Nas últimas semanas, 12 cidadãos de países da União Europeia foram detidos ao desembarcarem em aeroportos do Reino Unido, e levados aos centros de expulsão de imigrantes.
Essa é a política “ambiente hostil” de parte dos funcionários da polícia e dos serviços de migração. A maioria dos detidos foram mulheres.
Os relatos de algumas vítimas ao jornal britânicoThe Guardian indicam que esses seus casos são apenas a ponta do icebergue.
Ao que tudo indica, as expulsões são baseadas em uma interpretação errada da nova legislação pós Brexit para trabalhadores imigrantes.
Os migrantes expulsos são cidadãos italianos, gregos, espanhóis e búlgaros. Eles estavam sem visto de trabalho, mas tinham entrevistas de emprego agendadas.
O Ministério britânico da Administração Interna, o Home Office, garante que visitantes nestas condições podem “ir a reuniões, conferências, seminários, entrevistas” e “negociar e assinar acordos e contratos”.
Outros cidadãos estavam em violação das novas regras, que agora proíbem cidadãos europeus de frequentar estágios não-remunerados.
Detenções
Eugenia, uma espanhola detida por 24 horas no aeroporto de Gatwick, Inglaterra, antes de ser expulsa, ficou presa em uma sala com vários outros europeus.
Ela contou que uma moça de nacionalidade checa chegou em um avião vindo do México e foi obrigada a regressar ao país de origem, mesmo depois de se oferecer para pagar uma passagem para a República Checa.
A espanhola chegou em Gatwick no dia 2 de maio, vinda de Bilbao, e agora jura que nunca mais voltará ao Reino Unido. “Como eu, aquela moça mexicana sabia que não ia começar a trabalhar imediatamente, mas pensou que podia procurar emprego e voltar ao Reino Unido depois de obter um visto de trabalho”.
A espanhola de 24 anos tinha passagem de retorno e preencheu uma minuta digital de viajante na qual explicou tudo. Mesmo assim, teve o celular apreendido e foi trancada em uma sala com outras imigrantes, até embarcar num voo com destino a Barcelona.
Outra cidadã espanhola, Maria, de 25 anos, está traumatizada com o tratamento sofrido e receia ter contraído Covid-19 por conta da detenção.
Ela viajou de Valência para o Reino Unido, mas foi impedida de entrar, mesmo propondo pagar uma passagem de volta para a Espanha no mesmo dia. Foi enviada com outros europeus para o Yarl’s Wood, um centro de detenção a duas horas do aeroporto.
Devido a um possível surto de Covid-19 nessas instalações, foi obrigada a ficar trancada no quarto por três dias, assustada com a possibilidade de ter sido exposta ao vírus.
Depois disso, foi libertada com ordens de cumprir quarentena na casa da irmã, em Bexleyheath, no sudeste de Londres. “Tiraram minha liberdade e eu não conseguia sequer falar com um advogado”, disse.
Política de hostilização
A advogada Araniya Kogulathas, da ONG Fiança para os Imigrantes Detidos, considera que os cidadãos europeus começam a experimentar em primeira mão a política de “ambiente hostil” britânica quanto à imigração.
“O Home Office tem de explicar de que forma explorar o mercado de trabalho ou ir a uma entrevista é justificativa para a recusa de entrada de cidadãos da União Europeia nas fronteiras”, declarou Kogulathas.
Oito eurodeputados escreveram à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, preocupados com essa situação. “Enviar jovens cidadãos europeus para centros de detenção de imigrantes é extremamente desproporcionado e viola o espírito de boa cooperação que deveríamos esperar”, explicou Dacion Ciolos, presidente do grupo de eurodeputados Renew Europe.
Em resposta, o porta-voz oficial do primeiro-ministro Boris Johnson comentou: “estamos a cooperar muito dentro do espírito e dos termos dos acordos que temos com a União Europeia”. (Com informações da RTP)