“Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. O provérbio retrata bem a contradição de Elly Schlein, a primeira mulher a liderar o centro-esquerda na Itália. Ela foi eleita a nova secretária do Partido Democrático (PD) no último domingo (26/02).
Elly, defensora de uma reforma imediata na lei da cidadania italiana, possui três nacionalidades: italiana, americana e suíça.
De pai americano e mãe italiana, nascida em Lugano, na Suíça, Elly estudou direito em Bolonha e foi eleita para o Parlamento Europeu pelo Partido Democrático em 2014, rompendo com a sigla no ano seguinte.
Antes, foi voluntária nos EUA nas duas campanhas presidenciais de Barack Obama. Bissexual declarada, após a experiência como parlamentar em Bruxelas enveredou na política nacional.
Mais votada nominalmente na eleição para a Assembleia da Emília Romanha, foi depois convidada para ser a vice-governadora na chapa do mesmo PD com o qual rompera.
Conflito de interesses
Para Alexandro Maria Tirelli, presidente do partido “Liberdade, Justiça, República”, trata-se de “condição de clara incompatibilidade” as três nacionalidades da “nova estrela da esquerda italiana”. Alegando suposto “conflito de interesses”, o advogado aconselhou a deputada renunciar aos passaportes americano e suíço.
De acordo com Tirelli, Schlein “não pode se envolver em política de alto nível na Itália com seus passaportes dos EUA e da Suíça no bolso”, segundo artigo do Il Giornale.
“Caso venha a ocupar cargos institucionais um dia, o que vai acontecer?”, perguntou o advogado em nota. “Na verdade, os Estados Unidos e a Suíça são duas nações que não fazem parte da União Europeia, com seus próprios interesses e visões políticas que não precisam necessariamente coincidir com as da Itália. Como Schlein reagirá quando tiver que lidar com dossiês envolvendo EUA ou Suíça?”, continuou Tirelli em comunicado. Ainda é: “Quem Schlein vai ouvir considerando que ela tem cidadania italiana, americana e suíça?”.
PD sonha com a reforma na Lei
O Partido Democrático(PD) tem defendido uma reforma na lei da cidadania italiana. A proposta tem gerado debate e controvérsia no país, já que a lei atual é vista pelos partidos aliados como muito restritiva e difícil de ser acessada por estrangeiros que desejam se tornar cidadãos italianos.
A atual lei da cidadania italiana foi estabelecida em 1992 e exige que os estrangeiros que desejam se tornar cidadãos italianos tenham residido legalmente no país por pelo menos 10 anos, entre outros requisitos. No entanto, a lei também permite que os descendentes de italianos que emigraram para outros países possam obter a cidadania italiana por meio do chamado “iure sanguinis” (direito de sangue).
No entanto, muitos estrangeiros que vivem na Itália há anos, contribuindo para a sociedade e pagando impostos, não conseguem obter a cidadania italiana devido às restrições da lei atual. Isso tem gerado críticas e protestos por parte de grupos de imigrantes e defensores dos direitos dos estrangeiros.
Diante desse cenário, o PD tem defendido uma reforma na lei da cidadania italiana para torná-la mais inclusiva e justa. A proposta do partido inclui a redução do tempo mínimo de residência exigido para obter a cidadania italiana, além de outras medidas para facilitar o processo de naturalização. E claro, impor limites geracionais para requisição da cidadania via ascendente, extinguindo assim o chamado “iure sanguinis“.