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Por que os atletas italianos vestem azul?

O azul não está presente na bandeira italiana, mas é a cor de todas as equipes esportivas do país. Aqui está o motivo

atletas italianos vestem azul
O azul não está presente na bandeira italiana, mas é a cor de todas as equipes esportivas do país | Foto: Divulgação

Com o início dos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris, os torcedores italianos estarão torcendo pelos gli Azzurri – ‘os Azuis’.

O azul — ou, para ser mais específico, o azul celeste — tem sido a cor das equipes nacionais italianas há quase 100 anos, apesar de não estar em nenhum lugar na bandeira verde-branca-e-vermelha do país.

Seus amigos mais poéticos podem tentar convencê-lo de que o azul profundo usado pelos atletas italianos serve como um lembrete do mar e do céu invejáveis da Itália. Mas a verdadeira explicação é histórica e um tanto mais prosaica.

Precisamos voltar no tempo para uma Itália diferente — antes da Segunda Guerra Mundial e antes de a Itália se tornar uma república em 1946.

Antes de os italianos votarem para se livrar da monarquia há 75 anos, o país era governado pela Casa de Saboia, uma dinastia real que primeiro ascendeu ao poder na parte ocidental dos Alpes, no que agora chamamos de noroeste da Itália e sudeste da França.

Os Saboia expandiram gradualmente seu domínio até que se estendeu por toda a península italiana, tornando-se figuras de destaque na campanha para unificar a Itália em um único reino em 1861.

O recém-nascido Reino da Itália apresentava o brasão da Casa de Saboia, uma cruz branca sobre um fundo vermelho, sobre a bandeira nacional que conhecemos hoje.

Mas espere: note a borda azul ao redor dessa cruz?

Isso porque o azul era a terceira cor da Casa de Saboia: sendo católicos devotos, a dinastia invocou a proteção da Virgem Maria — tradicionalmente retratada vestindo azul profundo — adicionando a cor aos seus estandartes vermelho e branco.

A tonalidade específica — definida como “um tom de azul saturado entre o azul pavão e a pervinca” — ficou conhecida como azzurro Savoia, ou ‘azul Saboia’.

Então, algumas décadas depois, quando a Itália começou a enviar atletas aos Jogos Olímpicos recentemente revividos e criou a primeira seleção nacional de futebol, as associações esportivas precisavam de cores nacionais. As opções eram verde, vermelho, branco — ou azul.

A escolha inicial foi o branco. A primeira equipe de futebol a representar a Itália internacionalmente, em 1910, jogou seus primeiros jogos com um uniforme branco com uma pequena fita tricolor.

Foi só em 1911 que a equipe adotou seu novo uniforme oficial: azul com uma cruz vermelho e branca de Saboia sobre o coração. Eles o usaram pela primeira vez em uma partida contra a Hungria em 6 de janeiro de 1911 (que perderam por 1-0).

O branco permaneceu como a cor alternativa da equipe de futebol, assim como a cor usada pela maioria dos atletas italianos nos Jogos Olímpicos de 1912.

Mas com a criação do Comitê Olímpico Nacional Italiano em 1914, começou uma campanha para que todos os atletas que representassem a Itália usassem o mesmo uniforme. Nos Jogos de 1932 em Los Angeles, os uniformes azul claro — ainda com a cruz de Saboia — haviam se tornado praticamente padrão.

O design passou por algumas modificações ao longo dos anos. Os fascistas de Benito Mussolini adicionaram seu símbolo, o fasces romano (um feixe de varas representando força na unidade) ao lado do brasão de Saboia.

O italiano Gianmarco Tamberi comemora com o saltador em altura Lamont Marcell Jacobs após vencer a final masculina dos 100m nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 | Foto: AFP
O italiano Gianmarco Tamberi comemora com o saltador em altura Lamont Marcell Jacobs após vencer a final masculina dos 100m nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 | Foto: AFP

Em certo momento, Mussolini até insistiu que os competidores italianos trocassem seus uniformes azuis por pretos; os atletas alternavam entre uniformes pretos e azuis nas infames Olimpíadas de 1936 em Berlim, assim como em outros eventos no final dos anos 1930.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a queda do Fascismo, o uniforme da Itália passou por mais mudanças.

O referendo de 1946 que transformou a Itália em uma república permitiu que o país se livrasse tanto do fasces quanto da cruz de Saboia de seus uniformes.

O lugar dessas insígnias sobre o coração foi substituído por uma bandeira tricolor que adorna a maioria dos uniformes esportivos nacionais até hoje.

A tonalidade do azul da Itália também variou, desde azul celeste até azul marinho e algo próximo ao turquesa. (Vale lembrar que a Itália tem um número surpreendentemente grande de palavras para o azul.)

O branco com detalhes azuis permanece como o uniforme alternativo mais comum, mas os atletas italianos também já foram vistos com uniformes pretos ou vermelhos (nada de verde, por razões que só podemos supor serem estéticas).

Variações são especialmente comuns em certos eventos — notavelmente ciclismo, automobilismo, esqui, patinação e outros esportes de inverno.

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