O italiano Giovanni Marchesan chegou ao Brasil em 1896. Sua família fundou a maior empresa de implementos e máquinas agrícolas da América Latina.
A história dessa família de imigrantes empreendedores começa com a chegada do patriarca Giovanni ao porto de Santos, no ano de 1896. Ele vinha da cidade na Itália onde nasceu, a comuna de Castello Di Godego, na província de Treviso, região do Veneto.
Em seguida, Giovanni Marchesan se dirigiu para o interior de São Paulo, para trabalhar na construção das estradas de ferro entre Jaboticabal e a antiga localidade de Porto Taboado.
O jovem imigrante viveu em Catanduva e nas regiões de Valinhos e Campinas, antes de decidir morar em Matão, sempre no interior do estado de São Paulo. Já era casado com Marieta, jovem que conheceu na viagem de navio entre Itália e Brasil.
Giovanni e Marieta tiveram três filhos: José, Guilherme e Alexandre. José se casou com Zaira Bocchi e tiveram quatro filhos: Orlando, Armando, Yolanda e Luiz.
No entanto, os quatro filhos ficaram órfãos cedo, pois Zaira morreu aos 29 anos e José também morreu, cinco anos depois, aos 36 anos.
Irmãos Marchesan vão ao trabalho
Os quatro irmãos, netos de Giovanni Marchesan, ainda adolescentes, passaram a ser criados pelos tios paternos. Estudaram, cresceram e começaram a trabalhar. Armando e Luiz conseguiram emprego em uma fábrica de carrocinhas.
Aos 14 anos, Luiz já dominava bem a arte de ferreiro, enquanto Armando, aos 19 anos, fortalecia suas habilidades de carpinteiro.
Em 1946, os dois irmãos decidiram iniciar sua empresa. Para isso, alugaram um barracão e arremataram de um viajante material para melhorar sua fábrica de carroças e charretes.
No dia 25 de novembro de 1946, com capital social de CR$ 20.000,00, instituíram formalmente a Oficina Brasil de Irmãos Marchesan.
No início, a produção era toda voltada para carrinhos de molas e charretes. Em poucos meses, a Oficina Brasil já entregava cerca de dez carrocinhas por semana, com o trabalho de quatro pessoas, incluindo os irmãos.
Aos poucos, o volume de vendas foi crescendo e as carrocinhas e charretes começaram a ser envidas até para o norte do Paraná.
Mercado dita crescimento
Atentos ao mercado e às necessidades dos agricultores, os irmãos Armando e Luiz Marchesan ampliaram a linha de produtos e começaram a fabricar implementos agrícolas de tração animal, como arados, grades de discos e cultivadores de enxadas.
Com o aumento da procura pelos produtos, o uso de aço reciclado deu lugar às chapas de aço, que na época eram importadas. Os instrumentos artesanais de trabalho, aos poucos, foram substituídos por máquinas de maior porte.
Em janeiro de 1952, a Oficina Brasil mudou o nome para Irmãos Marchesan Ltda. E em 1963 a fábrica saiu de suas instalações no centro de Matão para a Rua Bambozzi, número 430.
Nessa fase, a empresa iniciou a produção de implementos para tratores, acompanhando a evolução na mecanização da agricultura, que na época iniciava os trabalhos com tração mecânica.
No ano de 1955, o símbolo da bigorna, antes adotado pela empresa, deu lugar à marca Tatu, associada ao cultivo do solo.
Crises e superação
Nos anos seguintes, a empresa enfrentou crises na agricultura e com o fornecimento de aço, porém, seguiu conquistando espaços. Em 20 de janeiro de 1967, a Irmãos Marchesan se transformou em Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas Tatu S/A.
A partir do final da década de 1960, a Marchesan iniciou um processo de reestruturação que projetou a empresa no mercado externo, atendendo inicialmente a demanda de agricultores do Paraguai.
Em 1970, a empresa tinha 180 funcionários e seu perfil administrativo também passou por ajustes para atender demandas de crescimento.
Sua rede de revendedores foi ampliada para todo o Brasil e as exportações ampliaram para outros países da América Latina.
Na década de 1980, as exportações expandiram para o restante do continente americano e países da África e Oriente Médio.
Em 1986, as vendas para o exterior representavam quase 20% da produção da Marchesan e atingiam 23 países. Já era a maior empresa do setor na América Latina e a terceira maior no mundo.
Legado de Giovanni Marchesan
Em janeiro de 2011, a gestão da Marchesan passou por outra etapa de modernização com a criação do Conselho de Administração, que fortaleceu as regras de Governança Corporativa e fomentou o processo de profissionalização da gestão.
Hoje, com José Luiz Alberto Marchesan, filho de Luiz Marchesan, como presidente do Conselho de Administração, a empresa exporta para mais de 70 países de todo o mundo e está instalada em uma área de 805 mil metros quadrados em Matão, incluindo modernos campos de provas.
O empresário Luiz Marchesan morreu em 19 de julho de 2020, em Matão, aos 92 anos. A indústria mantém vivo o sonho da família formada por Giovanni Marchesan, transformado em realidade com a força do trabalho, que nenhum golpe do destino conseguiu derrubar.
Por Roberto Schiavon/Italianismo