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Egízio Cini: italiano criou refrigerante que segue fazendo sucesso

O italiano migrou para o Brasil em 1890. Aqui ele fundou um jornal, uma cervejaria e lançou a semente dos refrigerantes Cini.

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Ezígio Cini: italiano criou refrigerante que segue fazendo sucesso

O italiano Egízio Cini migrou para o Brasil em 1890. Aqui ele fundou um jornal libertário, abriu uma cervejaria e lançou a semente dos refrigerantes Cini.

Essa aventura começou quando Egízio resolveu sair da região do Vêneto, na Itália, onde nasceu, para vir ao Brasil, assim como fizeram milhares de imigrantes italianos na mesma época, em busca de melhores condições de trabalho.

Chegando ao Brasil, ele foi morar na Colônia Cecília, famosa experiência anarquista instalada em Palmeira, região dos Campos Gerais, no estado do Paraná.

Na colônia, Egízio Cini casou-se com Aldina Benedetti, de uma família pioneira. Ele e Aldina construíram um moinho de fubá e tiveram filhos. O primogênito foi Hugo Cini, nascido em 1º de outubro de 1891.

Empresa iniciou em São José dos Pinhais

Receita que viraria símbolo de uma região

Foi na Colônia Cecília também que surgiu a receita da famosa gengibirra, produzida em casa por Egízio Cini e sua família, para ser bebida aos finais de semana.

A bebida era uma mistura de água, açúcar e gengibre. Apesar do nome, uma junção de gengibre e birra (cerveja em italiano), não era alcoólica, mas tinha esse nome por ser fermentada.

Egízio Cini era considerado um intelectual, que defendia seus ideais, por meio de um jornal fundado em 1899, em Curitiba, que era dirigido por ele, o II Diritto Libertário.

O jornal era inclinado à divulgação anarquista e inclusive estampava o subtítulo Periódico comunista – anarchico. Com a Proclamação da República, veio a dívida colonial e a Colônia Cecília entrou em decadência.

Mudança e sociedade em cervejaria

Em 1904, Egízio Cini e sua família foram morar em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Ali resolveu fundar, no mesmo ano, a Cervejaria Esperança, em sociedade com Carlos Chelli.

Era uma pequena empresa de bebidas alcoólicas, como Fernet, e duas cervejas – uma clara e outra escura, chamada Águia. A cerveja Águia era artesanal, e o processo de fabricação incluía a fermentação na própria garrafa.

Antiga marca da família Cini

Na década de 1920, Egízio Cini morreu. Assim, sua esposa Aldina e o filho Hugo, que comprou a parte de Carlos Chelli, assumiram os negócios. A empresa foi rebatizada de Hugo Cini e Cia. E foi o primogênito Hugo quem levou a fórmula do refrigerante gengibirra para a fábrica. 

Na época, a empresa tinha uma máquina manual movida a pedal, um tanque para lavagem das garrafas e tonéis de carvalho para a cerveja. A fermentação levava de 25 a 30 dias e a matéria-prima vinha da Tchecoslováquia, em caixas lacradas com zinco.

Tudo começou com as cervejas

Capital do Estado e especialização em refrigerantes

A fábrica era em São José dos Pinhais e um depósito foi construído em Curitiba. Em 4 de março de 1928, o depósito em Curitiba foi transformado em fábrica, com suas instalações ampliadas significativamente.

Em 1945, a empresa foi transformada em Hugo Cini e Filhos Ltda., com participação da esposa de Hugo Cini, Amélia Gobbo Cini, e de seus filhos Carlos Egízio, Carolina Isolina, Aldina, Orlando, Espérdie, Nilo e Ginete.

Variedade de sabores é um diferencial

As vendas eram feitas em carroças carregadas com cerca de 60 dúzias, levando capilé, aguardente, gasosa e cerveja. Como o processo para fabricação de cervejas era muito caro, a fábrica parou de produzi-las na Segunda Guerra Mundial. Na década de 40, a Cini já fabricava a colinha, refrigerante de 190 ml, com sabor maltado.

Em maio de 1963 a Cini foi transformada em Sociedade Anônima, sob a designação de Hugo Cini S.A. – Indústria de Bebidas e Conexos.

Rótulo raro da Cervejaria Esperança

Na década de 60, mesmo com uma promoção com o refrigerante colinha, que oferecia prêmios dentro da tampinha de cortiça, a fábrica parou de produzir o produto, devido à grande concorrência da Coca-Cola.

As gasosas, porém, haviam conquistado o mercado do Paraná e Santa Catarina, em especial a gengibirra. Nos anos seguintes, a Cini foi conquistando o mercado: comprou a marca Wimi, tradicional refrigerante de laranja e foi modernizando o maquinário.

Bebidas Cini passa por transição, mas segue na família

No início dos anos 70 o empresário Hugo Cini morreu e o comando da empresa ficou a cargo dos filhos Orlando e Nilo. Na década de 80, o grupo passou por um processo de transição, assim como muitas outras empresas familiares.

Em 1996, a sede da indústria em Curitiba mudou para o município de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, onde passou a dispor de uma área de 10.000 m², sendo 6.000 m² de área construída.

No dia 17 de março de 2003, aos 84 anos, morreu o industrial Orlando Cini, neto do imigrante Egízio Cini.

Nilo Cini Júnior representa a quarta geração

Em março de 2004, a indústria comemorou 100 anos de fundação, passando a oferecer novas linhas de produtos, além das bebidas gasosas, como o chá mate e as bebidas prontas de sucos de frutas.

Em 2006, o grupo retornou às raízes, em São José dos Pinhais. Atualmente a Cini é comandada por dois grupos de acionistas, herdeiros dos irmãos Orlando e Nilo Cini e já está na quarta geração, com Nilo Cini Junior, membro do Comitê de Acionistas da Cini Bebidas.

A força da herança de Egízio Cini

Os refrigerantes da empresa têm grande participação nos estados de Santa Catarina e Paraná, sendo a segunda marca mais vendida em Curitiba.

Um dos produtos mais vendidos é a bebida gengibirra, criada por Egízio na Colônia Cecília. Sua receita foi passada de geração em geração e virou um refrigerante da empresa da família. Finalmente, em 2019, a gengibirra foi tombada como patrimônio cultural imaterial de Palmeira e virou símbolo do Estado do Paraná.

Gengibirra: refrigerante preferido dos paranaenses

A Cini Bebidas produz mais de 5 milhões de litros de gengibirra por ano. A produção só não é maior por causa da sazonalidade do gengibre. Para chegar na bebida, a Cini processa quase 20 toneladas de gengibre por ano. 

Tudo isso é herança do esforço do italiano Egízio, que resolveu ainda lá em Vêneto buscar uma nova vida no Brasil e, com muito trabalho, viu sua família dar tantos frutos por tantos anos.

Por Roberto Schiavon/Italianismo

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