O projeto de cidadania para menores estrangeiros, o Ius Scholae, voltou à pauta italiana nesta quinta-feira, 3 de julho de 2025. A proposta, encabeçada pelo Forza Italia, prevê que filhos de estrangeiros que residem legalmente no país possam obter a cidadania italiana após concluírem dez anos de escola obrigatória.
A iniciativa marca uma reviravolta curiosa na política italiana: o Forza Italia, liderado por Antonio Tajani, vice-primeiro-ministro de Giorgia Meloni, declarou que está pronto para aprovar a medida em conjunto com o Partido Democrático (PD), tradicional força da centro-esquerda. Enquanto isso, a Lega reafirma sua contrariedade.
“Não é um segredo que a Lega não seja a favor da proposta de Tajani sobre o Ius Scholae”, criticou Susanna Ceccardi, eurodeputada leguista. Para ela, o projeto não faz parte do programa de governo e jamais foi debatido na campanha eleitoral. A legenda vê a iniciativa como uma decisão isolada de Forza Italia.
O texto reaparece após um ano parado no Parlamento. Na época, teve apoio apenas do partido Azione. Agora, volta embalado por um discurso de integração: permitir que crianças nascidas na Itália, ou que chegaram até os cinco anos de idade, se tornem cidadãs após completarem a formação escolar básica.
Entre avanços e atritos
Para Paolo Emilio Russo, deputado de Forza Italia, o foco é modernizar regras antigas e coibir abusos. “Forza Italia propôs com o Ius Italiae uma reforma completa dos mecanismos de concessão de cidadania”, afirmou. Segundo ele, o objetivo é priorizar crianças e a escola como ferramenta de integração.
A legenda ainda estendeu a mão à Lega, elogiando a preocupação dos aliados com concessões mal fiscalizadas no passado. Mas o recado foi claro: “Basta ler uma proposta para entender que não se trata apenas de ampliar direitos, mas de uma proposta de seriedade”, concluiu Russo.
Enquanto isso, o PD observa de perto. Se o partido decidir pedir a votação, os azzurri prometem apoiar. Ironia ou estratégia, o fato é que Tajani agora se vê votando lado a lado com a esquerda, enquanto a Lega observa, isolada, o cenário mudar.
Além da cidadania escolar
Mas há quem enxergue além da cidadania escolar (Ius Scholae). Nos bastidores, circula a hipótese de que Antonio Tajani estaria, na verdade, testando uma aproximação com a esquerda para fragilizar Giorgia Meloni. O objetivo, dizem, seria pavimentar o caminho para disputar o posto de primeiro-ministro caso a atual líder perca força dentro da coalizão – e ele teria o apoio do presidente Sergio Mattarella.
Para críticos, o Ius Scholae virou apenas o pretexto ideal para medir forças e abrir diálogo com o PD, criando fissuras na direita e mostrando que o Forza Italia pode ser mais flexível — ou mais ambicioso — do que aparenta.
