A Itália está passando por uma de suas piores secas em 70 anos. O maior rio do país, o Po, atingiu seu nível mais baixo, ameaçando lavouras e reduzindo a capacidade de produção de energia elétrica.
Embora grande parte da Europa tenha tido condições mais secas do que a média este ano, o vale do Po, no norte da Itália, é o mais atingido, de acordo com o Global Drought Observatory.
Vários meses sem chuvas e uma interrupção mais cedo do que o normal nos fluxos da neve derretida nos Alpes tornaram visíveis grandes áreas do leito do rio – tanto que um tanque alemão da Segunda Guerra Mundial ressurgiu recentemente.
Com o esgotamento das fontes de água, os níveis dos reservatórios hidrelétricos italianos estão em mínimos históricos. A produção de energia hidrelétrica, que costuma suprir 15% das necessidades do país, caiu 50% este ano em relação a 2021.
Para agravar os problemas da região, o mar Adriático entrou no delta do Pó por pelo menos 10 quilômetros, ameaçando áreas agrícolas e aumentando o risco de água salgada nas torneiras.
As cidades do norte da Itália estão racionando água e fornecendo-a em caminhões, pois enfrentam uma potencial escassez de água potável.
A seca pode trazer crise econômica significativa. O rio Po, que flui de oeste para leste no norte da Itália, é uma tábua de salvação para grandes centros industriais como Milão e Turim – lar da fabricante de carros Fiat.
Agricultura em risco
A Lombardia e o Piemonte, as regiões onde se situam as cidades, também são grandes produtores agrícolas, respondendo por 93% da produção de arroz da Itália. Com a disponibilidade de água reduzida no leste do Piemonte, a safra deste ano está ameaçada, dizem os agricultores locais.
“A situação é dramática para algumas culturas”, disse Ercole Zuccaro, diretor da associação agrícola-indústria do Piemonte Confagricoltura. “A mudança climática é óbvia aqui. Longos períodos de seca são interrompidos pelo clima severo.”
A associação estima que as safras de forragem, cevada e grãos cairão de 30% a 40% este ano, com repercussões para o gado, que terá que ser abatido antes do esperado.
Segundo a associação, a seca agravará o aumento dos preços dos alimentos para os consumidores e dos custos de produção para os agricultores.
A produção de avelãs e vinho também pode ser afetada, disse Zuccaro. Piemonte é o maior produtor de avelãs da Itália. A colheita de uva provavelmente será menor do que o normal, disse ele.
Mais de um quarto do território da Itália no sul e no norte está atualmente em risco de desertificação após meses sem chuva, de acordo com a associação nacional de agricultores, Coldiretti. O grupo espera uma perda de 2 bilhões de euros (R$ 10,6 bilhões) para os agricultores italianos com a quebra de safras, incluindo trigo, milho e girassol.
“É um desastre não ter água para a agricultura em um ano que os preços dos fertilizantes triplicaram e os preços da gasolina também dispararam”, disse o presidente do Piemonte, Alberto Cirio, na sexta-feira na TV SkyTG24.
O calor escaldante também está desencadeando milhões de gafanhotos, que estão devastando 30 mil hectares de plantações na Sardenha em um momento em que a Itália precisa maximizar a produção para lidar com os efeitos da guerra na Ucrânia, disse a Coldiretti.
Turismo deve ser afetado
A escassez cada vez mais aguda de água também ameaça prejudicar o turismo, já que centenas de cidades do norte da Itália racionam água para usos não essenciais.
O prefeito da cidade termal de Sant’Omobono Terme, na Lombardia, disse ao La Repubblica que está preocupado com a chegada de turistas se o racionamento de água persistir.
Alguns prefeitos do Piemonte suspenderam o abastecimento de água à noite e caminhões-pipa foram enviados para abastecer os tanques locais. O racionamento de água pode continuar durante o verão, disse o presidente do Piemonte, Cirio.