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Cidadania italiana por dinheiro e votos: prefeitos viram réus em escândalo

Cidadania por sangue… ou por pix? O escândalo que une Brasil, Argentina e prefeitos italianos.

Cidadania italiana por dinheiro e votos: prefeitos viram réus em escândalo
Cidadania italiana por dinheiro e votos: prefeitos viram réus em escândalo

“Cidadania italiana é coisa séria.” A frase, dita em março pelo vice-primeiro-ministro Antonio Tajani, soava como um diagnóstico de autoridade sobre a onda de descendentes latino-americanos em busca da tão sonhada cidadania italiana. Mas bastou o Ministério Público fazer o básico — investigar — para descobrir que, se há picaretagem, ela começa nos gabinetes.

O novo escândalo da cidadania italiana explodiu em dois pequenos e discretos municípios da Val di Sangro: Montebello sul Sangro e Borrello, na região do Abruzzo. Neles, segundo a Promotoria de Lanciano, floresceu um sistema de reconhecimento de cidadanias tão ágil quanto lucrativo. E, ao contrário do que insinuava o ministro, os operadores do esquema não estavam nas agências que prestam consultoria, mas nos municípios italianos.

Dois prefeitos agora respondem por corrupção, associação criminosa e falsidade ideológica. Também figuram na lista funcionários públicos e empresários cheios de criatividade e senso prático. Os alvos? Descendentes da América do Sul, principalmente argentinos e brasileiros. Os meios? Residências fictícias, processos agilizados, carimbos simpáticos e um “PIX” amigo entre 2.500 e 5.000 euros.

A mecânica era engenhosa. Os novos “residentes” italianos surgiam como fantasmas em imóveis abandonados, hotéis desativados e casas onde nem o carteiro ia. Mas tudo certo na certidão: italianíssimos, com direito a inscrição no AIRE assim que a cidadania saía, para não pesar nas estatísticas demográficas locais. Afinal, não se pode deixar que um esquema de corrupção interfira no Istat, o “IBGE italiano”.

O funcionário-chave do sistema seria Luciano Nicola Giampaolo, servidor que — veja só — trabalhava nos dois municípios. Um verdadeiro talento multitarefa. A acusação? Ter aceitado dinheiro e “outras utilidades” para tornar a fila da cidadania um tobogã. Eficiência é tudo.

O esquema teria dois braços bem definidos: um para os “hermanos”, liderado por Adrian Mario Luciano e Marcela Elena Clavaschino; outro para os brasileiros, sob comando de Mauro Paolini e os irmãos Felipe e Marco Carrer Cruz. A globalização do improviso.

Já os prefeitos teriam ganhado mais do que aplausos. Nicola Di Fabrizio, de Montebello sul Sangro, teria recebido vantagens diretas. Armando Di Luca, de Borrello, é acusado de turbinar sua base eleitoral com um pacotão de votos importados, graças a registros fictícios antes da eleição de junho de 2024. Tudo dentro do espírito cívico local.

No total, mais de 280 processos teriam sido fraudados. O número impressiona, mas não tanto quanto o silêncio institucional diante do escândalo. O ministro Tajani, até agora, não se manifestou. Talvez porque, neste caso, os picaretas não estejam falando espanhol nem português, mas façam parte da sua base eleitoral.

Enquanto isso, a oposição municipal tenta salvar o que restou da credibilidade. Em Borrello, os vereadores Carmine Evangelista e Gerardo Petrella pediram a renúncia de Di Luca. Sugeriram que o cargo fique temporariamente com o vice-prefeito Vincenzo Di Benedetto, até o fim do processo judicial. É a tentativa de manter, pelo menos no papel, a legalidade administrativa.

A audiência preliminar está marcada para 16 de fevereiro de 2026, segundo o portal Il Centro. As defesas prometem apresentar versões alternativas dos fatos. Talvez argumentem que tudo não passou de um experimento social sobre globalização, burocracia e jeitinho.

Enquanto isso, no interior da Itália, a cidadania continua sendo um direito. Ou um serviço. Depende do ufficio.

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