A boca fala do que está cheio o coração? Se a frase do apóstolo São Mateus estiver correta, Antonio Tajani, ministro das Relações Exteriores e vice-premiê da Itália, expôs o que realmente pensa sobre os milhões de ítalo-brasileiros ao afirmar que “ser italiano não está ligado a sete gerações”.
Essa declaração, feita durante um evento em Rimini nesta quinta-feira (23), revela uma visão que desconsidera o imenso valor das raízes italianas e o impacto cultural e histórico dos milhões de ítalo-brasileiros que, apesar da distância geográfica, mantêm viva a herança italiana, seja no Brasil ou em outras partes do mundo.
Ao sugerir que a italianidade se perde ou se adquire conforme o contexto atual, Tajani atinge diretamente a identidade de uma comunidade que, ao longo das gerações, carrega consigo os valores, as tradições e a cultura que definem o que significa ser italiano.
O ministro, que ocupa um dos cargos mais influentes do governo italiano, parece ignorar que a identidade italiana não é apenas um vínculo territorial ou uma questão de proximidade geográfica. Ser italiano é muito mais do que isso; é uma herança que transcende fronteiras, sendo transmitida de geração em geração. Desprezar essa conexão é, em última instância, enfraquecer a própria identidade italiana.
A defesa do “ius scholae” como mais um critério para a cidadania italiana, promovida por Tajani e seu partido Força Itália (FI), é um debate legítimo, mas que deveria ser conduzido com a devida consideração pelos direitos dos ítalo-descendentes.
No entanto, é preocupante que essa discussão esteja sendo feita às custas de desvalorizar o “ius sanguinis”, princípio que reconhece o direito à cidadania daqueles que possuem vínculos de sangue com a Itália, independentemente do tempo ou das gerações que passaram desde a imigração.
A fala de Tajani reflete uma visão rasa e imediatista, que desconsidera o papel vital que a diáspora italiana desempenhou ao longo dos séculos, espalhando a cultura italiana pelo mundo.
Ao invés de enfraquecer o “ius sanguinis” e, por consequência, desvalorizar milhões de ítalo-brasileiros, os líderes italianos deveriam buscar maneiras de fortalecer esses laços e reconhecer a importância daqueles que, independentemente de quantas gerações tenham passado, carregam a Itália no coração.
Uma pergunta que não quer calar é: será que a primeira-ministra Giorgia Meloni compartilha dessa visão de seu vice-premiê? Isso assusta.