A Perdigão foi fundada em 1934 pelas famílias Ponzoni e Brandalise. Em 2009, ela se fundiu a Sadia e hoje as duas fazem parte do Grupo BRF.
Essa história se confunde com a história da ocupação do oeste de Santa Catarina, fruto do deslocamento de colonos descendentes de imigrantes italianos e alemães do Rio Grande do Sul. Nos primeiros anos do século 20, eles procuravam novas terras para se estabelecer.
Foi nesse fluxo de colonos vindos das terras gaúchas que as famílias de imigrantes italianos fundadoras da Perdigão chegaram ao Vale do Rio Peixe, em Santa Catarina. Eram eles os irmãos Angelo e Pedro Ponzoni e os irmãos Brandalise: Giovanni, Ricardo, André David, Arthur, Guilherme, Abrão e Saul.
Os Brandalise eram filhos de Giovanni Riccardo Brandalise e Luigia Codogno, que chegaram ao Brasil vindos da região do Vêneto. Nascido em 29 de agosto de 1870, Giovanni era natural da comuna de Arsiè, na província de Belluno.
Em 1920, parte da família Brandalise se dedicava à lavoura e outros irmãos instalavam um pequeno moinho de trigo, no atual município de Tanguá. Em 1923, alguns dos Brandalise se mudaram para a Vila de Perdizes, atual município de Videira, para trabalhar em uma loja de Secos e Molhados.
Famílias se unem pela banha
Enquanto isso, os Ponzoni desenvolviam vários empreendimentos, como uma loja de atacados e um pequeno abatedouro de suínos, com industrialização dos derivados, principalmente a banha.
No ano de 1934, depois de muita negociação, as duas famílias resolveram associar seus capitais e formar a sociedade Ponzoni, Brandalise & Cia. Entraram na sociedade Angelo e Pedro Ponzoni e os irmãos André David, Arthur, Guilherme, Abrão e Saul Brandalise.
Nos anos seguintes, Saul Brandalise se tornaria um dos principais dirigentes da empresa, que se associou em 1939 a Frey & Kellermann, empresa de abate de suínos que atuava havia dez anos no Vale do Rio Peixe. Com a fusão, surgiu a Sociedade de Banha Catarinense Ltda.
No ano de 1942, o abate de suínos alcançou a marca de 100 animais por dia. Essa produção exigiu a primeira melhoria tecnológica dos equipamentos do frigorífico.
Perdigão diversifica sua produção
Com a consolidação da atividade comercial e de processamento de suínos, os investimentos da empresa passaram a ser direcionados para a agropecuária. Foi então que começou a ser construída a Granja Santa Gema, em Videira, voltada à produção de animais de alta linhagem, em 1954.
No ano seguinte, em 1955, começou o abate de aves. A atividade era realizada artesanalmente no frigorífico de suínos. Em 1958 foi alterada a razão social da empresa, que recebeu a denominação de Perdigão S.A. Comércio e Indústria.
Os laboratórios para controle microbiológico e físico-químico dos produtos nas unidades industriais foram instalados em 1963. Essas unidades foram os embriões das áreas de controle de qualidade e de pesquisa e desenvolvimento da empresa.
A empresa também passou a investir no monitoramento da saúde e no tratamento das aves e suínos em todos os estágios de suas vidas e no decorrer de todo o processo de produção.
Em 1975 foi construído o primeiro abatedouro exclusivo para aves. Assim, a Perdigão se tornou uma das empresas pioneiras na exportação de carne de frango, tendo como destino a Arábia Saudita.
Habemus Chester!
O ano de 1979 marcou o início de uma grande inovação para a empresa. Com o objetivo de oferecer uma alternativa diferenciada ao consumo de carne de aves, a Perdigão importou dos Estados Unidos a espécie Gallus Gallus. A partir daí, passou a desenvolver uma ave especial, com a ajuda de um programa de melhoramento genético.
Estava nascendo a marca Chester, com 70% de sua carne concentrada no peito e nas coxas. A linha de produtos Chester foi lançada oficialmente em 1983, com o diferencial também de serem produtos com baixo teor de gordura.
Ainda na década de 80, a empresa abriu seu capital e passou a comercializar ações na bolsa de valores. Em 1989 foi lançada a linha Turma da Mônica, pioneira no segmento de produtos industrializados de carnes com baixa condimentação. No ano seguinte os abatedouros de aves de Capinzal (SC) e Marau (RS) foram aprovados para exportar para a União Europeia.
Na década de 90, a empresa teve alguns prejuízos, devido ao aumento de despesas financeiras e baixo investimento em desenvolvimento e divulgação de seus produtos.
Perdigão passa controle operacional
Em 1994, a Perdigão começou a ser controlada por um pool de fundos de pensão. Desde então, sua gestão passou a ser totalmente profissionalizada e é considerada exemplo de expansão, inovação e solidez.
Em 1999 o grupo entrou no mercado de massas prontas congeladas com a linha Toque de Sabor. O primeiro produto lançado foi a Lasanha à Bolonhesa.
Na década de 2000, a Perdigão adquiriu 51% do capital da divisão de produtos cárneos da Batávia. Um ano mais tarde, comprou os 49% restantes, preservando a marca Batavo. Com isso, a empresa entrou no mercado de produtos lácteos.
A Perdigão foi a primeira empresa brasileira de alimentos a lançar ações (ADRs) na Bolsa de Nova York. Em 2001, fez parte do primeiro grupo de empresas a aderir ao Nível 1 de Governança Corporativa da Bovespa. Em 2006, a empresa pulverizou seu controle acionário e entrou para o Novo Mercado da Bovespa, nível mais alto de Governança Corporativa.
No ano de 2009, a Perdigão unificou suas operações com a Sadia, o que possibilitou a criação da Brasil Foods (BRF), uma das maiores companhias de alimentos do mundo.
Sadia, também fundada por italianos
A Sadia foi fundada por outro imigrante italiano, Attílio Fontana, em 1944, também em Santa Catarina, no município de Concórdia. O gaúcho Attílio Fontana nasceu em 1900 em Santa Maria do Boca do Monte.
Era o oitavo filho de doze irmãos do casal Romano Fontana e Thereza Dalle Rive, que chegaram da Itália no final do século 19, vindos da região do Vêneto, na Itália.
Depois de se casar, Attílio se mudou para Santa Catarina, comprou um frigorífico em dificuldades, a SA Indústria e Comércio Concórdia, e conseguiu levantar o negócio, comprando mais máquinas de outro frigorífico falido.
Em seis meses, o frigorífico abatia 200 porcos por dia e Fontana mudou o nome da empresa usando as iniciais da SA Indústria e Comércio com a sílaba final de Concórdia: Sadia.
A modernização da empresa veio com a chegada do engenheiro químico Victor Fontana, sobrinho de Attílio, que trouxe técnicas de higiene e conservação dos alimentos.
Carreira na política
Enquanto a empresa crescia, Attílio fazia sólida carreira na política. Foi vereador e prefeito de Concórdia, de 1951 a 1954. Entre 1955 e 1963, por dois mandatos consecutivos, foi deputado por Santa Catarina. Além disso, Attílio foi senador da República, secretário da Agricultura e vice-governador de Santa Catarina.
Após a morte de Attílio, em 1989, a Sadia era dirigida pela terceira geração de herdeiros. Em 2007, após passar por uma crise e ser reerguida por um fundo de pensões, a Perdigão, principal concorrente da empresa, atingiu o valor de mercado de 4,6 bilhões de dólares, ultrapassando a Sadia pela primeira vez.
Naquela época, boa parte do lucro da Sadia vinha de operações no mercado financeiro, enquanto que em outras empresas do mesmo ramo a maior parte do lucro era operacional. Com as finanças cada vez em piores condições, a fusão com a Perdigão foi a solução encontrada para evitar a falência.
Império tem marca do trabalho de italianos
A Brasil Foods possui mais de 90 mil funcionários e está presente em mais de 140 países. Sua linha de produtos inclui aves, suínos, alimentos processados, massas e pizzas de marcas como Sadia, Perdigão e diversas outras ramificações. A sede da empresa fica em Itajaí, Santa Catarina.
Esse é o desdobramento da chegada de mais uma leva dentre tantas famílias de imigrantes italianos que ajudaram a transformar o Brasil com seu trabalho no início do século 20. São homens e mulheres que, com persistência e visão empreendedora única, ergueram impérios e ajudaram a construir nossa identidade.
Por Roberto Schiavon/Italianismo