Para o brasileiro que planeja atravessar o Atlântico, a escolha entre a capital portuguesa e a “Cidade Eterna” deixou de ser apenas uma questão de preferência estética ou gastronômica. O dilema é, acima de tudo, matemático.
De um lado, Lisboa enfrenta uma crise imobiliária sem precedentes, alimentada pelo turismo de massa e pelo mercado voltado a estrangeiros de alta renda. Do outro, Roma, embora caótica em sua infraestrutura, apresenta uma estabilidade de preços que começa a seduzir quem antes só olhava para as terras lusas.
A pergunta que ecoa nas comunidades de imigrantes é clara: Portugal pela facilidade da língua ou Itália pela qualidade de vida e robustez econômica?
Habitação: o grande vilão de Lisboa
Se há um fator que desequilibra a balança hoje, é o teto. Lisboa tornou-se uma das capitais mais proibitivas da Europa em relação à renda local. Um apartamento de um quarto (T1) na região central dificilmente sai por menos de € 1.200 a € 1.500, valor que muitas vezes supera o salário líquido de jovens profissionais qualificados.
Em contraste, Roma, apesar de ser uma metrópole global, oferece um mercado mais heterogêneo. Em bairros periféricos, mas bem conectados, é possível encontrar imóveis semelhantes na faixa dos € 900 a € 1.200.

Dica: Se você já possui cidadania italiana, Roma oferece opções de financiamento imobiliário com taxas mais atrativas e prazos mais longos do que o mercado português, que tem endurecido as regras para crédito.
Supermercado e alimentação: a Itália ainda é imbatível?
No quesito alimentação, a disputa é acirrada, mas a Itália mantém uma ligeira vantagem no poder de escolha. Enquanto a cesta básica em Portugal sofreu com a inflação acumulada dos últimos anos, a Itália se beneficia de uma cadeia de produção agrícola interna fortíssima.
- Comer fora: O “menu do dia” em Portugal ainda é uma das opções mais baratas da Europa Ocidental (cerca de € 12 a € 15). Contudo, o “pranzo” italiano em osterias familiares oferece uma qualidade de insumos que, pelo mesmo preço, é difícil de replicar em solo lisboeta.
- Supermercado: Itens como massas, vinhos e laticínios de alta qualidade são, proporcionalmente, mais baratos na Itália. Portugal ganha no preço do peixe fresco e do azeite, embora a margem tenha estreitado em 2025.
Salários e poder de compra
Aqui reside a maior diferença estrutural entre os dois países.
Portugal opera com um salário mínimo nacional que, em 2025, ronda os € 870 (brutos). Já a Itália é um dos poucos países da UE sem um salário mínimo nacional fixado por lei, utilizando contratos coletivos setoriais. Na prática, um trabalhador de serviços em Roma raramente ganha menos de € 1.300 líquidos.
O poder de compra real na Itália tende a ser superior. Após o pagamento das contas básicas (luz, água e internet — que na Itália podem ser mais complexas devido à burocracia, mas são competitivas), o saldo remanescente em Roma costuma oferecer maior folga para lazer e poupança do que o ordenado português.
Serviços públicos e infraestrutura
A experiência do cotidiano revela duas cidades com “problemas de primeiro mundo”, mas naturezas distintas:
- Transporte: Lisboa leva vantagem com o passe intermodal de € 40, que cobre toda a região metropolitana de forma eficiente. O sistema de Roma é frequentemente criticado pela demora dos ônibus e manutenção do metrô, embora seja vasto.
- Saúde: O Serviço Nacional de Saúde (SNS) de Portugal é gratuito, mas sofre com filas de espera. O Sistema Sanitario Nazionale (SSN) da Itália exige o pagamento de pequenas taxas (ticket) para exames e consultas, mas é frequentemente citado como um dos sistemas mais resilientes da Europa.

Veredito: qual cidade escolher?
A decisão final depende do estágio de planejamento do imigrante.
Escolha Roma se você busca raízes culturais e longo prazo. Para quem já tem cidadania europeia em mãos ou em processo avançado, o mercado de trabalho italiano e o custo de vida proporcionalmente menor em relação ao salário médio tornam a capital italiana uma opção mais sustentável financeiramente.
Escolha Lisboa se o seu foco é a adaptação imediata. A ausência da barreira linguística e a facilidade de legalização para brasileiros via CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) ainda são trunfos imbatíveis para quem tem pressa.






























































