Europa está prestes a lançar o que pode ser uma revolução do sistema financeiro como o conhecemos
Está longe de ser um garantia, mas é bem provável que o Banco Central Europeu (BCE) comece a canalizar esforços para emitir a sua própria moeda digital de banco central (em inglês, CBDC) — o euro digital.
Este é, pelo menos, o “palpite” da presidente da instituição, a francesa Christine Lagarde.
O BCE publicou em outubro o relatório sobre o euro digital, onde se analisaram, por exemplo, as motivações que o levariam a tornar-se numa realidade ou os obstáculos que teriam de ser ultrapassados, se iria ser um substituto do dinheiro físico ou não.
Algumas destas considerações foram retomadas nesta quinta-feira (12) por Christine Lagarde, que participou de um painel de política monetária no âmbito do Fórum BCE 2020, com os seus homólogos norte-americano, Jerome Powell, chairman da Reserva Federal norte-americana (Fed) e Andrew Bailey, governador do Banco de Inglaterra.
A presidente do BCE disse claramente que o “euro digital não será um substituto do dinheiro físico, será um complemento”, e que o banco central terá de levar a cabo um estudo mais aprofundado se “se for mais barato, mais rápido, mais seguro para os utilizadores” do que o dinheiro físico.
“Se contribuir para a melhoria da soberania da política monetária e para a autonomia da zona euro, então devemos explorar” o euro digital, adiantou Christine Lagarde.
O euro digital é uma moeda digital, mas não é igual àquela a que já estamos habituados. Quando fazemos uma transferência, por exemplo, por MB Way, estamos a recorrer a uma moeda digital.
Mais autonomia, mais controle
O euro digital é diferente na medida em que permitiria que o cidadão comum pudesse abrir uma conta bancária diretamente no banco central.
Dito de outra forma, é uma moeda digital de banco central disponibilizada ao público em geral para utilização nos pagamentos de do dia-a-dia.
No extremo, o euro digital iria alterar completamente a relação que temos com o banco, uma vez que teríamos acesso direto ao banco central, onde teríamos uma conta e onde pudéssemos receber, por exemplo, o nosso salário.
A decisão sobre um estudo mais aprofundado do euro digital vai ser tomada quando acabar a reflexão, que já está em curso, sobre os prós e os contras da eventual emissão de CBDC na área do euro, as questões jurídicas, funcionais e técnicas associadas.
Este exercício reflexivo está previsto acabar em 12 de janeiro de 2021.
“Não estamos correndo para sermos os primeiros”, disse Christine Lagarde. “O meu palpite é que iremos nessa direção [de estudar o euro digital]. Mas isso não significa que estará disponível de imediato, porque ainda teremos de abordar questões como a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, as questões de privacidade e a tecnologia apropriada que suportaria a moeda digital”, adiantou a presidente do BCE.
Contrariamente ao dinheiro físico, que não deixa rasto e que é verdadeiramente a única moeda anônima, uma moeda digital deixaria sempre algum rastro, algo que questões com a privacidade e o RGPD teriam de ser oportunamente resolvidos.
Certo é que a decisão está longe de ser tomada na Europa, o mesmo acontecendo do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos. Mas já avançado no Brasil, com a implantação do PIX.
O que está em cima da mesa, em discussão, pode fazer das atuais notas de papel em peças de museu – e chegar ao ponto de ter uma única moeda no mundo.
Com informações da Reuters/AFP/Repubblica