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Antonio Domenico Salton, o patriarca da vinícola sulista

Imigrante italiano superou trauma na chegada ao Brasil e construiu família que iniciou império vinícola no sul do país

salton
Antonio Domenico Salton, o patriarca da vinícola sulista. No destaque da montagem, Antonio (Nini) Salton

O italiano Antonio Domenico Salton chegou ao Brasil no século 19 e fez história. Seu nome é sinônimo de uma das principais vinícolas do país.

Ele partiu da cidade italiana de Cison Di Valmarino (onde nasceu em 15 de julho de 1839), que fica na província de Treviso, região do Vêneto, na Itália, no ano de 1878, ao lado da esposa Rosa Isoton, do pequeno filho João Francisco e da filha recém-nascida.

A família veio para se instalar na então Colônia Dona Isabel, que viria a ser o município de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

Fundadores da Vinícola Salton: Paulo, Angelo, João, José, Cesar, Luis e Antonio Salton | Fotos: Acervo Vinícola Salton

Acontece que, chegando ao Porto de Santos, um trágico acontecimento acabou alterando profundamente o destino da família Santon. A filha recém-nascida do casal foi roubada. O incidente viria causar enorme tristeza na família e culminaria na morte de Rosa, resultado de profunda depressão.

Alguns anos depois, Antonio Domenico acaba se casando com Lucia Canei e dessa união nascem os filhos Rosa, Marieta, Paulo, Luis, José, Ana, Angelo, Zenaide, Antonio e Cesar.

Para garantir o sustento da numerosa família, o imigrante italiano Antonio Domenico Salton instala uma Casa Di Pasto, espécie de refeitório que abrigava viajantes, em frente à Igreja da Matriz de Santo Antônio.

No terreno atrás da casa, havia algumas parreiras, que garantiam o vinho servido aos clientes, já que na época era costume os imigrantes fazerem informalmente o “vinho da casa”. Assim, a partir de 1893 a Casa Di Pasto já passava a fazer parte do circuito do comércio de Bento Gonçalves.

Fundação oficial da vinícola Salton

Após a morte de Antonio Domenico, seu filho mais velho, Paulo Salton, que era atuante na Funilaria Luigi Arioli, assumiu a Casa di Pasto do pai.

Sua primeira providência foi legalizar o estabelecimento que, em 25 de agosto de 1910, passou a se chamar Paulo Salton Armazéns Gerais. Essa seria, de fato, a data oficial da fundação da Vinícola Salton.

Instalações da Paulo Salton & Irmãos, que mais tarde se tornou a Vinícola Salton

A partir de 1922 os irmãos decidem aderir ao negócio e ampliam a oferta para além das fronteiras gaúchas.

Em 1925, os irmãos José e Cesar Salton vão para São Paulo visando comercializar produtos da Serra Gaúcha, que não eram somente os vinhos. Até 1940, os irmãos abatiam porcos para produção de salames e também produziam queijos.

Desde a metade da década de 1920, a empresa Salton & Irmãos já era classificada como indústria de grande porte, com uma produção anual de 120 mil litros de vinho, 12 mil quilos de queijo e 150 mil quilos de salame.

Exposição dos produtos da Vinícola Salton

Na época, havia inclusive uma filial na Estrada Geral (Tuiuty-Bento Gonçalves), um representante comercial em São Paulo e uma serraria a vapor em Nova Prata-RS, além de um moinho para produção de farinha.

No ano de 1933, a empresa passa a fabricar espumantes, no processo champenoise (tradicional), com produção inicial de Brut e Meio Doce. Já em 1948, a Salton dá início ao projeto de uma unidade na capital paulista, inaugurada dois anos mais tarde.

Cesar Salton apresentando o Espumante Salton em 1933, em Porto Alegre

O nascimento do Vinho Canônico

Na década de 1940, a Salton iniciou a produção do Vinho Canônico, o tradicional vinho específico para missas, seguindo a receita do Vaticano.

 Cálice do Papa Bento XVI quando visitou o Brasil e tomou o vinho da vinícola Salton | Foto: Google / Andrei D Angelis

O número expressivo de padres estrangeiros em Bento Gonçalves motivou o religioso espanhol Franco, responsável pela Igreja Matriz de Santo Antônio, a atravessar a rua para conversar com Nini Salton, como era conhecido Antonio Salton, um dos fundadores da vinícola e primeiro enólogo da família.

A conversa resultou na elaboração de um vinho específico para as missas, elaborado nos mesmos moldes utilizados pela igreja europeia. 

A graduação alcoólica mais elevada e a grande concentração de açúcar desse tipo de vinho têm a função de conservar o produto por mais tempo, considerando o seu consumo lento, a cada missa. 

Atualmente o Vinho Canônico Salton atende às igrejas católicas de todo o país.

O futuro segue nas mãos da família

A vinícola encerrou o ano de 2019 com 36,8 milhões de garrafas vendidas e um crescimento de 17,5% no faturamento em relação ao ano anterior.

Os espumantes representam 41% de sua receita, seguidos dos destilados, com 24%, vinhos, com 22%, e não-alcoólicos, com 13%.

Sede da Vinícola Salton na cidade gaúcha de Bento Gonçalves | Foto: Halley Pacheco de Oliveira

Em 2020 a empresa comemorou 110 anos de história colecionando premiações internacionais e na condição de líder no mercado nacional de espumantes há 15 anos, além de número 1 entre as marcas de vinhos mais reconhecidas no Brasil (segundo a Wine Intelligence, pesquisa Global Wine Brand Power).

Somente em 2019 foram exportadas 800 mil garrafas para 25 países. Além dos Estados Unidos, a empresa vende seus produtos para a Ásia, Europa e Américas, além de mercados como Guiné, Nigéria e Angola.

E a direção da empresa segue na família. Em 2018, a presidência executiva foi transferida de Daniel Salton, membro da terceira geração da família de imigrantes italianos, para seu filho Maurício Salton.

O mesmo sangue e a mesma força de trabalho para superar adversidades da vida seguirá levando a empresa rumo ao que o futuro reserva.

Assista ao documentário: “Família Salton 110 anos: um legado como destino“:

Por Roberto Schiavon/Italianismo

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