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Mazzaferro simboliza triunfo do imigrante italiano no Brasil

Nello Mazzaferro é o exemplo clássico da força de trabalho dos oriundi no Brasil

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Mazzaferro simboliza triunfo do imigrante italiano no Brasil

Nello Mazzaferro chegou ao Brasil em 1949, vindo de uma Itália destruída pela guerra. Fundou uma empresa que leva seu nome e fatura mais R$ 100 milhões por ano.

O grupo Mazzaferro foi destaque em uma extensa matéria de 2017 na revista FORBES Brasil, que a classificou como uma das empresas “pequenas notáveis” brasileiras. O apelido caiu como uma luva, pois a empresa não chega a ser um conglomerado multinacional, mas é um gigante em seu nicho de mercado.

A Mazzaferro é a maior produtora brasileira de linhas de pesca, e uma das maiores do mundo. E atua em outros segmentos relacionados a transformação de plástico, incluindo monofilamentos técnicos para a indústria médica.

Fizemos essa pequena apresentação da empresa, por ela ser menos conhecida do grande público. Mas, vamos ao começo da história, como costumamos contá-la todos os domingos aos leitores da coluna Herança Italiana.

A primeira fábrica foi implantada na Via Anchieta na década de 1960

Viagem rumo a um sonho

Tudo começou quando o jovem italiano Nello Mazzaferro, nascido em 26 de dezembro de 1925 na pequena cidade de San Elpídio a Maré, na província de Fermo, região das Marcas, na Itália, deixou sua família, sua casa e tudo que conhecia até então e resolveu partir para o Brasil.

O ano era 1949, quando ele chegou à cidade de São Paulo e fez amizade com italianos e pessoas de diversas outras nacionalidades, o que contrariava frontalmente os princípios pregados por Mussolini na Itália. Apaixonado pelo novo estilo de vida no Brasil, Nello voltou para a Itália e buscou seu irmão Mário.

De volta ao Brasil, os irmãos começaram a trabalhar na manutenção e rebobinamento de motores elétricos em uma fábrica de São Caetano do Sul. Uma vez por ano, iam a Itália para visitar parentes e traziam mercadorias para vender com lucros, pagando assim as viagens.

Em busca de novas oportunidades, conheceram o italiano Giovanni Toschi, que os aconselhou a trazerem linhas de pesca de nylon para vender no Brasil, já que o produto era escasso no país. Voltaram para a Europa, compraram grande quantidade do material e tiveram grande sucesso nas vendas.

A Mazzaferro nasceu do sonho de um imigrante italiano

A ideia de Mazzaferro começa a crescer

Em 1953, conheceram o radiotécnico Píer Luigi, que se juntou para participar da empreitada. Ele inventou uma maneira mecânica de enrolar os fios em carreteis menores. A empresa era formada por Nello, Mário, Luigi e Massimo Ballardini, que veio para o Brasil em 1954 se juntar ao grupo.

Na época, eles enchiam as malas de carreteis e vendiam nas lojas. Tudo que ganhavam era revertido na pequena empresa, que nasceu na garagem da casa onde moravam, na Vila Mariana. Separavam apenas o suficiente para se alimentarem, pois a prioridade era alimentar o sonho de um dia terem uma grande empresa.

Os fios eram importados, enrolados em carreteis na garagem e vendidos nas lojas pela cidade de São Paulo. Assim, começou a crescer a empresa Irmãos Mazzaferro & Cia Ltda.

Nos anos seguintes, eles compraram uma extrusora, equipamento para transformar plástico em fios, e começaram a fabricar seu próprio produto. Na época, eles receberam o incentivo da rede de lojistas com quem já tinham relação comercial, como Casa Caça e Pesca, Casa Winchester e Casa Âncora, entre outros.láudio Ma

Produção própria e fábrica

No entanto, acabaram esbarrando em dificuldades criadas pelos fornecedores, que faziam de tudo para esconder a tecnologia de fabricação. Mas, a partir daquele momento, o sucesso era inevitável e os jovens empreendedores começaram a procurar um terreno para abrigar a produção, pois a demanda aumentaria muito.

Em 1963, a primeira fábrica foi aberta no Km 18 da Via Anchieta. Nessa unidade a Mazzaferro colocou em prática todas as tecnologias possíveis, que resultaram dos avanços enormes na tecnologia de transformação dos plásticos a partir do final da década de 1960.

Ao dominar o princípio da fabricação de polímeros, a empresa deixou de ser comerciantes de fios para assumir papel de protagonista na fabricação de matérias primas e pioneira no mercado de nylon.

Ainda na década de 1960 a Mazzaferro registrou para o Brasil o nome Grilon, ligado a uma extensa linha de fios da marca. Na década de 1970, a empresa modernizou a produção de monofilamentos e multifilamentos, o que permitiu a entrada no mercado de cordas e cabos trançados e cordonéis.

Novas tecnologias impulsionam Mazzaferro

Em 1971 foi colocado em atividade um grande reator para a produção de homopolímeros e copolímeros, juntamente com uma linha bifronte de extrusão de monofilamentos, abrindo caminho para fabricação de produtos mais sofisticados e de maior valor agregado.

No ano de 1973, o lançamento da revolucionária linha de pesca Trilon tornou-se um marco na produção de monofilamentos, pela alta tecnologia incorporada ao produto e pela sofisticação da matéria-prima desenvolvida internamente, tornando-se a atual Mazzaferro Tecnopolímetos Ltda.

Naquele mesmo período, a empresa iniciou a produção de fios para pneumáticos, telas técnicas, esteiras transportadoras, zíperes, velcro e costura para os produtores que almejavam a independência da importação de insumos.

Na década de 1990, a empresa decidiu dividir suas atividades em três diferentes unidades de negócios. Nasceram a Mazzaferro Tecnopolímeros Ltda, a Mazzaferro Produtos para Pesca Ltda e a Mazzaferro Fibras Sintéticas Ltda. A Mazzaferro Monofilamentos Técnicos Ltda já operava autonomamente desde 1984.

Miriam Bastos, plant manager da Mazzaferro Monofilamentos | Foto: divulgação

Homenagem e despedida de Mazzaferro

A década de 1990 também marcou a entrada nos quadros executivos da segunda geração dos fundadores. Os filhos de Nello, Mário, Luigi e Massimo começaram a se envolver no cotidiano da empresa e até hoje estão no grupo.

Em 2005, Nello Mazzaferro foi homenageado pela Câmara Municipal de São Paulo com o título de Cidadão Paulistano. “Agradeçam sempre a Deus pelas bençãos e pela sorte, e a este país pelas oportunidades. Procurem sempre trabalhar mais e melhor e continuar sendo aquilo que já são: honrados e persistentes. Nunca desistam, nunca se deem por vencidos. Lutem, lutem sempre, e sejam agradecidos“, declarou na época.

O ano de 2011 foi marcado pela morte de Nello Mazzaferro, aos 85 anos, deixando a esposa Benita Del Vivo Mazzaferro e os filhos Giovanni, Maurízio, Cláudio e Cristina.

A empresa é líder em seu segmento no Brasil

Faturamento e diversificação

Em 2016, a empresa chegou aos R$ 100 milhões de faturamento, sendo a área de pesca responsável por 70% desse desempenho. Nesse segmento, só existe uma empresa que compete com a Mazzaferro, que fica nos Estados Unidos.

O forte da exportação são as linhas para pesca esportiva. Os mercados vão desde a Argentina até o México, mas a empresa também já conseguiu entrar em regiões como Estados Unidos e Europa.

No braço da empresa de utilidades domésticas está a produção de itens como vassouras e escovas. Na área de monofilamentos técnicos há desde cerdas para higiene oral até linhas invisíveis para costura.

Já na área de indústria médica, a empresa produz monofilamentos para tela cirúrgica e para sutura, por exemplo. Esses produtos são exportados para mais de 40 países, de acordo Cláudio Mazzaferro, atual CEO da empresa.

No setor de cosméticos, a empresa produz displays e cartelas de mechas para demonstração de coloração capilar. Esses produtos são exportados para países como Marrocos, Egito e Jordânia.

A Mazzaferro cresceu e hoje domina o mercado de monofilamentos

Números que refletem uma vida

O grupo tem duas fábricas na Grande São Paulo e um centro de distribuição em Manaus, responsável pelos produtos fabricados na China – parceria iniciada em 1994. Atende mais de 2.500 clientes e exporta para mais de 70 países nos cinco continentes.

São números de uma empresa iniciada em 1953 por iniciativa de mais um imigrante italiano que chegou ao Brasil sem recursos financeiros, mas com muita vontade de trabalhar e ver seus sonhos se transformarem em realidade.

Por Roberto Schiavon/Italianismo

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