Os violões Di Giorgio fazem parte da trajetória da música do Brasil. Essa história iniciou com a chegada do italiano Romeu Di Giorgio ao país.
Nascido em 1889 em Roma, na Itália, o jovem luthier Romeu Di Giorgio veio para o Brasil muito jovem, no início do século 20, para encontrar trabalho.
Chegando aqui, o imigrante italiano veio morar na cidade de São Paulo, onde abriu em 1908 o Atelier de Violões Finos Romeu Di Giorgio, passando a vender seus instrumentos musicais para a comunidade italiana.
No atelier, Romeu passou a colocar em prática os ensinamentos que havia aprendido com outro italiano, o luthier de violinos Lorenzo Fritelli, que lhe ensinou os segredos dos instrumentos musicais acústicos.
Di Giorgio ganha novas instalações
A empresa produzia também outros instrumentos musicais de cordas, como violas, violinos, bandolins e violas da gamba, muito utilizados pelos imigrantes europeus na época.
Os instrumentos tiveram grande aceitação da comunidade e as vendas passaram a expandir para outros públicos, garantindo o sucesso dos negócios nos anos seguintes.
Na década de 40, a empresa já tinha a denominação de Indústria e Comércio de Instrumentos Musicais e Cordas Di Giorgio Ltda. Foi quando a fábrica ganhou instalações na Rua Voluntários da Pátria, no bairro do Santana. Era a época das serestas e a cultura do violão crescia no Brasil, favorecendo as vendas da Di Giorgio.
No final da década de 50, a empresa tinha 20 funcionários, entre eles o jovem Reinaldo Proetti, que Romeu resolveu “adotar”, após a morte de seu único filho.
O sucesso com a Bossa Nova
Nos anos 60 veio a Bossa Nova e, naquela época, os negócios cresceram ainda mais. O grupo já era presidido por Reinaldo, que decidiu que a empresa se dedicaria exclusivamente à fabricação de violões. Assim, passaram a ser produzidos 1.000 violões da marca por mês.
Apesar de decisiva para o crescimento dos negócios, a mudança trouxe desafios logísticos, já que nos anos seguintes a enorme demanda pelos violões resultou em um crescimento desordenado da empresa.
Havia pontos de fabricação espalhados em diferentes localidades de São Paulo, e produção de até 150 violões por dia, sem estrutura adequada para isso.
Para solucionar esses problemas, em 1985 foi inaugurada uma fábrica em Franco da Rocha, com 20 mil metros quadrados, 200 funcionários, e capacidade de produzir 6 mil violões por mês.
O ano de 1985 marcou também a morte de Reinaldo Proetti e quem assumiu os negócios foi seu filho, Reinaldo Proetti Júnior, representando a terceira geração da família.
Com a produção concentrada em Franco da Rocha, a empresa passou a investir em tecnologia nos anos seguintes, quando Reinaldo Neto também passou a trabalhar na Di Giorgio. Em 2007, pouco antes do centenário da empresa, ele trouxe novos equipamentos de marcenaria da Alemanha.
Em 2019, a Di Giorgio entrou com pedido de recuperação judicial, visando ganhar fôlego para a reestruturação da empresa. A fabricação migrou para a Ásia e algumas linhas de produtos sofreram adaptações.
Gerações de músicos tocaram um Di Giorgio
A Di Giorgio marcou gerações inteiras de músicos brasileiros, que guardam lembranças relacionadas a um instrumento da marca. É o caso de Márcio Rocha, 54 anos, músico nascido em São Roque e radicado em Araraquara, ambos municípios do interior de São Paulo.
Ele teve um violão Di Giorgio modelo Signorina modelo 1977, que conseguiu trocando por um bolsa de couro tiracolo, em 1985. “Com esse violão eu viajei e toquei pelo sul de Minas, quando estudava Biologia em Alfenas. Foi com ele que conheci Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e tantos outros”, conta.
O violão acabou vendido em uma época de crise, pouco antes de Márcio se mudar para Araraquara. “Infelizmente, tive que vender meu querido companheiro, mas até hoje me arrependo. Nunca encontrei um violão tão bom quanto aquele. Era belíssimo, tinha a mão decorada com marchetaria e um som maravilhoso. Deixou ótimas lembranças”.
Esse tipo de memória afetiva se deve ao esforço de Romeu Di Giorgio, mais um entre tantos imigrantes italianos que venceram trabalhando em sua nova terra.
Por Roberto Schiavon/Italianismo
Crédito das fotos: Site da empresa/Reprodução