Em meio às celebrações pelos 150 anos da imigração italiana no Brasil, chega aos cinemas do país nesta quinta-feira (3) um filme falado parcialmente em talian, língua nascida a partir da chegada de imigrantes do “Belpaese” à região Sul no século 19.
“Até que a música pare”, coprodução entre Brasil e Itália dirigida pela cineasta gaúcha Cristiane Oliveira, narra a história do casal Alfredo (Hugo Lorensatti) e Chiara (Cibele Tedesco), matriarca de uma família ítalo-descendente que, após o último filho sair de casa, decide acompanhar o marido em suas viagens como vendedor pelos botecos da Serra Gaúcha. No entanto, uma tartaruga e baralhos de carta colocarão à prova mais de 50 anos de vida a dois.
“Muitas pessoas da comunidade [italiana] e que trabalham pela salvaguarda do talian ficam muito comovidas de ver essa língua, que é muito comum no interior, chegar às telonas em um drama familiar”, disse Oliveira, em entrevista à ANSA. O filme lhe rendeu o prêmio de melhor direção na última edição do Bergamo Film Meeting.
“Comecei a desenvolver o roteiro a partir de questionamentos que eu fazia sobre qual é o limite da nossa tolerância, em paralelo com o cenário de escândalos na política nacional. Isso me levava a questionar nossas condições cotidianas”, acrescentou.
O longa também se inspira na história de uma amiga cuja família “ficou muito preocupada ao descobrir que o avô dela, um senhor acima de qualquer suspeita, comerciante, vendia um determinado produto sem nota fiscal”.
A partir disso, Oliveira e o roteirista Gustavo Galvão partiram para uma pesquisa na Serra Gaúcha e descobriram que muitas pessoas na faixa etária dos protagonistas falavam talian.
“Foi muito rico entrar em contato com essa cultura, e me deu muita vontade de fazer esse registro antropológico no filme, de ter essa musicalidade”, contou a cineasta.
O elenco de “Até que a música pare” conta com a atriz brasileira Elisa Volpatto e o ator italiano Nicolas Vaporidis, além de talentos locais que já tinham facilidade com a língua, como Tedesco e Lorensatti, integrantes do grupo de teatro Miseri Coloni, companhia tradicional de Caxias do Sul e que se apresenta em talian desde os anos 1980.
Mas para dar conta dos improvisos que surgiam no set, Oliveira revelou que tinha a ajuda de consultores, incluindo professores de formação em talian da Unicentro no Paraná, para garantir “o trabalho de representação dessa cultura”. (ANSA)