De acordo com o Ministério das Relações Interiores da Itália, o país que mais envia migrantes à costa italiana é a Eritreia, uma ex-colônia italiana
O governo italiano abriu uma crise diplomática com a França ao afirmar que Paris fomenta a crise migratória ao “continuar colonizando a África com o uso de uma moeda” e pela “ingerência militar” na Líbia e no Iraque.
Mas, de acordo com o Ministério das Relações Interiores da Itália, o país que mais envia migrantes à costa italiana é a Eritreia, uma ex-colônia italiana, seguida do Iraque. Os ataques de Roma representam mais um capítulo na disputa pela liderança política na Europa.
A tensão entre Paris e Roma assumiu caráter de crise diplomática com a convocação da embaixadora italiana na França para esclarecimentos no Ministério das Relações Exteriores francês, em Paris, após as polêmicas declarações do vice-primeiro ministro italiano Luigi di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas (M5E).
Ele afirmou que “a França continua a ter colônias de fato com o uso de uma moeda, que é o ‘franco colonial’, que impõe nas suas ex-colônias – dinheiro que usa para financiar parte do seu débito público e que enfraquece as economias daqueles países”. Di Maio disse também que essa prática se reflete diretamente no número de imigrantes que chegam à costa italiana.
O franco africano (CFA) faz parte de um acordo não obrigatório assinado entre a França e 14 países africanos (Benin, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné Bissau, Mali, Níger, Senegal, Togo, Camarões, República Centro-africana, República do Congo, Gabão, Guiné Equatorial e Chade) há algumas décadas e que permaneceu em vigor mesmo após a independência das colônias.
Paris afirmou que “a convocação da embaixadora é sem dúvida um ato forte e que expressou o descontentamento pelas frases inaceitáveis e agressivas dirigidas à França”. A embaixadora italiana acolheu o desapontamento das autoridades francesas e fará um relatório a Roma o quanto antes.
Comissão Europeia: ‘conteúdo vazio’ e ‘sem cabimento’
Di Maio disse que a Itália vai pedir sanções às instituições europeias aos países que não descolonizam a África. Porém, do gabinete da ministra francesa para os Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau, chegou a mensagem de que o pedido italiano “é inaceitável e sem cabimento”.
Outra declaração contundente veio de Bruxelas, onde o comissário para os Assuntos Econômicos, o francês Pierre Moscovici, afirmou: “Algumas declarações são feitas para uso nacional, parecem provocações, porque o conteúdo é vazio ou irresponsável, portanto é preferível não ceder a provocações”.
Depois da convocação da embaixadora italiana, Di Maio minimizou o mal-estar entre Roma e Paris. “Não há nenhuma crise diplomática”, disse o ministro italiano, porque ele acredita “ser tudo verdade”.
“A França imprime papel moeda para 14 Estados africanos impedindo o desenvolvimento e contribuindo para a partida de migrantes”. Mas, de acordo com o Ministério das Relações Interiores da Itália, o país que mais envia migrantes à costa italiana é a Eritreia, uma ex-colônia italiana, seguida do Iraque.
Campanha eleitoral agressiva
As declarações de Di Maio ocorrem no contexto da campanha eleitoral para a renovação do Parlamento Europeu, em junho. O líder do Movimento 5 Estrelas (M5E), partido antissistema, governa a Itália desde julho de 2018 junto com a Liga, de extrema-direita.
Recentemente, os dois partidos declararam apoio às manifestações dos ‘coletes amarelos’ na França que há mais de dois meses assombram o governo de Emmanuel Macron.
Por sua vez, o líder da Liga, também vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, acusou o presidente francês de governar “contra seu povo” e disse que “o quanto antes ele for embora, melhor será”. Salvini explora as dificuldades enfrentadas por Macron para disputar a liderança política no bloco.
No fim de semana, Salvini também cobrou da França a extradição de 14 cidadãos italianos procurados por terrorismo durante os “anos de chumbo” que estão, segundo ele, foragidos em território francês. Nesse caso, Salvini também manobra para aumentar sua popularidade após a recente a extradição de Cesare Battisti.
Por RFI