Jovens brasileiros mostram que o período sem representação do Brasil na F-1 parece estar chegando ao fim
Depois do primeiro ano completo sem brasileiros na Fórmula 1 em quatro décadas, virou lugar comum dizer que o Brasil sofre uma entressafra de talentos rumo ao topo do automobilismo mundial. Mas basta uma visita a uma das etapas do WSK, espécie de campeonato mundial de kart realizado em diversas etapas na Europa, para perceber que na verdade a jovem geração de kartistas brasileiros tem tudo para chegar brilhar em breve nas pistas do mundo.
O repórter Rodrigo França foi até Lonato, na Itália, considerado o “centro do universo” quando se trata de competições de kart. Não por acaso, mais de 350 pilotos de 44 países diferentes disputaram as provas no tradicional circuito de South Garda, bem próximo do lago de mesmo nome que faz da região um dos destinos turísticos mais concorridos da Europa.
Mas no inverno, a concorrência é outra: por décimos de segundo. E as fotos na lanchonete e restaurante do kartódromo mostram que saíram do WSK os principais nomes da F1 nos últimos anos: Sebastian Vettel, Lewis Hamilton, Max Verstappen, Nico Rosberg e Fernando Alonso —o espanhol, por sinal, esteve neste último final de semana acompanhando os pilotos de 8 a 15 anos de idade que lutam para passar na “peneira” da F-1.
O Brasil é representado atualmente por sete pilotos: Rafael Câmara, Matheus Ferreira e Vinicius Tessaro na OK Junior (para pilotos de até 13 anos), Gabriel Bortoleto, Guilherme Figueiredo e Matheus Morgatto na OK (o último passo antes de entrar nos fórmulas) e Enzo Bettamio na 60-Mini (a categoria de entrada, para os pilotos mais novos, com até 12 anos).
O esquadrão verde-amarelo também terá em breve Ricardo Gracia (campeão brasileiro de kart), Gaetano de Mauro (que compete na Stock Car mas também acelera na KZ, nos karts mais velozes, com marcha) e Julia Ayoub —que venceu uma seletiva entre pilotas de vários países e entrou no programa da FIA que pretende apoiar a maior presença feminina no automobilismo.
A participação em programas específicos, por sinal, é um dos grandes atrativos do WSK – as equipes de F1 inclusive já mantém “olheiros” nas competições europeias a fim de garimpar os jovens talentos e já assinar contrato com as futuras estrelas quando elas ainda estão no kart. Foi o caso do monegasco Charles Leclerc – que no ano passado estreou na F1 e em 2019 correrá pela Ferrari – com apenas 21 anos de idade.
“Até poucos anos atrás, Leclerc estava aqui acelerando no WSK e isso mostra o quanto esta categoria forma pilotos para F1 atualmente”, conta o jovem pernambucano Rafael Câmara. Aos 13 anos, ele já integra uma das principais equipes europeias, a Birel Art, e venceu a etapa de Adria do WSK neste ano e atualmente está na terceira colocação do campeonato – ao todo, são 105 pilotos participantes.
Assim como no vestibular, a concorrência para o sonho de ser piloto é uma grande pressão. Com a importante diferença: aqui, a competição é contra concorrentes do mundo todo. E, além de ter talento, os pilotos ainda precisam chamar a atenção das equipes de F1 ainda jovens —Caio Collet, que competiu no kart até 2017, fechou neste ano com a Renault. Enzo Fittipaldi e Gianluca Petecof são outros dois brasileiros que estão em programas da F-1, da Academia Ferrari.
Com a entrada de Pietro Fittipaldi como piloto de testes na Haas e Sergio Sette Câmara na McLaren, os brasileiros mostram que o período sem representação do Brasil na F-1 parece estar chegando ao fim. E, com tantos jovens talentos mostrando serviço nas bases do WSK, o Hino Brasileiro tem tudo para voltar à cena em breve nos pódios do mundo.
Por Rodrigo França / Exame VIP