Entre as mais de 16 mil vítimas da Covid-19 na Itália, ao menos 100 padres católicos, com idades entre 45 e 104 anos, morreram, segundo a agência de notícias italiana Adnkronos.
A quaresma católica (período de quarenta dias entre o Carnaval e a Páscoa) tem sido marcada por uma série de decretos de isolamento, cada vez mais duros. Por esse motivo, muitas vítimas não tiveram direito a funeral — uma mudança dramática para o país mais católico do mundo.
As igrejas em toda a Itália foram fechadas por um decreto do governo em 11 de março, o mesmo que começou a proibir as aglomerações.
Contaminados na extrema-unção
Para alguns padres, porém, mesmo durante a maior pandemia do século, é difícil negar a presença física em funerais e em hospitais para extrema-unção, considerado o último sacramento em vida dos católicos.
No ritual, também conhecido como unção dos enfermos, o sacerdote usa óleo na testa ou nas mãos do fiel e faz uma oração para perdoar o paciente dos pecados que tenha cometido em vida. A prática pode ter colocado essas dezenas de padres em risco.
“Eu não julgo quem foi contaminado ao dar extrema-unção”, diz o padre brasileiro Rafhael Maciel, de 41 anos, que vive em Roma desde 2017. “Quiseram ir até o fim, dar a vida deles pelo bem da salvação das almas, sendo desobedientes, sabendo que poderiam se contagiar”.
O padre paraense Nazareno Carvalho, que mora em Milão, uma das cidades da Itália mais castigadas pelo coronavírus, conhece colegas que ainda saem de casa para funerais privados e extrema-unção de doentes.
“Não foi irresponsabilidade dos padres que morreram, foi um martírio. Eles morreram conscientes de terem feito o seu melhor”, afirma.
O padre de 38 anos afirma que o risco do contágio pode fazer parte dos sacrifícios aos quais os sacerdotes se submetem quando optam por este caminho: “Nós decidimos nos colocar na vida religiosa e atendemos a esse chamado. Naquele momento, coloquei minha vida e minha disponibilidade a serviço”.
Símbolo do altruísmo incondicional
Frei Giuseppe Berardelli, preferiu ceder o respirador – que seus paroquianos haviam comprado para ele – para um paciente mais jovem, que também estava na UTI e lutava contra a Covid-19.
Berardelli, de 72 anos, era padre na igreja de Casnigo, uma pequena cidade na castigada província de Bergamo.
Com o agravamento da pandemia na Itália, o padre foi enterrado sem velório. Em sua homenagem, moradores da cidade aplaudiram de suas janelas ao receberam a notícia de sua morte.
60 irmãs contaminadas em convento
Em Roma, dois conventos femininos foram isolados. Em um deles, das irmãs angélicas de São Paulo, 19 das 21 freiras foram diagnosticadas com Covid-19. No outro, das irmãs camilianas, são 60 as religiosas com coronavírus. As camilianas, aliás, administram cinco hospitais na Itália, dos quais três estão concentrados em assistir as vítimas da pandemia.
Com informações de Thaís Cunha e Braitner Moreira, da BBC News Brasil