Em uma tempestuosa manhã de abril, as sinuosas ruas de paralelepípedos estão praticamente desertas nesta cidade de pedra e madeira no alto dos Apeninos da Itália.
Há um século, mais de 100 crianças frequentavam a escola local. Agora, ela está fechada e apenas três crianças vivem na aldeia, uma delas com apenas alguns meses de idade – o primeiro bebê nascido em uma década.
No passado, a cidade contava com 4 mercadinhos; agora não há nenhum. Mas tudo isso pode estar prestes a mudar drasticamente.
Calascio, na província de Áquila, é uma das 20 cidades em toda a Itália que devem receber, cada, € 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões) do governo de Roma. O dinheiro destina-se a dar nova vida às aldeias abandonadas e despovoadas da Itália, restaurando edifícios abandonados, atraindo novos moradores e revertendo décadas de negligência.
Os fundos fazem parte de € 200 bilhões que a União Europeia está liberando para a Itália, com juros baixos, para ajudá-la a se recuperar da crise econômica pós-pandemia.
Uma chance de restaurar a vila
Cada uma das 20 regiões e províncias autônomas da Itália foram convidadas a nomear apenas uma cidade para receber € 20 milhões. Calascio foi a vencedora do Abruzzo, uma região no meio da Itália que é conhecida por montanhas cobertas de neve, terremotos e castelos imponentes.
Antes da Primeira Guerra Mundial, Calascio tinha uma população de 2.500 habitantes. Isso agora diminuiu para menos de 140 e, durante os invernos rigorosos, pode haver apenas 90 moradores.
A pobreza e a falta de empregos fizeram com que as famílias fugissem para os Estados Unidos e Canadá no final do século 19, e depois para a Bélgica e o norte da França para trabalharem nas minas de carvão.
“A vida era muito difícil aqui. A aldeia só recebeu água corrente em 1911. Era pobre, como tantas outras partes da Itália. Quando as pessoas saíam, elas simplesmente fechavam a porta da frente e pronto. Suas casas foram abandonadas”, diz Paolo Baldi, prefeito da da cidade.
Uma série de projetos agora promete dar uma nova vida ao vilarejo.
O prefeito quer estabelecer um albergo difuso, um conceito italiano em que as casas históricas vazias de uma aldeia são transformadas em alojamento, agrupadas em torno de um edifício central para recepção, um restaurante e um bar. Há também planos para estabelecer um museu e um espaço de galeria para arte local.
Segundo Baldi, 5 milhões de euros serão dedicado para a reestruturação do castelo Rocca Calascio, que fica no topo da vila. Ele foi nomeado pela National Geographic como um dos 15 castelos mais bonitos do mundo e apareceu em vários filmes – “Um Homem Misterioso” (2010), com George Clooney, ou “O Nome da Rosa” (1986), com Sean Connery, por exemplo.
Uma escavação arqueológica será encomendada para explorar o local e tentar estabelecer quando o castelo foi construído.
Haverá ainda uma escola de pastores para ensinar aos jovens a arte de criar ovelhas – Calascio já foi próspera com lã.
Prédios abandonados serão transformados em espaço para novas start-ups, com grandes esperanças de atrair nômades digitais que tenham a liberdade de morar onde quiserem.
Esses projetos devem, se tudo correr como planejado, criar cerca de 100 empregos diretos e indiretos, diz o prefeito Baldi.