Vice-primeiros-ministros italianos de extrema direita atritam com Paris ao apoiarem as manifestações dos coletes amarelos
O governo da França convocou para consultas em Paris nesta quinta-feira, 7, seu embaixador na Itália depois de uma série de “declarações desmedidas” e de “ataques sem fundamento” e “sem precedentes” de líderes italianos. Na diplomacia, a convocação do embaixador à sua capital indica a profunda insatisfação de seu governo com o país onde o representa.
“Há vários meses, a França tem sido alvo de repetidas acusações, ataques infundados, declarações ultrajantes que todo mundo conhece e pode ter em mente”, disse, em comunicado, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês, Agnès von der Mühll.
“Isso é sem precedentes desde o fim da guerra (…) A última interferência é uma provocação adicional e inaceitável”, acrescentou.
Os dois vice-primeiros-ministros da Itália, Matteo Salvini, do partido de direita Liga, e Luigi Di Maio, do movimento populista Cinco Estrelas (M5E), provocaram o presidente francês Emmanuel Macron com iniciativas relativas à imigração e às manifestações, na França, dos “coletes amarelos”.
Na terça-feira 5, Di Maio reuniu-se com membros dos coletes amarelos, manifestantes mobilizados por várias semanas contra políticas do governo Macron. A iniciativa foi a gota d’água para o governo francês. Na véspera, a chancelaria francesa classificara o encontro como uma “nova provocação inaceitável entre países vizinhos e sócios dentro da União Europeia”.
“Di Maio, que tem responsabilidades governamentais, deve velar por não afetar com suas repetidas ingerências as nossas relações bilaterais, tanto pelo interesse da França como da Itália”, acrescentara a chancelaria.
Na terça-feira, o vice-primeiro ministro da Itália, Luigi Di Maio, do partido antissistema Movimento 5 Estrelas, se encontrou com dois líderes do movimento dos coletes amarelos, depois de ter manifestado várias vezes apoio ao movimento, e escreveu no Twitter que o “vento da mudança cruzou os Alpes”.
A contenda se agrava a menos de quatro meses antes das eleições para o Parlamento Europeu, em um momento de tensão e aspereza inéditos entre Roma, que desde junho de 2018 tem um governo eurocético e populista de direita, e Paris. Há 15 dias, o outro vice-primeiro ministro, Matteo Salvini, líder da Liga, de extrema direita, conclamou os franceses a se liberar de um “péssimo presidente”, chegando a desejar a partida de Emmanuel Macron.
“Quanto antes ele voltar para a casa dele, melhor será”, disse.
As virulentas provocações dos líderes nacionalistas italianos contra o governo francês pró-europeu refletem o lado incendiário de um embate maior entre as forças ditas populistas e progressistas, às vésperas da disputa nas urnas em maio, em um pleito que adquiriu uma inusitada importância provocada pela nova realidade política e ideológica na União Europeia.
Com agências internacionais