Nas eleições presidenciais do próximo domingo (02), 20.972 eleitores brasileiros na Itália estão aptos a votar. Mas muitos deles podem não comparecer aos postos de votação.
O motivo é a redução da quantidade de seções eleitorais, promovido pelo Cartório Eleitoral do Exterior, em Brasília.
A decisão causa transtornos para muitos brasileiros na Itália. Neste ano, no país, serão mantidas as sessões de votação nas duas sedes de jurisdições consulares, respectivamente em Milão, no norte, e em Roma, no centro do país.
Foram suspensos outros dois locais de votação, um na cidade de Veneza e outro em Florença. Essas duas sessões fazem parte daquelas que foram abertas pela primeira vez para as eleições presidenciais de 2018.
Brasileiros na Itália
Segundo o Instituto Nacional de Estatística Italiana (Istat), 50.666 brasileiros residem na Itália (dados de janeiro de 2021). A maioria (13.977) vive na região da Lombardia, no norte, onde está a cidade de Milão. Em segundo lugar está a região do Lácio, onde fica a capital, Roma, que conta com 6.117 residentes brasileiros. Seguem o Vêneto (5.628), o Piemonte (4.896), Emilia Romagna (4.012) e a Toscana (3.852).
Questionado pela RFI sobre o motivo que levou o governo brasileiro a reduzir os locais de votação no exterior, o Consulado do Brasil em Roma respondeu que “a decisão foi tomada pelo Cartório Eleitoral do Exterior, em Brasília, e comunicada ao Ministério das Relações Exteriores”. À pergunta sobre quanto custa organizar seções eleitorais em Roma e Milão, o consulado afirmou que “a informação está centralizada no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília”.
A resolução prejudica os brasileiros que vivem no Vêneto e na Toscana, regiões do nordeste e centro do país com grande concentração de eleitores que antes contavam com locais de votação mais próximos.
Despesa por conta do cidadão
À RFI o Consulado do Brasil em Roma informou que durante as eleições presidenciais, as cidades de Milão e Roma terão cada uma um único local de votação com diversas urnas. “A jurisdição de Milão cuida das oito regiões do norte e a de Roma é responsável pelas 12 regiões do centro e do sul do país.”
Os brasileiros que vivem distantes de Milão ou Roma têm que viajar pagando as próprias despesas para poder votar. Nas redes sociais, muitos eleitores brasileiros na Itália protestam contra a falta de auxílio dos consulados para o transporte até a seção de votação.
Alguns estão organizando grupos para fretar ônibus e reduzir o custo da viagem para poder votar. É o caso dos brasileiros que vivem na Toscana. No ônibus fretado de Florença para Roma, cada passagem de ida e volta custa € 26, cerca de R$ 150. A passagem de ida e volta de trem custa cerca de € 90, quase R$ 500.
A distância entre as duas cidades é de 275 km, portanto, 550 km ida e volta.
Abstenção por motivos financeiros
A professora Nair Aparecida Pires, 56 anos, vive na Itália desde 1994 e mora na cidade de Treviso, na região do Vêneto, no nordeste do país. Segundo ela, o que está acontecendo é um desrespeito com o eleitor que já tinha transferido o título para Veneza.
“Na verdade, o consulado tinha orientado e aconselhava que a gente fizesse a transferência do título para Veneza. Agora o que resulta é que as pessoas daqui transferiram o título para a seção eleitoral de Veneza, mas vão ter que votar em Milão. Isso acarreta o desgaste físico e financeiro. Porque não é pertinho e é muita despesa” explica a professora.
Segundo ela, muitos brasileiros não vão votar por motivos financeiros. “Tenho dois filhos que votariam, mas a viagem de três pessoas da mesma família do Vêneto para Milão só com o objetivo de votar é uma despesa alta demais. Portanto, sou a única da família que vai votar. Tenho amigas brasileiras na mesma situação”, conta. (Com informações da RFI)