O italiano Angelo Fantin chegou ao Brasil disposto a criar raízes. Não só formou uma família, mas criou a marca de biscoitos Parati, uma gigante no setor.
Essa história de muito trabalho e dedicação de mais um imigrante italiano em solo brasileiro começa em 27 de dezembro de 1949, quando Angelo Fantin desembarca em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, aos 22 anos.
Nascido em Pianezze, cidade na província de Vicenza, região do Vêneto, ele veio ao Brasil para encontrar um novo mundo, longe das guerras, com chances de trabalho e onde poderia formar uma família e participar da construção do país. Era a história de tantos imigrantes italianos daqueles tempos.
Medição de terras e casamento
Quando chegou ao Brasil, Angelo Fantin já era formado como perito agrário. Ele escolheu para morar o município de São Lourenço do Oeste, em Santa Catarina, que iniciava a transição para o plantio mecanizado de trigo.
Assim, o jovem agrimensor italiano desempregado recebeu sua primeira oportunidade de emprego fazendo a medição das terras do município. Era a entrada no mercado de trabalho brasileiro.
Em 1952, Angelo casou-se com Ida Libardoni Fantin e o início de uma família no Brasil o fez repensar a carreira. Com seu espírito empreendedor e visionário, o imigrante foi economizando recursos e percebeu que um bom investimento poderia tirar proveito da grande oferta de matéria-prima no Oeste de Santa Catarina: o trigo.
Angelo Fantin cria a Parati
Dessa forma, em 1972 nascia a Indústrias Alimentícias Parati, fábrica de biscoitos e massas, que rapidamente cresceu e se tornou uma das maiores empresas de alimentos do Brasil.
Nos anos seguintes, a empresa foi diversificando sua linha de produtos, passando a lançar marcas de sucos e achocolatados em pó e chicletes. A fábrica ganhou ampliações e passou a contar com 85 mil metros quadrados de área construída.
Na década de 2000, o grupo já tinha 3.500 colaboradores, cinco centros de distribuição e 36 linhas de distribuição, incluindo uma segunda fábrica, aberta no município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, no ano de 2015.
Empresa cresce e diversifica
Com produção de 120 mil toneladas de alimentos por ano, principalmente biscoitos e massas, a Parati também passou a produzir para outras empresas, como o Grupo Pão de Açúcar, com a marca Qualitá, e para a rede de supermercados Carrefour, dentro do portfólio de marcas próprias.
Entre as marcas da Parati estão Massas Parati, recheados Cartoon, Wafers Minueto, recheados salgados Hot Cracker e refrescos em pó Trink, além de rosquinhas, panettones, gelatinas, barras de cereais e muitas outras linhas. Ao todo, são 280 itens de produtos.
Legado social de Angelo Fantin
No dia 30 de outubro de 2015, o empresário Angelo Fantin morria, aos 87 anos em Florianópolis, vítima de um AVC hemorrágico. Ele deixou a esposa Ida Libardoni Fantin, seis filhos, 14 netos e dois bisnetos.
Além de ter ajudado no progresso de Santa Catarina e do Brasil com seu empreendedorismo, o imigrante italiano também teve atuação política, já que foi eleito vice-prefeito de São Lourenço do Oeste em 1993.
O empresário também era conhecido por suas ações sociais, sendo a mais conhecida o Projeto Moleque Bom de Bola, onde investiu mais de R$ 30 milhões. O trabalho aproxima crianças da prática de esportes e da leitura.
Entre as homenagens que recebeu pela sua contribuição em favor do desenvolvimento do Estado de Santa Catarina, está a Medalha Anita Garibaldi, entregue ao empresário em 2007 pelo então governador Luiz Henrique da Silveira.
Fim de uma era, mas memória é eterna
Em outubro de 2016, um ano após a morte de Angelo Fantin, a Parati foi vendida para a multinacional norte-americana Kellogg Company por 429 milhões de dólares, cerca de R$ 1,38 bilhão. A Kellogg realizou a compra por meio da aquisição da Ritmo Investimento, controladora da Parati. Na época, a receita anual da Parati estava na faixa dos R$ 600 milhões.
Também em 2016, Mariza Fantin, filha do imigrante italiano, lançou o livro Angelo Fantin – A Força do Caráter, que começou a ser escrito com ele em vida.
A biografia, que conta toda a trajetória de seu pai, não está à venda, mas foi distribuída para amigos da família e para algumas bibliotecas. Segundo ela, Angelo Fantin “continua vivo nas atitudes das pessoas e nas lembranças”.
E segue vivo no legado que deixou com seu trabalho, que mais uma vez é a marca forte deixada por um italiano, que veio para o Brasil para realizar seus sonhos e acabou realizando também os sonhos de muita gente.
Por Roberto Schiavon/Italianismo