Pietro Schincariol veio da Itália no final do século 19 e iniciou uma verdadeira aventura. Seu nome é ligado a uma das grandes marcas brasileiras.
A história da família Schincariol no Brasil inicia com a vinda ao país de Pietro Schincariol, nascido na cidade de Conegliano, na província de Treviso, região do Vêneto, na Itália, em 19 de julho de 1877.
O imigrante italiano chegou ao país no final do século 19 e em 1902 casou-se com Amélia Barbiero, também italiana, nascida em Veneza. O casal teve seis filhos e cinco filhas.
Entre os filhos de Pietro e Amélia, estava Primo Schincariol, que em 1939 fundou em Itu, município do interior do Estado de São Paulo, a empresa Schincariol, inicialmente voltada à fabricação de aguardente, licor de cacau, vinho quinado, anisete, groselha e refrigerantes.
Fabricação artesanal no fundo de casa
Nos primeiros anos, a fábrica começou sua produção de forma quase artesanal, com equipamentos instalados nos fundos do quintal de sua casa. O próprio Primo Schincariol entregava a produção em uma carroça puxada por uma mula, aos poucos bares da cidade no início dos anos 40.
Em 1954, com o crescimento da popularidade das tubaínas, refrigerantes adocicados, geralmente à base de guaraná e aromatizados com sabor de frutas, a Schincariol lançou a sua versão da bebida. Era a Itubaína, um refrigerante sabor tutti-frutti, em garrafas de vidro de 600 ml, que recebeu esse nome em homenagem à cidade de Itu.
No cinquentenário, surge a cerveja Schin
Nas décadas seguintes, quando o consumo de Itubaína já havia se espalhado pelo interior do Estado de São Paulo, a empresa resolveu dar um passo ousado. Foi em 1989, ano do cinquentenário da Schincariol, que o grupo decidiu expandir sua linha de produtos e ingressar em uma nova categoria no mercado, ao lançar a cerveja Schincariol.
No início, o lançamento foi um sucesso e a cerveja caiu no gosto popular, abocanhando fatias consideráveis do mercado, especialmente no interior de São Paulo, onde já tinha bom trânsito. Com isso, o grupo não teve dúvidas e partiu para a expansão de suas operações.
Novas unidades foram abertas e o negócio foi se espalhando para outras regiões do Brasil. Em 13 anos de produção, a cerveja Schincariol havia atingido 9,8% de participação no mercado, chegando a incomodar algumas marcas líderes extremamente tradicionais.
No entanto, o ritmo nas vendas não aumentou como o esperado, apesar dos investimentos feitos na infraestrutura da empresa, o que começou logicamente a influenciar negativamente no caixa. Foi então que a Schincariol contratou a agência de publicidade Fischer para uma pesquisa de mercado.
Schincariol lança a Nova Schin
O resultado do estudo revelou que a estagnação do crescimento estava vinculada a um grave problema de imagem da marca. Grande parte do público considerava a Schincariol uma cerveja para pessoas de baixa renda e com qualidade inferior às outras disponíveis no mercado. Estava aí o motivo do alto índice de rejeição.
Para reverter o problema, o grupo contratou os mestres cervejeiros Rubem Froemming e Peter Ehrhardt para desenvolver uma nova fórmula. A empresa trouxe também uma agência de publicidade para criar a campanha de lançamento da Nova Schin, em setembro de 2003.
Além disso, houve um trabalho de treinamento das equipes de vendas, que estavam desmotivadas pela rejeição reiterada do produto nos pontos de venda. Entre os eventos realizados para as equipes, a empresa promoveu convenções e palestras especiais de vendas, visando um novo horizonte para a cerveja.
Na época, todas as mídias foram inundadas com a campanha da Nova Schin, como forma de coroar a estratégia da Schincariol, de ressaltar a nova fórmula, o novo rótulo e até mesmo o novo logotipo do produto.
Campanha resulta em sucesso de vendas
Com isso, as metas de crescimento projetadas para dois anos foram atingidas em apenas quatro meses. A Nova Schin conquistou rapidamente importantes pontos em participação de mercado e trouxe aos cofres da empresa milhões de reais.
Nos anos seguintes, a empresa trouxe diversas inovações ao mercado, como a cerveja aromatizada com uma mistura de limão e tequila, em 2004, a Nova Schin Zero (0,0% de teor alcoólico), em 2008, e a Schin Litrão, em 2009.
Em 2004, a empresa mudou de novo o nome da marca para simplesmente Schin, adotou a cor laranja e reformulou suas embalagens. De quebra, lançou a campanha publicitária Porque Sim!, feita para quem não gosta de dar explicação para tudo, inclusive do motivo porque escolheu sua cerveja.
Ao longo dos anos, a Schincariol trouxe para as campanhas da cerveja nomes como Zeca Pagodinho, Fernanda Lima, Aline Moraes, Luciano Huck, Thiago Lacerda, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Samuel Rosa e Zeca Balero. Além disso, investiu pesado para patrocinar eventos como o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 e diversos outros país afora.
Itubaína cresce e empresa muda de donos
Enquanto isso, a caçula da família, o refrigerante Itubaína seguiu muito bem, obrigado, com as vendas se espalhando, primeiro no interior do Estado de São Paulo, e depois na capital e litoral. Em 2000, após os apelos dos consumidores, a marca lançou a garrafa pet de 2 litros, opção prática para a família e os amigos.
No ano de 2011, 50,45% do Grupo Schincariol foi adquirido pela japonesa Kirin Holdings por R$ 3,95 bilhões. A empresa japonesa compraria o restante da cervejaria pouco depois. Já em 2017, a Heineken Brasil comprou a Brasil Kirin por R$ 2,2 bilhões e tanto o refrigerante Itubaína quanto a cerveja Schin passaram a fazer parte do portfólio da cervejaria holandesa.
Marca da família Schincariol é eterna
Desde a chegada do imigrante Pietro Schincariol ao país até a venda da empresa para a Kirin em 2011, o grupo passou pelo seu filho Primo Schincariol, pelo seu neto Nelson Schincariol e pelo bisneto Adriano Schincariol.
Independentemente dos altos e baixos naturais da competitiva indústria brasileira, a história da Schincariol mostra mais uma vez a capacidade de trabalho dos imigrantes italianos na construção das grandes empresas de nosso país.
Por Roberto Schiavon/Italianismo