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Embaixador do Brasil na Itália se cala diante do decreto da cidadania

O silêncio de Renato Mosca de Souza contrasta com a urgência gerada pelo Decreto-Lei e o projeto que restringe a cidadania por descendência.

Renato Mosca de Souza, embaixador do Brasil na Itália, ao lado da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, durante o G7 | Divulgação
Renato Mosca de Souza, embaixador do Brasil na Itália, ao lado da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, durante o G7 | Divulgação

Mesmo diante de mudanças severas nas regras para o reconhecimento da cidadania italiana, o embaixador do Brasil em Roma, Renato Mosca de Souza, permanece em silêncio. O decreto-lei aprovado no fim de março e o projeto que avança no Senado italiano ameaçam o direito de milhões de brasileiros descendentes de italianos — mas até agora, nenhuma posição oficial foi apresentada pela embaixada.

Mosca de Souza é ítalo-descendente. Representa, simbolicamente e politicamente, uma comunidade estimada em 30 milhões de brasileiros com origens italianas. Ainda assim, optou por não se manifestar sobre as restrições propostas pelo Decreto-Lei 36/2025 e pelo Projeto de Lei S.1450, que impõem novos critérios à transmissão da cidadania por sangue (iure sanguinis).

As novas regras limitam o reconhecimento da cidadania italiana a filhos e netos de italianos nascidos na Itália. Se o pai ou a mãe do requerente não tiverem nascido no país, será necessário comprovar que esse genitor viveu legalmente na Itália por pelo menos dois anos antes do nascimento do filho. A exigência reforça a ideia de um vínculo territorial obrigatório, mesmo quando o laço familiar é direto.

O projeto que tramita no Senado amplia essas restrições e, na prática, exclui da cidadania os descendentes de quarta geração em diante. Ou seja, bisnetos e seus filhos passam a ter o direito negado — um corte profundo na relação entre a Itália e sua diáspora.


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Especialistas em direito sustentam que o decreto contraria o princípio da irretroatividade das leis — é inconstitucional. Isso porque tenta impor exigências a pessoas que, à luz da legislação anterior, já nasceram com direito à cidadania. Aplicar as novas regras a casos passados seria, portanto, juridicamente inadequado.

Diante de um cenário tão delicado, o silêncio da diplomacia brasileira chama atenção. Para parte da comunidade, a ausência de uma resposta clara do embaixador é uma tentativa de evitar atritos com o governo italiano. Para outros, trata-se de omissão diante de um tema que mobiliza milhares de brasileiros.

Nesta semana, em entrevista ao site italiano Gazzeta Diplomatica, Mosca falou sobre sua ligação pessoal com a Itália. “Costumo pensar com frequência na vida difícil do meu avô, que deixou a Itália aos dez anos de idade junto com os irmãos”, disse, ao relembrar a história familiar. O texto destacou “a humanidade e a grandeza” do embaixador, que “não esconde o orgulho de representar o Brasil justamente no país de seus antepassados e que, de certa forma, hoje também sente como seu”.

Apesar do tom afetivo e da conexão pessoal com a história da imigração italiana, Mosca não mencionou, na mesma entrevista, as mudanças na legislação nem o impacto que elas devem causar sobre os brasileiros descendentes.

Renato Mosca de Souza, embaixador do Brasil na Itália, ao lado do presidente italiano, Sergio Mattarella, durante cerimônia oficial no Palácio do Quirinal.
Renato Mosca de Souza, embaixador do Brasil na Itália, ao lado do presidente italiano, Sergio Mattarella, durante cerimônia oficial no Palácio do Quirinal | Foto: Divulgação

Renato Mosca já se manifestou sobre o tema da cidadania em outros momentos. Em entrevista ao Il Giornale di Vicenza, defendeu a simplificação dos processos para brasileiros descendentes. Segundo ele, muitos jovens aguardam há anos por uma resposta. “Facilitar o acesso seria benéfico para ambos os países”, afirmou.

Em outra ocasião, ao jornal O Estado de S. Paulo, criticou propostas que dificultam o acesso à cidadania. Disse que são “visões desconectadas da realidade”, considerando a necessidade da Itália de receber trabalhadores estrangeiros diante do envelhecimento da população.

Essas falas, no entanto, não foram retomadas desde a publicação do decreto e da apresentação do novo projeto de lei. Em um momento de mudanças profundas, o silêncio pesa.

Para quem aguarda na fila da cidadania, a ausência de um posicionamento do Brasil na Itália é mais do que incômoda — é preocupante.

Espera-se ação.

Artigo atualizado às 14h55, de 13/04/2025 para constar que:

O embaixador do Brasil na Itália, Renato Mosca de Souza, se manifestou neste domingo, 13 de abril, em resposta à postagem feita na página do portal Italianismo, no Facebook, sobre o decreto-lei nº 36.

A íntegra da manifestação do embaixador:

Leia o novo artigo: Decreto da cidadania: embaixador diz manter diálogo com autoridades italianas

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