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Cutrale: família siciliana fundou império do suco de laranja

O italiano Giuseppe Cutrale chegou ao Brasil na década de 1930 e deu início a uma das empresas mais fortes da indústria brasileira

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Cutrale: família siciliana fundou império do suco de laranja

O siciliano Giuseppe Cutrale chegou ao Brasil e começou a negociar laranjas. Foi o início de uma das maiores indústrias da história do país.

Ele veio ao Brasil na década de 1930 na onda de imigração que trouxe milhares de italianos ao país, à procura de melhores condições de trabalho e por um bom ambiente para criar sua família.

Na Itália, Giuseppe Cutrale já trabalhava nos laranjais da Sicília e, chegando à sua nova terra, resolveu permanecer no ramo de negócio ao qual já estava acostumado. Assim, começou a comprar laranjas no Rio de Janeiro, maior mercado produtor da fruta na época, para vender no Mercado Municipal de São Paulo.

No começo as laranjas eram vendidas no Mercado Municipal de São Paulo

Além de fazer o “intercâmbio interestadual” de laranjas, José Cutrale (como ficou conhecido, com o nome abrasileirado) desde o início colocou seu espírito empreendedor para funcionar e, aproveitando dos contatos que tinha na Europa, começou a exportar as laranjas brasileiras para a Alemanha, Holanda e até mesmo para o Canadá.

No entanto, o início da 2ª Guerra Mundial, entre o final da década de 1930 e o começo da década de 1940, prejudicou praticamente qualquer movimentação comercial com o continente europeu, obrigando Cutrale a interromper seus negócios.

O caçula assume os negócios

Em 1947, José Cutrale Júnior, o caçula dos 11 filhos de José Cutrale acabou assumindo os empreendimentos do pai. Com um misto de visão para os negócios e sorte, deu início ao que viria a se tornar um verdadeiro império mundial das laranjas.

Naquela época, diversos problemas climáticos começavam a assolar a região da Flórida, nos Estados Unidos, até então maior produtora mundial de laranjas. Movido pelo senso de oportunidade, José Cutrale começou a comprar cada vez mais laranjas.

Na década de 1950, as exportações eram feitas a partir de Bebedouro

Aos 21 anos de idade, apenas com o primeiro grau completo, José Cutrale Júnior abandonou os estudos e começou a ajudar o pai tendo a intuição como norte em seu estilo de gestão. Na década de 1950, adquiriu uma pequena pack house, empresa que embalava laranja para exportação, no município de Bebedouro, interior de São Paulo.

Até aquele momento, a família só havia investido na fruta in natura. Foi em 1967 que Cutrale entrou no mercado de suco de laranja. Ele comprou a Suconasa, empresa do mesmo segmento que estava falida, localizada em Araraquara, interior de São Paulo. Estava fundada a Sucocítrico Cutrale Ltda.

Aquisição da Suconasa deu início à fábrica da Cutrale em Araraquara

Cutrale recebe uma força do destino

Para reconquistar a confiança dos clientes da fábrica, José Cutrale Júnior procurou pessoalmente cada um deles e renegociou as entregas dos produtos. Utilizando sua habilidade de bom negociador, acabou retomando a maioria dos contratos.

Enquanto ia trabalhando no Brasil para preparar terreno visando produzir em alta escala, o destino ia dando uma mãozinha nos Estados Unidos. Alguns meses depois de adquirir a Suconasa, outra forte geada devastou os pomares na Flórida, fazendo o preço da laranja disparar no mercado internacional.

Assim, com a fruta valorizada no mercado externo, Cutrale acabou fechando bons contratos e rapidamente conseguiu pagar praticamente tudo que investiu na compra da Suconasa.

José Cutrale Júnior não era um administrador de escritório, que ficava sentado atrás de uma mesa. Ele viajava muitos quilômetros para vistoriar os pomares e não fazia cerimônia se precisasse recolher caixas e laranjas jogadas no chão.

Trabalho e vida familiar

Além disso, ele acompanhava todas as finanças de perto, fazendo contas com seus gerentes agrícolas e mantendo os números e planilhas na ponta da língua. Tinha excelente memória e gostava de ter o controle de todas as operações.

Outra característica de José Cutrale Júnior era sua discrição e a valorização da vida familiar. O trabalho e a família andavam sempre lado a lado. Era muito reservado, não gostava de flashes e entrevistas. Os amigos próximos garantem que não esbanjava dinheiro com luxo ou grandes festas e era tímido.

Em 1945, casou-se com Amélia Bernardini, que foi sua grande companheira, inclusive na empresa. Amigos do casal contam que ela o acompanhava em negociações e nas assinaturas dos contratos mais importantes.

O casal teve um único filho, José Luís Cutrale, nascido em 17 de setembro de 1946. Ainda na adolescência, ele começou a seguir os passos do pai, com a mesma discrição e o mesmo pulso firme para os negócios.

Muito novo, a pedido do pai, já ia para a beira da estrada para fiscalizar a velocidade dos caminhões de carga da empresa. Aprendeu na prática e também na teoria, pois fez cursos de línguas e de oratória, além de ter herdado o talento natural de negociador da família.

Despedida do Cutrale pai

Outra característica do pai e do avô, herdada por José Luís Cutrale, foi a generosidade com os funcionários da empresa, já que sempre deu ótimas oportunidades a seus executivos.

José Luís Cutrale: trabalho, fortuna e vida discreta com família e amigos

Um exemplo disso é que quando a empresa transferiu seu Centro Administrativo de São Paulo para Araraquara, em 1986, Cutrale construiu um condomínio próximo à fábrica, com casas luxuosas, cercadas por uma muralha em formato de coração. Ali dentro moravam, além dele e sua família, os diretores da empresa, que ele considerava grandes amigos.

O seu pai, José Cutrale Júnior, morreu em 29 de dezembro de 2004, aos 78 anos, quando a empresa já havia dominado o mercado nacional e internacional de suco de laranja.

No ano de 2012, o grupo voltou a comercializar laranja in natura no mercado brasileiro. Eram frutas rastreadas, desde o plantio das mudas até o momento em que as laranjas – de produção própria – eram distribuídas ao mercado atacadista. No mesmo ano, a Cutrale diversificaria seus negócios, ampliando as atividades com a comercialização de soja.

Empresa começa a dominar o mercado

No ano de 2013, especialistas avaliavam que a Cutrale havia registrado exportações na ordem de US$ 1,7 bilhão, o que a colocava na condição de segunda maior produtora brasileira, atrás da Citrosuco, também sediada no Brasil.

Em outubro de 2014, a Cutrale, em parceria com o Grupo Safra, representados por José Luís Cutrale e Joseph Safra, concluía outro movimento ousado em sua trajetória. Chegou a um acordo de 1,3 bilhão de dólares para comprar a marca norte-americana Chiquita Brands International, uma das quatro líderes globais no mercado de bananas.

Empresa exporta para mais de 90 países da América do Norte, Europa e Ásia

Por ser uma empresa de capital fechado, somente após esse processo foi liberado o valor patrimonial do conglomerado de José Luís Cutrale, avaliado em mais de 5 bilhões de dólares.

Um a cada três copos de suco de laranja consumidos no mundo, em média, sai das fábricas da empresa. A Cutrale exporta para mais de 90 países e mantém mais de 15 mil empregos diretos. É uma das três empresas com operações no Brasil que controlam cerca de 80% do mercado mundial de suco de laranja.

Segundo o ranking de bilionários da revista Forbes 2021, José Luís Cutrale, 74 anos, é a 1249ª pessoa mais rica do mundo e a 22ª do Brasil, com uma fortuna estimada em 2,5 bilhões de dólares.

Vida pacata de um homem de negócios

No entanto, seguindo a tradição familiar, raramente é fotografado ou aparece em entrevistas ou colunas sociais. Prefere viver ao lado da família e dos amigos mais próximos, sempre cuidando dos negócios que lhe proporcionaram a vida que tem.

Essa é a história que começou com a chegada do imigrante italiano Giuseppe Cutrale ao Brasil na década de 1930, e que não tardará a alcançar a quarta geração da família, já que os filhos de José Luis, bisnetos de Giuseppe, José Luis Júnior e José Henrique, também já se preparam para assumir os negócios.

Uma saga cheia de Josés, laranjas, bananas, ajudas do destino, negociações habilidosas e muito, muito trabalho. Quase um conto de realismo fantástico, mas apenas mais um capítulo da fantástica realidade da imigração italiana no Brasil.

Por Roberto Schiavon/Italianismo

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