Siga o Italianismo

Olá, o que deseja procurar?

Herança italiana

Todeschini: família italiana virou sinônimo de massas e biscoitos

O imigrante italiano Giuseppe Todeschini fundou a fábrica de massas e biscoitos que conquistou milhares de brasileiros

todeschini
Giuseppe Todeschini chegou ao Brasil no final do século 19. Mais tarde, criou a fábrica de alimentos Todeschini, eterna na memória dos brasileiros

Giuseppe Todeschini chegou ao Brasil no final do século 19. Mais tarde, criou a fábrica de alimentos Todeschini, eterna na memória dos brasileiros.

Tudo iniciou no ano de 1877, quando o marceneiro Giuseppe Todeschini, nascido na cidade de Arcole, província de Verona, na região do Vêneto, no Norte da Itália, decidiu vir para o Brasil.

Naquela época de muitas dificuldades econômicas pelas quais seu país atravessava, ele veio acompanhando o fluxo de milhares de italianos que desembarcaram na América do Sul, com o sonho de encontrar trabalho digno e formar uma família.

Nascido em 3 de agosto de 1851, Giuseppe tinha 26 anos, e junto com um primo, iniciou a viagem de 27 dias desde o porto de Gênova até o porto do Paranaguá, no estado do Paraná. Ele se acomodou na localidade de Anhaia, no município de Morretes, onde vários imigrantes italianos já viviam, mas oito meses depois, subiu a Serra do Mar e foi morar em Curitiba.

Rótulo clássico do macarrão, principal produto da empresa

Trabalho e família em Curitiba

Ao chegar a Curitiba, em 1878, Giuseppe Todeschini resolveu começar a trabalhar na área que dominava ainda na Itália. Nos sete anos seguintes, dedicou-se ao ofício de construir casas para imigrantes que viviam nas colônias Muricy e Imbituva.

Ainda em 1878, o jovem imigrante se casou com Domênica Cemin, com quem teve oito filhos. Seis anos depois, em 1884, Giuseppe comprou uma chácara onde hoje fica o cruzamento da Avenida 7 de Setembro com a Rua Bento Viana, em Curitiba.

Foi nessa casa modesta de madeira que ele decidiu mudar os rumos de sua vida, fundando ali mesmo a primeira fábrica de macarrão do Sul do Brasil, em 1885. Mais tarde, ele construiu ao lado da casa um pequeno chalé de tijolos de dois andares e contratou seis funcionários.

A Todeschini foi apelidada de “a fábrica de macarrão sublime”

Desafios e amizades de Todeschini

Fabricar macarrão, no final do século 19, em uma cidade onde a massa era praticamente desconhecida, não foi tarefa fácil. Sem maquinário apropriado, o próprio Giuseppe montou uma prensa manual e, mais tarde, movida a tração animal.

Mas o maior desafio foi vencer a desconfiança dos curitibanos em relação ao novo produto. Decidido a vencer em seu empreendimento, o jovem italiano começou a oferecer o produto de casa em casa, a bordo de uma carrocinha, para conseguir vender o macarrão, alimento desconhecido da maioria da população da capital paranaense.

Como era um jovem de temperamento alegre e comunicativo, muitas vezes ele também descrevia o valor nutritivo do alimento, ensinava a melhor maneira de prepará-lo e até mesmo explicava aos clientes como enrolar o macarrão no garfo.

Dessa forma, acabou fazendo várias amizades e não era incomum que acabasse degustando a macarronada em companhia dos fregueses.

A empresa foi uma das maiores do país em seu segmento

Diversificação e mudanças

Eram os primeiros anos da Fabbrica di paste alimenticie di Giuseppe Todeschini, nome da empresa até 1900. Depois ela receberia os nomes Giuseppe Todeschini & Filhos (1900 a 1911), Raphael Todeschini & Irmãos (1911 a 1922), Todeschini & Irmãos (1922 a 1939), Indústrias Todeschini Ltda (1939 a 1956) e, de 1956 em diante, Indústrias Todeschini S/A.

Em 1932, a empresa iniciou a fabricação de balas e, 20 anos depois, de biscoitos. Em seguida, os doces maria-mole, pé-de-moleque e pirulito, entre outros. Também produziram copinhos para sorvete, linha que acabou desativada mais tarde. No entanto, o carro-chefe sempre foi o macarrão, que anos mais tarde passou a dividir espaço com os biscoitos.

Até 1975, as Indústrias Todeschini ocuparam os 12 mil metros quadrados da chácara no cruzamento da Avenida 7 de Setembro com a Rua Bento Viana. Depois disso, a empresa foi transferida para instalações de 63 mil metros quadrados no Bairro do Pinherinho, às margens da BR-116, atual Linha Verde.

Foto de 1926 das quatro filhas mais velhas de Tarquinio e Angela Itália

Gerações e crises

O imigrante italiano Giuseppe Todeschini morreu no dia 7 de agosto de 1922, aos 71 anos de idade. Entre os filhos homens de Giuseppe, somente João e Rafael participaram da empresa. Mais tarde, Rafael deixou os negócios e ficaram João e Adriano, filho de Tarquínio Todeschini, irmão de Giuseppe.

João teve quatro filhos: Antônio, Ítalo e César. Este último se casou com Lígia e o casal teve os filhos Pedro, Guimar, Sérgio e Roberto Elói, que começou a trabalhar na empresa aos 17 anos e se tornou diretor em 1968. Ele deu continuidade aos negócios e tornou a marca cada vez mais conhecida.

Em 2002, as mudanças no mercado e as crises financeiras do país acabaram abalando a empresa. Já com a quarta geração no comando após a morte do fundador, os Todeschini optaram por administração profissional e passaram a ocupar cargos no Conselho de Administração.

No ano de 2006, com a empresa ainda em crise, a saída para não fechar as portas foi uma parceria com a Imcopa, processadora de óleo e farelo de soja com sede em Araucária. No entanto, dois anos depois, a Imcopa teve prejuízo de R$ 141 milhões com a variação cambial durante a crise financeira.

Os biscoitos Todeschini ficaram muito conhecidos pelos brasileiros

O fim de uma era

Depois de outras tentativas de profissionalização, que não deram certo, a empresa firmou parceria com a paranaense AC Comercial. No entanto, sucessivas e persistentes crises levaram a Todeschini a fechar as portas, em 2013.

Sob o comando do bisneto de Giuseppe, Roberto Elói, a Todeschini chegou a ocupar o posto de uma das 20 maiores fabricantes de macarrão e biscoitos do país. Sua produção era de três mil toneladas por mês de macarrão de 17 tipos (com ovos e sêmola) e 1,8 tonelada por mês de biscoitos de 12 tipos, entre doces e salgados.

No Paraná, a empresa chegou a ter 38% do mercado, e também era muito conhecida nos demais estados do Sul, além de interior de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio de Janeiro.

Biscoito recheado Pica Pau, um clássico da marca

O retorno da marca Todeschini

Em 2017, a marca Todeschini voltou às gôndolas dos supermercados, após a indústria paulista Selmi, também fundada por italianos e fabricante dos produtos Galo e Renata, licenciar a marca curitibana e passar a produzir massas e biscoitos com o nome da lendária empresa. Em março de 2021, a Selmi anunciou a compra definitiva da marca.

Fábrica da Todeschini, em Curitiba, capital paranaense

A história do imigrante italiano Giuseppe Todeschini é mais um exemplo do que o trabalho persistente pode fazer por um país, que ao longo das últimas décadas viu a empresa criada pela sua família crescer e se tornar uma das marcas mais queridas da indústria brasileira.

Por Roberto Schiavon/Italianismo

Deixa o seu comentário:

Mais artigos para você

Itália no Brasil

As histórias e personalidades italianas que dão nome a ruas e avenidas da capital paulista, em um passeio pelo Dicionário de Ruas.

Itália no Brasil

Assembleia Legislativa celebra 150 anos de imigração italiana no Brasil e destaca o impacto cultural e histórico no estado.

Itália no Brasil

Roteiros turísticos em Caxias do Sul revelam a herança italiana da cidade.

Herança italiana

Confira a origem do sobrenome italiano Boldrin, eternizado pelo artista que se despediu no último dia 9

Herança italiana

Neto de imigrantes do norte da Itália, Boldrin nasceu na cidade de São Joaquim da Barra, no interior de em São Paulo.

Herança italiana

Gianfrancesco Guarnieri chegou criança ao Brasil e se tornou um ícone do cinema, teatro e televisão

Herança italiana

O jogador nascido em Piracicaba, filho de pais italianos, é um dos maiores artilheiros do futebol italiano

Herança italiana

Nascido em São Paulo, músico dos Titãs é descendente de imigrantes do Vêneto e tem cidadania italiana

Herança italiana

Filho de pais italianos, o cantor nasceu no Rio de Janeiro e conquistou o Brasil com suas músicas

Herança italiana

A cantora, que comemorou 60 anos na semana passada, é mais uma ítalo-brasileira de sucesso

Herança italiana

Compositor ítalo-brasileiro era filho do casal Ferdinando e Emma Rubinato, que chegou ao Brasil em 1895

Herança italiana

Expoente da Arte Modernista nasceu em uma colônia de Brodowski, no interior de São Paulo