O senador Matteo Salvini, líder do partido de ultradireita Liga, garantiu nesta quinta-feira (13) o apoio da coalizão conservadora à candidatura do ex-premiê Silvio Berlusconi para presidente da Itália.
“A centro-direita está compacta e convencida do apoio a Berlusconi, não vamos aceitar vetos ideológicos por parte da esquerda”, afirmou o ex-ministro do Interior, faltando 11 dias para o início da votação parlamentar que definirá o próximo chefe de Estado.
Chamada de “centro-direita” pela imprensa local, a coalizão conservadora reúne os partidos ultranacionalistas Liga e Irmãos da Itália (FdI) e o conservador moderado Força Itália (FI), presidido por Berlusconi.
Essa aliança conta com a maior bancada no Parlamento, porém não tem os votos necessários para eleger sozinha o presidente da República. Dessa forma, Berlusconi precisaria do apoio de outras forças políticas para chegar ao Palácio do Quirinale, mas seu histórico controverso e os problemas com a Justiça afastam a centro-esquerda e o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S).
O presidente é eleito pelo Parlamento e por delegados das 20 regiões do país, em uma assembleia que totaliza pouco mais de mil votos. Para vencer a disputa, um candidato precisa obter pelo menos dois terços do total; se esse patamar não é alcançado nas três primeiras votações, a partir da quarta é necessária apenas a maioria absoluta.
A aposta de Berlusconi é aguardar o quarto escrutínio, quando o piso é menor, e se eleger presidente com o apoio de toda a coalizão conservadora e de uma parte dos parlamentares do chamado grupo misto, que não estão ligados a nenhum partido e hoje reúnem cerca de 10% dos votos.
No entanto, isso significaria uma ruptura na base aliada do premiê Mario Draghi, já que Liga e FI fazem parte da coalizão de união nacional que apoia o economista, e poderia ter consequências para o futuro do governo.
“Uma eventual eleição de Berlusconi determinaria o fim deste governo, com a ruptura do quadro político e eleições. Seria um percurso muito divisivo, nós precisamos encontrar convergência em torno de uma figura institucional”, disse o deputado Enrico Borghi, membro da secretaria do Partido Democrático (PD), maior força de centro-esquerda na Itália.
O próprio Draghi é bastante cotado para substituir Sergio Mattarella na Presidência, mas sua eleição deixaria o cargo de premiê vago, e dificilmente outro político conseguiria manter unida uma coalizão tão heterogênea, que vai da esquerda à extrema direita.
Outra hipótese é a recondução de Mattarella, mas o octogenário presidente já indicou que não deseja ser reeleito para mais sete anos de mandato – a Itália teve até hoje apenas uma reeleição de chefe de Estado.
Apesar de ter funções majoritariamente institucionais, o presidente italiano está longe de ser uma figura meramente decorativa e pode participar ativamente do jogo político.
O próprio Mattarella, por exemplo, foi quem tomou a decisão de encarregar Draghi – que nunca ocupara um cargo público – de formar um novo governo após a queda do premiê Giuseppe Conte, no início do ano passado.
Além disso, o presidente barrou, em 2018, a indicação de um notório antieuro, Paolo Savona, para o cargo de ministro da Economia no governo populista da Liga e do M5S e chegou até a ser ameaçado de impeachment.
A figura da Presidência foi instituída na Itália em 1948 e, desde então, 12 homens ocuparam o posto. (ANSA)