O italiano Angelo Del Vecchio chegou ao Brasil e começou a fabricar instrumentos musicais. Mais de 100 anos depois, seus produtos são referência no país.
Tudo começou no final do século 19, mais precisamente no ano de 1.900, quando o italiano Angelo Del Vecchio, nascido na cidade de Riposto, na região da Sicília, recebeu como presente de casamento uma viagem ao Brasil.
Como sua esposa Carmela Messina já tinha dois irmãos que trabalhavam em São Paulo, foi na capital paulista que o casal veio passear. No entanto, o que era para ser uma viagem de férias acabou se tornando uma virada em suas vidas, pois o casal se apaixonou pelo Brasil e resolveu ficar.
O luthier Del Vecchio
Como Angelo já exercia a profissão de luthier na Itália, fabricando bandolins, ele resolveu seguir atuando na mesma área em seu novo país. Para isso, abriu uma pequena fábrica e loja de instrumentos musicais no antigo Largo Riachuelo, hoje Praça da Bandeira, em São Paulo, no ano de 1902.
Após 18 anos, em 1920, a empresa acabou se mudando para a Rua Aurora, no bairro de Santa Ifigênia, onde as condições melhores de trabalho fizeram aumentar a qualidade e quantidade dos produtos fabricados. A partir dessa fase, Angelo Del Vecchio inventou uma série de modelos de violões, que foram patenteados, incluindo o modelo batizado de “Violão Dinâmico”.
O “Violão Dinâmico” foi criado por Del Vecchio em 1930, e tem como uma de suas principais características o maior volume sonoro, devido à colocação de cones de alumínio no centro do corpo. Esses violões são fabricados até hoje pela empresa, sob encomenda.
Tradição italiana
Vale lembrar que, naquelas primeiras décadas do século 20, os pioneiros na fabricação de violões no Brasil, além de Angelo Del Vecchio, eram os luthiers Tranquillo Giannini e Romeo Di Giorgio, também imigrantes italianos radicados na cidade de São Paulo.
Em 1948, a empresa passou a ser dirigida pela segunda geração da família, ou seja, pelos filhos de Angelo, e passou a se chamar Irmãos Del Vecchio. Enquanto Francisco Del Vecchio cuidava da parte administrativa, seu irmão Salvador Del Vecchio ficava a cargo da parte técnica de fabricação.
Salvador foi responsável pela criação de novos sistemas e estruturas, que deram origem a novos modelos de violões, como os chamados “Timbre Vox”, “Super Vox” e “Nylon Vox”. Em 1968, com a inclusão nos negócios do neto Angelo Sergio Del Vecchio, filho de Francisco e Lidia Del Vecchio, a empresa passou a se chamar Casa Del Vecchio.
Del Vecchio internacional
A partir daquele momento, a empresa começou a ficar conhecida em todo o território nacional e até mesmo fora do país, devido ao esforço da família em divulgar a qualidade de seus produtos. Na década de 1970, a empresa estendeu seu atendimento, passando a comercializar outros instrumentos musicais, como sopro, teclado e percussão, entre outros.
A partir de 1980, quando a gestão de Angelo Sergio Del Vecchio realmente tomou impulso, os negócios ampliaram ainda mais e a marca se consolidou como uma das mais importantes no ramo de fabricação e distribuição de instrumentos de corda no país. Sendo assim, a empresa passou a funcionar em outro endereço, quando uma nova fábrica foi instalada no bairro da Lapa, próximo à ponte do Piqueri.
No ano de 2000, a Casa Del Vecchio comemorou seus 100 anos de existência, tradição e sua consolidação como um marco histórico na indústria da cidade de São Paulo. Foi nessa época que a empresa lançou o slogan “Por que um século de som não pode passar em silêncio”.
A força da tradição
Nas últimas décadas até hoje, a Casa Del Vecchio segue sendo uma reserva de tradição em meio ao mercado de instrumentos musicais no Brasil, que nos dias atuais é quase inteiramente dominado por instrumentos importados, principalmente da China.
A loja continua funcionando no mesmo endereço, na Rua Aurora, na Santa Ifigênia, há mais de 100 anos, e fabrica uma linha de instrumentos musicais diferenciados, que inclui violões, violas, banjos, cavacos, bandolins, violões dinâmicos e guitarras havaianas. São modelos para profissionais, estudantes e instrumentistas de nível intermediário.
Essa tradição só poderia ser mantida por uma família de imigrantes italianos, que fizeram questão de seguir trabalhando ao longo das décadas para fabricar os melhores produtos. Com isso, acabaram fazendo seu nome no mundo a partir do Brasil e deixaram para sempre sua marca nas vidas de várias gerações de amantes da música.
Por Roberto Schiavon/Italianismo