A eleição parlamentar italiana na América do Sul virou caso de polícia. Nesta quarta-feira (29), o deputado Eugenio Sangregorio informou que formalizou uma denúncia nos Carabineiros de Roma.
Ele quer a recontagem dos votos e se diz vítima de uma difamação. “Fui atacado injustamente com declarações que ferem a minha honra e a do partido USEI. É importante que prossigamos com a nova contagem dos votos”, disse em publicação na página oficial do partido Unione Sudamericana Emigrati Italiani (União Sul-Americana de Emigrantes Italianos).
Durante a apuração do votos, em Roma, foram encontradas mais de 50 mil cédulas falsas – das quase 800 mil emitidas. Elas eram oriundas de Rosario e La Plata, na Argentina.
A fraude foi descoberta por causa de um erro de ortografia incomum. Parte das cédulas aprendidas pela polícia diziam “Diputati” em vez de “Deputati” e foram impressas com cor e tipografia diferentes do original.
Para uma fonte ouvida pelo Italianismo, no Brasil e sob condição de anonimato, o candidato Sangregorio “jamais falsificaria cédulas com erro de digitação”. “Qualquer bandido faria um scanner de alta resolução com as mesmas cores. Fizeram de propósito para incriminar o candidato”, diz ela.
Na denúncia, Sangregorio não excluiu que a alegada fraude possa ter sido obra dos seus adversários políticos para prejudicá-lo.
Na ocasião, o senador Fabio Porta afirmou em nota que “todas essas cédulas obviamente falsas mostram o ‘voto’ na lista da USEI e a preferência pelo candidato Sangregorio”.
Perguntado se ele seguirá adiante com a denúncia, mesmo tendo sido eleito, ele disse que está avaliando com advogados e o partido. “Fomos os primeiros a denunciar publicamente”, disse ao Italianismo.
Cédulas canceladas ajudaram o Partido Democrata
As cédulas canceladas permitiram a eleição do deputado Fabio Porta, do PD (Partido Democrático) para o parlamento italiano.
“Alguém quis me prejudicar, acusando-me da responsabilidade pela redação errada de algumas cédulas com o meu nome”, observou Sangregorio.
“Quero saber exatamente quantas cédulas foram anuladas, visto que os demais partidos presentes nas eleições certamente se beneficiaram com isso”, disse o parlamentar.
Eugenio Sangregorio recebeu 17.082 votos. Bem menos que sua companheira de chapa, a ítalo-brasileira Renata Bueno, que obteve 25.179 votos.
Argentina tem histórico de fraudes
As acusações de fraudes não param por aí. Segundo a imprensa argentina, outras dezenas de milhares de cédulas teriam sido preenchidas pelas mesmas pessoas e serão submetidas a perícia caligráfica.
Os eleitores devem escrever à mão o nome do candidato de sua escolha, e as semelhanças de milhares de cédulas são impressionantes, diz o jornal argentino La Politica.
O MAIE, outra força local, que venceu com ampla vantagem sobre o Partido Democrata e a Liga, também enfrenta acusações de fraude que envolveriam parte dos 41.548 votos de Claudio Zin, que concorreu ao cargo de deputado.
O pano de fundo da América do Sul não ajuda a pensar em transparência. No final do ano passado, um senador eleito em 2018 foi destituído pelo parlamento italiano após ter sido verificado que seus votos haviam sido completados pela mesma pessoa – Fabio Porta assumiu a cadeira de Adriano Cario.
Este ano a “trapaça” teria atingido níveis nunca antes vistos. Na Argentina há 770.000 eleitores qualificados para votar, mas mais de 20% do eleitor não costuma participar. Para estas eleições houve uma participação de 34%, 70% mais do que o habitual.
“Há pessoas que nunca votam. Eles hackearam esses votos, mas exageraram e ainda por cima deixaram isso muito óbvio”, disse ao La Politica uma fonte que conhece bem os bastidores das eleições dos ítalo-descendentes.