As colinas de Langhe, no Piemonte, são o coração de vinhos renomados como Barolo e Barbaresco, famosos mundialmente. Porém, esse prestígio convive com uma realidade menos glamorosa: denúncias de uso de mão de obra irregular de imigrantes.
Segundo o jornal Financial Times, a escassez de trabalhadores nas vinícolas italianas levou à dependência de intermediários que empregam imigrantes sem documentação. Muitos são atraídos por promessas de trabalho, mas enfrentam jornadas longas, baixos salários e condições precárias.
Fallou, imigrante senegalês, trabalhou em vinhedos da região em 2024. Contratado por intermediários, recebia apenas €5 por hora e trabalhava até 11 horas por dia sem equipamento adequado. Situações como a dele são comuns, mas raramente denunciadas, pois os imigrantes temem represálias ou deportação.
O problema se agravou com o aumento da demanda por vinhos europeus desde 2015. Antes, a colheita de uvas era realizada por famílias e moradores locais. Hoje, a produção intensiva exige mais trabalhadores, que são recrutados por agências nem sempre regulares.
Procuradores locais apontam que a fiscalização é difícil, já que as vinícolas terceirizam a contratação. Mesmo com prisões de intermediários acusados de abuso, as punições são leves e a prática persiste.
Sergio Germano, presidente do consórcio de vinhos de Langhe, defendeu a criação de uma lista de contratantes que sigam padrões éticos.
Já Matteo Ascheri, ex-presidente do consórcio de Barolo, criticou a falta de adesão das vinícolas a um código de ética trabalhista, mas foi afastado por propor mudanças.
A exploração dos trabalhadores ameaça a imagem de excelência dos vinhos italianos. “É difícil aceitar que empresários de uma região tão prestigiada não tenham condições de tratar melhor seus funcionários”, afirmou o procurador Biagio Mazzeo.