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Preconceito ou desinformação? Como a imprensa italiana nos trata na cidadania

O tratamento dado pelos jornais italianos ao direito de cidadania italiana dos sul-americanos levanta dúvidas: preconceito ou desinformação?

Com milhões de ítalo-descendentes na América do Sul, a imprensa italiana frequentemente distorce os direitos de cidadania dessa comunidade | Foto: CdT/Gabriele Putzu
Com milhões de ítalo-descendentes na América do Sul, a imprensa italiana frequentemente distorce os direitos de cidadania dessa comunidade | Foto: CdT/Gabriele Putzu

Nos últimos meses, a cobertura da imprensa italiana sobre a cidadania italiana por iure sanguinis tem seguido um padrão preocupante, especialmente quando se trata de descendentes de italianos na América do Sul.

A bola da vez é o presidente argentino, Javier Milei, cuja cidadania italiana, garantida por lei, é um direito de nascimento, mas é alvo de críticas.

Manchetes sensacionalistas alimentam a polêmica.

O Il Post (com média de 23 milhões de leitores/mês) publicou: “Meloni concede cidadania italiana a Javier Milei”; já o Open (26 milhões de leitores) afirmou: “Governo deu cidadania a Javier Milei”; e o Today (44 milhões) seguiu na mesma linha: “Governo Meloni dará cidadania italiana ao presidente argentino Milei”.

Manchete do influente Il Post
Manchete do influente Il Post

Essas narrativas distorcem os fatos, insinuando que a cidadania foi um “presente” político do governo italiano, ignorando completamente a legislação vigente.

A rede Sky TG24 publucou: “Javier Milei, que tem ótimas relações com Giorgia Meloni, deve receber do governo a cidadania italiana com base no princípio do ‘ius sanguinis’. A confirmação oficial pode ocorrer durante sua participação no evento político do Fratelli d’Italia”.

Outros veículos foram ainda mais longe. O Affaritaliani (com média de 12 milhões de leitores/mês) estampou:”Cidadania italiana para Milei. A história do avô calabrês que fugiu para a Argentina. Meloni entrega o ‘presente’ de Natal”.

O Open diz que Meloni deu a cidadania para Milei
O Open diz que Meloni deu a cidadania para Milei

Pior ainda, quando agências de notícias alimentam a narrativa. A Askanews publicou: “Cidadania, Bonelli: Tajani deve esclarecer se foi reconhecida a Bolsonaro além de Milei”.

E para reforçar, ouviram o polêmico deputado Angelo Bonelli, que declarou:
“O governo concedeu a cidadania italiana a Milei com uma rapidez que muitos descendentes de italianos no exterior, com pais ou avós italianos, não recebem. Por que essa prioridade a Milei, enquanto outros esperam anos?”.

O que realmente diz a lei?

A lei italiana é direta: quem descende de cidadãos italianos, sem interrupção no direito, nasce italiano. No caso de Javier Milei, sua cidadania deriva do avô Francesco “Ciccio” Milei, que partiu da Calábria para a Argentina em 1926.

Retratar o reconhecimento dessa cidadania como um favor político, um presente de Natal, não só desinforma o público, como também coloca em xeque o sistema jurídico italiano, sugerindo que os processos dependem de interesses governamentais.

Por que os sul-americanos são alvos frequentes?

Descendentes sul-americanos são constantemente retratados de forma pejorativa na mídia italiana, mesmo sendo uma das maiores comunidades de ítalo-descendentes do mundo.

Com milhões de pessoas com direito legítimo à cidadania italiana, essas famílias frequentemente enfrentam acusações de oportunismo ou de buscar vantagens na União Europeia.

Esse tipo de escrutínio não se aplica a outras regiões com a mesma intensidade. Por exemplo, ítalo-descendentes dos Estados Unidos raramente são tratados com desconfiança, embora utilizem os mesmos mecanismos legais para o reconhecimento da cidadania.

Sensacionalismo e preconceito

A cobertura distorcida do caso Milei reflete um preconceito velado e o uso de narrativas políticas para questionar direitos legítimos. Ao invés de informar e esclarecer, parte da imprensa italiana opta por alimentar divisões e estigmas contra comunidades sul-americanas, ignorando que o iure sanguinis é um princípio legal universal e igualitário.

Se há algo a questionar, é a escolha de transformar um direito em polêmica, especialmente contra uma das comunidades que mais mantém vivas as raízes culturais e históricas da Itália no exterior.

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