Os irmãos Carbone sabem o que é empreender. Giuseppe e Nicola chegaram ao Brasil para vender vinho e criaram a Companhia União de Refinadores de Açúcar.
Tudo começou quando Domenico Puglisi Carbone, um produtor de vinhos que morava na cidade de Riposto, localizada na província da Catânia, na Itália, resolveu enviar seus filhos para vender seus produtos no Brasil.
Assim, os irmãos Giuseppe, 20 anos, e Nicola Puglisi Carbone, 17 anos, desembarcaram no país em 1886, com a missão de abrir uma representação comercial dos vinhos do velho Domenico. Em 1888, eles criaram a Companhia Puglisi, em São Paulo.
Naquela época, o mercado no Brasil era muito disputado entre os produtos italianos e os vinhos provenientes de Portugal e da França. No entanto, devido ao grande número de italianos no Brasil, os negócios progrediram bastante.
Irmãos Carbone apostam na harmonia
Com sua visão extremamente empreendedora, os irmãos Carbone começaram a observar o mercado e resolveram partir para a diversificação de suas atividades. Decidiram desenvolver o comércio de açúcar, porém, observaram que havia uma concorrência cruel entre diversas pequenas refinarias.
A solução que encontraram foi reunir os pequenos refinadores de São Paulo e convencê-los a deixar a concorrência de lado e se unirem, para formar uma única empresa. Essa seria uma forma de garantir a todos produtos de mais qualidade e, como resultado, uma clientela mais fiel e mais lucros.
Foi assim que, em 1910, surgiu a Companhia União dos Refinadores. Não demorou muito para que a estratégia se mostrasse acertada.
A empresa, presidida por Nicola Puglisi Carbone, iniciou suas atividades com 150 operários, em uma área de 6.300 metros quadrados em São Paulo.
Com a popularização do café, ele foi incorporado à razão social, que foi alterada para Companhia União dos Refinadores – Açúcar e Café.
Comunicação com clientes faz a diferença
Nos anos seguintes, os principais produtos da empresa, o Açúcar União e o Café União, passaram a incorporar novidades, inclusive na maneira de se comunicar com seus clientes. O exemplo clássico veio na década de 50, quando o Açúcar União passou a trazer receitas impressas no verso de suas embalagens.
Até a década de 1960, a marca passou a desenvolver uma relação bem próxima com seu público, por meio de concursos culinários, que tinham as receitas vencedoras também estampando as embalagens dos produtos.
A empresa criou ainda a Cozinha Experimental União, para testar e avaliar todas as receitas enviadas, e os resultados eram publicados em livros, que hoje estão disponíveis no site do grupo. Entre 1962 e 2011, quase 50 mil alunos participaram de cursos de confeitaria no espaço Doce Lar União.
Em 1973, quando já detinha 95% do mercado, o controle da União foi transferido para a Copersucar, e a empresa passou a atuar também no mercado de álcool, com as marcas Coperalcool e Unialcool.
No ano 2000, a companhia vendeu para a Sara Lee seu negócio de cafés, que incluía marcas como Caboclo e Pilão. Em 2005 o Grupo Nova América adquiriu a União, e desde 2009 a marca pertence à Cosan. Finalmente, em 2012, a União foi adquirida pela Camil.
Na última década, a empresa lançou diversas linhas de açúcares naturais, nas versões diet, orgânica, mascavo e voltados para confeitarias, entre outros. A marca União representa hoje 32% do mercado de refinados.
A marca do empreendedorismo italiano
A fábrica da União no bairro da Mooca, em São Paulo, foi desativada em 2006. Mas a chaminé que representava o grupo União foi preservada, por ser considerada um bem cultural e patrimônio histórico da Mooca pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).
Em 25 anos no Brasil, os irmãos Carbone estavam entre os industriais de maior destaque na capital de São Paulo. Eles tinham coparticipação em instituições de crédito, como o Banco Comercial Italiano e eram proprietários da Moinho Santista, empresa pioneira na produção de farinha de trigo no Brasil.
Além disso, eram acionistas da Companhia Refinadora Paulista, da Companhia City de Santos, dos Armazéns Gerais e do Grande Hotel do Guarujá, cidade que tem uma avenida principal até hoje com o nome dos irmãos.
Nicola morreu em 1935, aos 66 anos, e seu irmão Giuseppe em 1939, com 73 anos. Dois imigrantes que deixaram com muita força a marca do empreendedorismo italiano no Brasil.
Por Roberto Schiavon/Italianismo