Bem posicionada para se tornar a primeira mulher à frente do Governo de Itália, tem na filha “o ponto fraco”. Nascida num bairro pobre e operário de Roma, trabalhou numa discoteca que lhe abriu portas para o Parlamento. Aos 45, é vista como uma líder carismática.
“Ela é muito carismática, sincera e não cria ilusões.” É assim que Carlos Morelli, um ex-eleitor de esquerda, agora do lado dos Fratelli d’Italia, descreve Giorgia Meloni.
O partido por ela formado lidera as pesquisas com 23% das intenções de voto nas eleições antecipadas de 25 de setembro, após a dissolução do Parlamento italiano após a demissão do primeiro-ministro, Mario Draghi.
Ombro a ombro com o Partido Democrático (22%) de centro-esquerda, a extrema-direita aponta à vitória sob o comando de Meloni.
Nascida em 1977, em Garbatella, Roma, começou cedo a preparar terreno como presidente da ala juvenil da Aliança Nacional, partido que surgiu do Movimento Social Italiano (MSI).
Entrou para o Parlamento muito jovem e, aos 31 anos, conquistou o cargo de ministra da Juventude, que ocupou entre 2008 e 2011, no último governo de Silvio Berlusconi.
Um currículo que faz dela, como sublinhou Elisabetta de Giorgi, professora de Ciência Política da Universidade de Trieste, “uma política de profissão” e “uma mulher líder de um partido de direita radical”.
Admiradora de Mussolini – afirmando uma “relação tranquila com o fascismo” quando se estreou no Parlamento – é conhecida pela linguagem direta e eficaz desde os tempos de líder estudantil.
Com “fogo nas ventas”, como a imprensa internacional a caracteriza, não tem meias-palavras. Se for eleita, será a primeira mulher a chegar ao cargo de primeira-ministra.
Membro da Câmara dos Deputados desde 2006, Giorgia nunca poupou críticas ao Governo de unidade nacional liderado pelo economista Draghi, que agora se demitiu.
A sua oposição no último ano e meio acabou por favorecê-la, no meio do descontentamento do povo italiano face à inflação, à guerra na Ucrânia e às restrições impostas pela pandemia.
Oriunda de um bairro operário pobre, Giorgia trabalhou como babysitter, atendente de café e bartender numa discoteca, em busca da emancipação, até porque o pai abandonou a família, quando ela tinha apenas 12 anos. Na noite, conheceu muitas pessoas ligadas à política que a recomendaram a Berlusconi. O poder da oratória venceu, também por conta da formação e experiência como jornalista profissional desde 2006.
O partido Fratelli d’Italia, nome tirado do hino italiano, que se traduz como Irmãos de Itália, foi criado por Meloni, Guido Crosetto e Ignazio La Russa em 2011, com uma visão radical contra a imigração e defendendo os valores cristãos da Europa.
Presidente desde 2014, nos comícios tem por hábito gritar “Deus, pátria e família”. A par dos polacos do Lei Justiça e dos espanhóis do Voz, Giorgia é presidente do Partido Conservador e Reformista Europeu.
Em 2016, viu nascer Ginevra, a filha, fruto da relação com o jornalista Andrea Giambruno, da Mediaset.
A menina é o “ponto fraco” de Meloni, que já lamentou não ser tão presente como gostaria. “Acho que qualquer mãe que trabalha se sente culpada pelos seus filhos”, confessou no canal de televisão Rai 1.
A ligação com Ginevra é versada na sua autobiografia “Io sono Giorgia. Le mie radici, le mie idee” (Eu sou Giorgia. As minhas raízes, as minhas ideias – tradução livre, sem edição em português).
Na obra explica ainda a importância da defesa da família, da pátria e da identidade religiosa e sexual. Conclui com a frase “sou Giorgia. Sou mulher, sou mãe, sou italiana, sou cristã. Não me vão tirar isso”, frase que tantas vezes usa para abrir os seus discursos.
Convidada pelo Vox, a pretexto das eleições na região espanhola da Andaluzia, Giorgia Meloni declarou, em Marbella, “não ao lobby LGBG, não à ideologia de gênero, sim à universidade da cruz”. Mais tarde, justificou-se: “Quando estou muito cansada, acontece que não consigo modular um tom apaixonado que não seja agressivo”.
As suas posições aproximam-na da líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, se bem que esta seja a favor dos direitos clássicos para homossexuais e Giorgia já se manifestou contra o casamento gay.
Nas redes sociais, disse ainda que “a ideologia de gênero visa desestabilizar os mais jovens”.
O escritor e ator italiano Moni Ovadia, famosa personalidade antifascista, reconhece as “capacidades” de Meloni, e admite temer que os muitos movimentos e formações de extrema-direita que historicamente a apoiaram sejam legitimados caso venha a ser eleita.
Faltam menos de dois meses e Giorgia mostra-se firme na defesa das suas convicções em público ou no universo digital, onde também exerce influência, diz o Notícias Magazine.