O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, foi ao Senado do país nesta terça-feira (1º) para falar sobre a guerra na Ucrânia e as medidas adotadas pelo governo durante o conflito.
Em um dos primeiros pontos de seu discurso, o chefe de governo alertou que uma era na Europa chegou ao fim e que “a invasão da Ucrânia por parte da Rússia marca uma virada decisiva na história europeia”.
“Nas últimas décadas, muitos tinham se iludido que a guerra não teria mais espaço na Europa. Que os horrores que marcaram os anos 1900 fossem monstruosidades que não se repetiriam. Que as instituições multilaterais criadas após a Segunda Guerra Mundial fossem destinadas a nos proteger para sempre. Em outras palavras, que poderiam dar como garantidas as conquistas de paz, segurança, bem-estar que as gerações anteriores nos deram com muitos sacrifícios”, pontuou aos parlamentares.
Segundo Draghi, as “imagens que chegam de Kiev, Kharkiv, Maripol e de outras cidades da Ucrânia em luta pela liberdade da Europa mostram o fim dessas ilusões”.
“A heroica resistência do povo ucraniano, do seu presidente [Volodymyr] Zelensky, nos colocam diante de uma nova realidade e nos obrigam a fazer escolhas que até poucos meses atrás eram impensáveis. Quero reforçar mais uma vez toda a minha solidariedade, a do governo e dos cidadãos e cidadãs à Ucrânia”, acrescentou.
O primeiro-ministro também comparou o ataque atual com a “anexação da Áustria, a ocupação da Tchecoslováquia e a invasão da Polônia” ocorridas há 80 anos e disse que o governo vai se manter firme na postura de apoiar as decisões da União Europeia de apoio a Kiev.
“O desenho revanchista do presidente Putin se revela hoje com contornos nítidos, nas suas palavras e nos seus atos. As ameaças de fazer pagar com consequências nunca vistas na história […] nos impõem uma reação rápida, firme e unida”, disse.
Draghi ainda pediu que o Kremlin “escute” as manifestações contrárias do seu povo como aquelas vistas desde a quinta-feira (24) em mais de 40 cidades do país. Sites independentes apontam mais de seis mil pessoas foram presas em manifestações contra a guerra.
Sinais preocupantes
O líder do governo italiano ainda falou aos senadores que há “sinais preocupantes” também vindos de Belarus, que tem o governo de Aleksandr Lukashenko – chamado de último ditador pela Europa por estar no poder desde 1994 – extremamente alinhado com Putin.
“Um outro sinal preocupante vem da vizinha Belarus, onde os cidadãos votaram domingo em favor de algumas relevantes modificações da Constituição e eliminaram o status de país ‘desnuclearizado’. Isso poderá implicar a vontade de colocar em próprio solo armas nucleares vindas de outros países”, pontuou.
Sobre a migração, Draghi reafirmou os dados da União Europeia, de que a guerra pode atingir entre seis e 7,5 milhões de deslocados internos e de três a quatro milhões de refugiados em outros países.
“No que tange aos refugiados, como havia já informado o ministro Luigi Di Maio, estamos empenhados na ativação de corredores especiais para os menores órfãos para que possam chegar ao nosso país o mais rápido e em segurança. Domingo, no Conselho Extraordinário dos Ministros do Interior da UE, foi avaliada a possibilidade, que tem o apoio da Itália, de aplicar pela primeira vez a diretriz sobre a proteção temporária prevista em caso de fluxo maciço de deslocados”, afirmou Draghi.
Garantia aos refugiados
Aos senadores, o premiê explicou que a medida permite que os ucranianos em fuga possam ficar em países da União Europeia por um período de um ano, com possibilidade de renovação, e evitaria a ativação de “onerosos procedimentos” após os 90 dias de permanência sem visto. “A diretiva ainda pode fazer com que os Estados-membros indiquem a sua capacidade de acolhimento e a cooperação para a transferência das residências das pessoas de um país para outro”, pontuou.
Após o discurso de Draghi, o Senado aprovou a resolução sobre a guerra na Ucrânia, que havia sido também aprovada pela Câmara dos Deputados.
O documento exige que a Rússia pare imediatamente as operações bélicas e retire todas as suas forças armadas “que ilegitimamente ocupam o solo ucraniano”. Além disso, permite uma ação rápida para “fornecimento de assistência humanitária, financeira, econômica além da cessão de aparelhos e instrumentos militares que permitem à Ucrânia de exercitar o direito à legítima de defesa”. (ANSA).