou sete anos na Itália, onde iniciou sua trajetória como astro do basquetebol

Período na Itália foi fundamental na carreira de Kobe Bryant
Período na Itália foi fundamental na carreira de Kobe Bryant | AP

Kobe Bryant, o astro do basquetebol norte-americano, que jogou durante toda sua carreira como ala-armador no Los Angeles Lakers, tem uma ligação com a Itália que muita gente não sabe, e que vem de sua infância.

A história foi contada em matéria publicada pelo jornal New York Post em janeiro deste ano. O texto, assinado pelo jornalista Gavin Newshaw, descreve como o fato de Kobe Bryant ter morado na Itália por sete anos quando criança o ajudou a se tornar uma grande estrela da NBA.

Tudo começou em 1984, quando seu pai, Joe “Jellybean” Bryant, ex-ala de times como Philadelphia 76ers, San Diego Clippers e Houston Rockets, aceitou um convite para jogar no Sebastiani Rieti, time com sede na cidade de Rieti, no topo da colina, distante cerca de 80 quilômetros de Roma.

Assim, depois de oito anos atuando na NBA, Joe foi para a Itália com sua família para morar em um chalé com jardim e uma BMW na garagem, ofertas do time italiano. No quintal, havia uma cesta de basquete, para que o jovem Kobe pudesse começar a dar seus primeiros passos no esporte.

Kobe Bryant começou a jogar em times de base ainda Itália

Choque cultural

A mudança foi um choque para o jovem Kobe, que tinha 6 anos e deixou sua casa em Houston, Texas, junto com sua mãe, Pam, e suas irmãs mais velhas, Sharia e Shaya.

“A primeira vez que ligamos a TV, havia um desenho italiano. Eles tinham o mesmo desenho animado na América. Era exatamente o mesmo desenho animado, mas tinha apenas palavras em italiano. Foi estranho, cara. Estávamos viajando”, disse.

No entanto, esses primeiros dias na Itália ajudaram a forjar seu futuro como um superstar, conforme descreve Mike Sielski no livro “The Rise – Kobe Bryant and the Pursuit of Immortality”, lançado nos Estados Unidos em janeiro.

As entrevistas de Sielski com mais de 100 pessoas que conheciam Kobe, assim como transcrições de entrevistas antigas com Kobe Bryant, algumas gravadas quando era adolescente, revelam “a essência do homem antes de realmente se tornar um homem”, segundo o autor do livro.

Joe e Kobe Bryant

Kobe Bryant, um garoto esperto

Aos domingos, Kobe Bryant assistia o pai jogar em seu novo time italiano, muitas vezes ajudando a limpar o suor da quadra nos intervalos. Garoto esperto, fechou seu primeiro contrato de patrocínio com o dono do segundo clube de Joe na Itália, o Olimpia Pistoia, para usar um moletom com a marca de sua empresa quando limpasse – desde que lhe comprassem uma bicicleta vermelha.

Nos intervalos em que limpava a quadra, muitas vezes ele pegava uma bola de basquete e deslumbrava a multidão com seu próprio “Kobe Show”, deixando a quadra apenas quando os oficiais do jogo o expulsavam.

“Ele imitava o que acabara de assistir, driblando entre as pernas, praticando seu jumper, arremessando de longe, uma versão em miniatura de Joe. A multidão da arena ficava parada e olhava, e isso nunca incomodou o garoto”, escreve Sielski.

Kobe Bryant foi homenageado na Itália no primeiro aniversário de sua morte | Roberto Brancolini/IPA/Shutterstock

Unidade familiar

Matriculados em uma nova escola, Kobe Bryant e suas irmãs mais velhas aprenderam a falar italiano fluentemente poucos meses depois de se mudarem. E, como uma família negra vivendo na Europa, os Bryant eram considerados “curiosidades e celebridades”, escreve Sielski. Sempre que eles viajavam para a cidade, estranhos compravam café para eles, segundo Kobe.

De acordo com Sielski, a família Bryant também desenvolveu laços mais profundos, tornando-se uma unidade muito mais forte com sua mãe, Pam, a verdadeira líder da família.

Foi também na Itália que Joe percebeu o verdadeiro valor da família, diz o autor, depois que um escândalo do passado quase destruiu seu casamento e sua carreira.

Em 1976, Joe Bryant estava jogando pelo Sixers quando foi pego em um carro estacionado com uma antiga namorada, Linda Salter, 21, na área de Fairmount Park West, na Filadélfia. Quando a polícia pediu sua licença, ele acelerou e colidiu com uma placa de trânsito antes de bater em outros dois carros e em uma parede. Ao revistar o carro, os policiais encontraram dois sacos plásticos, ambos contendo cocaína.

Ele foi acusado de resistir à prisão, condução imprudente e posse de drogas. Mais tarde foi absolvido de todas as acusações pelo juiz, que decidiu que a busca no veículo era ilegal. Enquanto isso, Pam ficou ao lado de Joe.

“Ela era uma mulher forte, negra, católica, e o casal ficou junto. Fim da explicação”, escreve Sielski.

Joe e Kobe Bryant, pai e filho unidos pelo basquete

Revelação

De volta à Itália, a vida foi uma revelação para Joe. Havia acabado a fase de voos intermináveis ​​e noites passadas em hotéis longe de casa. Agora, ele podia jogar uma vez por semana e sempre voltava para casa depois.

“Tornei-me um homem de família”, disse ele ao The New York Times em 1985. “Nos Estados Unidos, eu era mais um homem viajante”.

Logo Kobe Bryant foi recrutado para jogar pelas equipes juniores do clube de seu pai, muitas vezes jogando contra meninos dois ou três anos mais velhos. E Joe geralmente estava lá para ver seu filho florescer durante os sete anos em que viveram no país.

“Ele marcou os primeiros dez pontos em seu primeiro jogo. Os outros nove jogadores começaram a chorar e seus pais começaram a gritar para que tirassem esse escurinho mimado da quadra”, escreve Sielski.

Kobe também forjou sua famosa ética de trabalho implacável na Itália. Ele não apenas ia para a academia às 6 da manhã quando o resto de sua equipe aparecia às 9, como muitas vezes jogou contundido. Em uma ocasião, com sua mão direita dominante machucada, Kobe pegou a bola com sua esquerda mais fraca e ainda fez uma cesta de três pontos, conta Sielski.

Kobe Bryant abraça o ídolo brasileiro do basquete, Oscar Schimidt

Kobe Bryant e família retornam

Em 1992, Joe Bryant se aposentou do basquete. A família voltou para os Estados Unidos quando Kobe tinha 13 anos, e se estabeleceu em Lower Merion, no condado de Montgomery, Filadélfia.

Uma das principais razões para retornar à Filadélfia era que Joe não queria que seus filhos esquecessem como falar inglês. Mas Kobe lutou para se reajustar. Ele não conhecia nenhuma das novas gírias que as crianças estavam usando e não tinha as referências culturais compartilhadas na TV ou na música para ajudá-lo a se envolver com outros adolescentes.

Até as roupas trazidas da Itália o tornaram alvo de gozações. Na foto do time de beisebol da escola, por exemplo, há 18 alunos, todos vestindo uniformes de beisebol com luvas na mão – exceto um. De pé na extrema direita está Kobe Bryant, em um casaco quente e um suéter multicolorido sobre uma camisa branca abotoada até o topo.

Ainda assim, a experiência no exterior moldou Kobe para melhor. “Ao crescer na Itália, aprendi a jogar basquete da maneira certa, aprendendo os fundamentos primeiro”, diria Kobe mais tarde.

Kobe jogou durante toda a carreira profissional no Los Angeles Lakes

Nasce o astro

No Lower Merion HS, Kobe liderou o time de basquete da escola, o Aces, rumo ao seu primeiro campeonato estadual em 53 anos. Depois disso, teve sua escolha de faculdades. Mas, aos 17 anos, decidiu ir direto do ensino médio para a NBA, tornando-se apenas o sexto jogador na história da liga a fazer isso. Seus pais assinaram seu contrato de três anos e US$ 3,5 milhões com o Los Angeles Lakers, já que ele ainda não tinha idade para assinar sozinho.

Seguiu-se uma carreira de 20 anos com os Lakers, rendendo-lhe mais de US$ 320 milhões apenas em salários. Kobe Bryant ganhou cinco campeonatos da NBA e foi 18 vezes All-Star (perdendo apenas para os 19 de Kareem Abdul-Jabbar). Ele também foi o primeiro jogador na história da NBA a marcar pelo menos 30.000 pontos e fazer 6.000 assistências na carreira, e ganhou duas medalhas de ouro olímpicas com o time de basquete dos EUA.

Em 2001, aos 21 anos, casou-se com Vanessa Laine, 18, e o casal teve quatro filhas – mas sua vida pessoal não ficou livre de problemas. Embora tenha aprendido a importância da família com seu pai, ele também se viu envolvido em um escândalo quando, em 2003, foi preso por agredir sexualmente uma mulher de 19 anos. O caso foi resolvido fora do tribunal. Como Pamela Cox Bryant em 1976, Vanessa Bryant apoiou seu marido.

Kobe e a filha, Gianna, vítimas de acidente aéreo em 2020

Tragédia tira vida de Kobe Bryant

Então, em 26 de janeiro de 2020, veio a tragédia.

Kobe Bryant, sua filha Gianna e outras sete pessoas morreram quando seu helicóptero caiu em Calabasas, Califórnia. Kobe tinha 41 anos e Gianna apenas 13. Assim como Joe havia treinado o jovem Kobe, Kobe também estava treinando a garota, que eles chamavam de “Gigi”.

Quando jogava na Itália na década de 1980, Joe contou uma vez a um companheiro de equipe sobre uma profecia feita por sua avó. Ela disse que “apareceria alguém que mudaria toda estrutura e direção da família, que realizaria grandes coisas e permitiria que os membros da família vivessem novas vidas”, escreve Sielski.

“Eu sei que não sou eu”, disse Joe Bryant, antes de apontar para o filho. “Mas pode ser ele”.

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