É normal os turistas chegarem a Coumboscuro e questionarem se estão de fato em Itália. A beleza rústica do país mantém-se na pitoresca cidade, mas a confusão surge quando os locais começam a falar — o idioma mais frequente não é o italiano, mas sim o provençal, um dialeto do idioma occitano falado na Provença e na metade oriental de Gard, no sudeste de França.
Localizada perto da fronteira entre a região do Piemonte e a França, chegar até lá não é uma tarefa fácil. Para conseguir visitar a aldeia, precisará desembarcar em Turim, depois pegar um trem e um ônibus, ou pode chegar em Provença e deslocar-se de carro.
Cerca de 30 pessoas vivem atualmente em Sancto Lucio de Coumboscuro, e o quotidiano é atravessado por várias dificuldades. Quando não estão com falhas constantes de energia durante o inverno, os moradores defendem as ovelhas dos lobos que as tentam comer. Além disso, não é um local ideal para influencers, visto que Internet é fraca (ou quase não pega).
No entanto, o ambiente pacato — que se junta às paisagens roxas dos campos de lavanda e aos picos alpinos montanhosos que se estendem até à Côte d’Azur — é perfeito para quem sonha afastar-se do agito do dia a dia urbano.
Esqueça os agitos em bares e restaurantes, ou as compras nos supermercados. As únicas alturas em que a aldeia ganha vida é quando os locais se juntam para eventos folclóricos que foram passando de geração em geração, como a “caça” aos cogumelos.
“Não temos uma televisão. Você não sente falta daquilo que nunca teve, em primeiro lugar. Quando falta luz por quinze dias seguidos, não há motivo para entrar em pânico. Nós desenterramos as lamparinas a óleo dos nossos avós”, contou ao veículo Agnes Garrone, pastora e dona da La Meiro di Choco, uma fazenda que também é a única pousada da cidade.
“Estou acostumada a acordar ao amanhecer para cuidar das ovelhas. Trabalho 365 dias por ano, zero férias. Não conheço Natal ou véspera de Ano-Novo, porque durante as festas meus rebanhos precisam ser alimentados e cuidados. É uma vida de sacrifícios, mas é tão recompensadora quando você vê o nascimento de um cordeiro”, conta.
Esta frase da jovem de 25 anos mostra uma diferença cultural enorme entre este território e grande parte da Europa que conhecemos. Enquanto que, atualmente, a felicidade se resume a um novo celular ou carro, em Coumboscuro está ligada às coisas mais naturais da vida, como o nascimento de um animal que acaba por se juntar a pouco mais de 30 pessoas que ali habitam em harmonia.
A área onde se encontra Coumboscuro já pertenceu tanto à França quanto à Itália diversas vezes ao longo da história, o que fez com que seus habitantes desenvolvessem uma identidade única, não inteiramente francesa ou italiana. Seu artesanato e os hábitos culinários — entre eles, a fabricação local de cidra — estão entre os traços que mantêm vivos não só o turismo como o imaginário local.
Uma lenda local diz que alguns nativos de Coumboscuros podem curar ossos quebrados e torções no tornozelo. Parte saborosa desta herança são os pratos como “La Mato” ou “o louco“, que mistura arroz, temperos, alho-poró e batatas defumadas; ou o Dandeirols, uma espécie de macarrão caseiro servido com creme branco e nozes.
O calendário das festividades na cidade é disponibilizado na página de seu Centro Cultural, no coumboscuro.org.