O ítalo-brasileiro José Altafini, o Mazzola, jogou duas Copas do Mundo, uma pelo Brasil e outra pela Itália. Com esse currículo, o jogador de futebol é um dos mais importantes representantes do sucesso de descendentes de imigrantes italianos no nosso país.
Nascido em Piracicaba em 24 de julho de 1938, José João Altafini é filho dos italianos Gioacchino Altafini e Maria Marchesoni, nascida na cidade de Caldonazzo, na região do Trentino-Alto Ádige. O casal emigrou para o Brasil pouco antes da Segunda Guerra Mundial, em busca de melhores condições de vida.
Ele começou a jogar futebol no Clube Atlético Piracicabano e, em 1956, aos 17 anos, foi para o Palmeiras. No Palestra Itália, ganhou o apelido de Mazzola, por conta da semelhança física com Valentino Mazzola, craque da seleção italiana da década de 1940.
Artilheiro no Palmeiras
Atacante goleador e que se deslocava muito bem na grande área, Mazzola rapidamente ganhou espaço no time principal do Palmeiras, que na época era comandado pelo técnico Aymoré Moreira.
Desde 1951 sem conquistar títulos, a fase não era das melhores no Palmeiras. Mas o potencial do jovem centroavante dava esperança a todos de levar o Alviverde de volta às conquistas.
Na abertura do Campeonato Paulista de 1957, no dia 9 de junho, contra o Noroeste de Bauru no Parque Antártica, o Palmeiras venceu por 5 a 2, com cinco gols de Mazzola. Sete dias depois, o jogador ítalo-brasileiro fazia sua estreia com a camisa da Seleção Brasileira, num amistoso contra Portugal, no Pacaembu.
Na vitória do Brasil por 3 a 0, Mazzola entrou durante a partida, no lugar de Pagão, ainda a tempo de marcar seu primeiro gol com a amarelinha.
O jogador ficou no Palmeiras até maio de 1958, período no qual disputou 114 jogos e marcou 85 gols. Não entanto, acabou não conquistando os tão sonhados títulos.
Campeão na Copa de 58
Mas o primeiro título de sua carreira seria o maior de todos. Na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, Mazzola ajudou a Seleção Brasileira a conquistar o primeiro de seus cinco campeonatos mundiais.
Iniciando a competição como titular do ataque brasileiro, Mazzola marcou dois gols na estreia, quando o Brasil venceu a Áustria por 3 a 0. Durante a campanha, Mazzola e o ponta-direita Joel perderam lugar no time para dois estreantes em mundiais: Pelé e Garrincha. Do banco, viram o Brasil vencer a Suécia por 5 a 2 na final e conquistar pela primeira vez a Copa do Mundo.
Após a Copa, Mazzola foi vendido para o Milan por 25 milhões de cruzeiros, uma fortuna na época. Com o dinheiro, o Palmeiras contratou craques como Djalma Santos e Julinho Botelho e montou o time que seria campeão paulista em 1959. No final das contas, Mazzola ajudou o Alviverde a voltar a ganhar títulos, mesmo que indiretamente.
Copa do Mundo pela Itália
Na Itália, Mazzola passou a ser chamado pelo sobrenome, Altafini. Mudou o nome, mas o futebol continuou o mesmo. Em sua primeira temporada com a camisa do Milan, o atacante sagrou-se campeão Italiano, marcando 28 gols em 32 jogos.
O ótimo desempenho resultou em uma convocação do jogador, que tinha dupla cidadania, para a seleção italiana. A estreia pela Azzurra foi em 1961, nas Eliminatórias para a Copa do Mundo do ano seguinte, quando marcou um gol na vitória por 4 a 2 sobre Israel, em Tel-Aviv.
A Itália se classificou e Mazzola estava no grupo que disputou a Copa do Mundo no Chile, em 1962. No entanto, a campanha italiana foi sofrível. Após empate com a Alemanha Ocidental por 0 a 0, derrota para o Chile por 2 a 0, e vitória sobre a Suíça por 3 a 0, a Itália ficou em 3° lugar do grupo e foi eliminada na primeira fase.
Anos mais tarde, Mazzola declarou que se arrependeu de ter disputado o Mundial de 62 pela Itália e não pelo Brasil. “Joguei pela Itália e vi meus ex-colegas de seleção levarem para casa a segunda Copa”, disse o ex-jogador.
Por outro lado, Mazzola também diria mais tarde que não havia espaço para ele na Seleção Brasileira em 1962. “Naquele tempo, o Brasil não chamava quem jogava no exterior. Com 23, 24 anos, ficaria muito chateado se perdesse um Mundial. Não fui eu quem deixou o Brasil. Foi o Brasil que me deixou”.
Mazzola destrói no Milan
Apesar da frustração na Copa, o ano de 1962 foi um dos melhores da carreira do ítalo-brasileiro Mazzola. O Milan voltou a ser campeão italiano e ele terminou na artilharia da competição, com 22 gols.
Porém, o melhor ano do jogador no Milan foi 1963. O time conquistou sua primeira Copa dos Campeões da Europa e Mazzola foi artilheiro do torneio, com 14 gols em nove partidas. Seu desempenho foi coroado com dois gols na decisão contra o Benfica, então bicampeão europeu, no Estádio de Wembley, quando o time italiano venceu por 2 a 1.
Essa marca de 14 gols em uma única edição da Liga dos Campeões se manteve como recorde por décadas, até Cristiano Ronaldo superá-la na edição de 2013/2014.
Outras campanhas na Itália
Em 1965, Mazzola trocou o Milan pelo Napoli, onde formou dupla de ataque ao lado do argentino naturalizado italiano Omar Sivori, com quem já havia jogado na seleção italiana. Apesar de boas campanhas, incluindo o vice-campeonato nacional na temporada 67/68, Mazzola não conquistou títulos pelo time napolitano.
Em 1972, aos 34 anos, Mazzola foi jogar na Juventus de Turim. No novo clube, não fez o mesmo sucesso dos tempos de Milan, mas ganhou mais dois títulos nacionais, em 1973 e 1975.
Comentarista esportivo
Ele deixou o futebol italiano ao final da temporada 75/76. Em 456 jogos pela Série A, Mazzola marcou 216 gols, consagrando-se como o terceiro maior artilheiro da história do Campeonato Italiano, ao lado do lendário Giuseppe Meazza.
Após deixar a Juventus, Mazzola ainda jogou por mais quatro temporadas nos pequenos FC Chiasso e Mendrisio Stabio, times da Suíça, antes de encerrar a carreira em 1980, aos 42 anos. Atualmente, ele ainda mora na Itália, onde é um dos comentaristas esportivos mais conhecidos do país.
Mazzola se casou com Eleana D’Addio em 1959, com quem teve duas filhas: Patricia, casada com o jornalista e escritor Pedro Oswaldo Nastri, e Cristina, casada com Salvatore Marco Pulvirenti. Ambas nasceram em Milão, na Itália, e moram no Brasil.