De 2002, quando o Serviço de Estatística da União Europeia (Eurostat) começou a contabilizar dados continentais, a 2017, o número de cidadania europeia concedidas a brasileiros aumentou mais de 800%.
Enquanto 2.422 brasileiros obtiveram uma segunda nacionalidade europeia em 2002, por descendência, tempo de residência ou casamento, em 2017, foram 22.503. Nesses 15 anos, um total de 170.187 brasileiros obtiveram uma cidadania de um dos 33 países europeus analisados, dos quais a maioria integra a União Europeia.
O número de brasileiros que receberam uma cidadania europeia saltou 152% somente entre 2007 e 2008. Até então, a Alemanha era o país que mais aprovava pedidos, e foi aí que Portugal passou a liderar os casos.
Portugal foi responsável por 32% do total de cidadanias concedidas entre 2002 e 2017, seguido por Itália (17,8%), Espanha (15,63%) e Alemanha (7,83%). Juntos, esses países concentraram cerca de 75% dos casos.
Os períodos de alta na aquisição de cidadanias europeias por parte de brasileiros apresentam correlação com momentos de crise no Brasil.
O período mais explícito foi entre 2015 e 2016, época em que o Brasil viveu o início da recessão econômica e a crise política que resultou no impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Apenas entre um ano e outro, o total de processos de cidadania bem-sucedidos em países europeus saltou 48,3%.
Na Itália, houve um salto de quase sete vezes nos processos concluídos entre 2015 e 2017. Na Alemanha, onde 13.328 brasileiros obtiveram a cidadania do país desde 2002, a taxa mais alta é também a mais recente, de 2017, quando 1.169 receberam o Staatsangehörigkeitsausweis, o certificado de nacionalidade alemã que permite requisitar outros documentos civis do país, como identidade e passaporte.
Professora e pesquisadora do Instituto Universitário de Lisboa e da University State of Florida (EUA), Beatriz Padilla ressalta que muitos que buscam a nacionalidade europeia por descendência não tem planos de emigrar imediatamente, mas querem ter uma carta na manga diante da situação de instabilidade no próprio país.
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“Quando há uma suspeita de que algum político com quem as pessoas não simpatizam vai ser eleito, sempre aumentam os pedidos [de cidadania]. É uma medida de prevenção”, diz.
Com informações de Cristian Edel Weiss / DW