É versão corrente a de que o Brasil tem esse nome por causa do pau-brasil, árvore que aqui abundava à época do Descobrimento (hoje, o único remanescente que conheço é um espécime franzino junto ao estacionamento da faculdade em que trabalho).
Na verdade, há controvérsias sobre a origem do nome do nosso país, daí eu ter empregado a palavra “versão” logo acima. Mas a mesma incerteza não ronda o nome Itália, este de etimologia menos polêmica.
Ocorre que os oscos e os úmbrios, povos que na Antiguidade habitavam a Península Itálica juntamente aos latinos, eram grandes criadores de gado, sua principal fonte de riqueza e base de sua economia. E os bezerros, que em latim eram chamados de vituli e também vitelli (este, um diminutivo de vituli), denominavam-se vitloi em osco e em umbro, línguas aparentadas ao latim.
A origem do termo se encontra no indo-europeu, língua pré-histórica que deu origem aos idiomas supracitados, e mais precisamente na hipotética palavra *wet-olo, em que o radical *wet- significa “ano”. Portanto, o vitulus latino e o vitlos osco e umbro referiam-se a um animal de entre um e dois anos de vida, isto é, um filhote.
Como disse, o gado era tão importante para esses povos que até moedas traziam a imagem de um bezerro, chamado então vitalos. Os gregos, que haviam se estabelecido no sul da Península, na chamada Magna Grécia, não tinham o som v, que então se pronunciava como /w/, logo passaram a chamar os povos vizinhos de ítaloi, donde a designação ítalo para os habitantes da região. Logo, Italía significava em grego “terra dos ítalos” ou “terra dos bezerros”.
Embora não seja o objeto deste artigo, é curioso saber que Espanha significa “terra dos coelhos”, França é a “terra dos homens livres”, Inglaterra a “terra dos pescadores”, Alemanha “terra de todos os homens”, Áustria “reino do leste”, Romênia “terra dos romanos”, Noruega o “caminho para o norte”, e assim por diante.
Aldo Bizzocchi é doutor em Semiótica e Linguística Geral pela USP com pós-doutorados em Etimologia pela USP e em Linguística Comparada pela UERJ e pesquisador do NEHiLP-USP – Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (www.nehilp.prp.usp.br). É autor dos livros Léxico e ideologia na Europa ocidental (Editora Annablume, 1998), Anatomia da cultura (Editora Palas Athena, 2003), O universo da linguagem (Editora Contexto, 2021, e Audible Audiobooks, 2003), Uma breve história das palavras (Editora Almedina, Edições 70, 2023) e do DVD O indo-europeu e as origens da linguística (A&E Produções, 2008), além de ter participado de outros nove livros. Entre 2006 e 2015, foi colunista da extinta revista Língua Portuguesa (Editora Segmento). Atualmente mantém o blog Diário de um Linguista e o canal do YouTube Planeta Língua. Seu site pessoal é www.aldobizzocchi.com.br.