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Bellini: família italiana desbravou o sul do Brasil e criou a Marcopolo

A chegada de Giuseppe e Maria Bellini ao Brasil em 1895 marcou o início de uma aventura que resultou na criação de uma das mais fortes marcas da indústria nacional

Marcopolo Bellini
Bellini: família italiana desbravou o sul do Brasil e criou a Marcopolo

Os Bellini fundaram a Marcopolo, referência mundial em carrocerias para ônibus. A empresa foi criada por iniciativa de Paulo Bellini.

Tudo começou em 1895, quando Giuseppe Maria Bellini e sua esposa Maria saíram da cidade de San Benedetto Po, na província de Mantova, região da Lombardia, na Itália, e chegaram ao Brasil.

Assim como milhares de imigrantes italianos naquela época, José (como ficou seu nome abrasileirado) e Maria escolheram a cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, para morar, trabalhar e fazer a família crescer.

Nos anos seguintes, Alberto Bellini, filho de José e Maria, então casado com Ermelinda Segalla Bellini, honraria a vocação de desbravador dos pais e se tornaria um dos pioneiros no plantio de trigo naquela região do país. Além disso, Alberto fundou e dirigiu a Metalúrgica Bellini.

Em 20 de janeiro de 1927, nasceu Paulo Bellini, filho de Alberto e Ermelinda e neto de Maria e José, os primeiros da família a chegarem ao Brasil.

Início do transporte público

É importante lembrar que, naquele início de século 20, o transporte público de passageiros, que havia sido criado em 1908 no Rio de Janeiro, dava seus primeiros passos.

A Marcopolo ajudou a desenvolver o transporte público no Brasil

Até o final do século 19, as pessoas se deslocavam a pé, sobre o lombo de animais e depois em trens a vapor, bondes com tração animal e bondes elétricos.

Nas décadas de 1920 e 1930, a urbanização do país foi crescendo e o surgimento dos ônibus tornou o transporte de pessoas mais rápido, simples e barato.

Nesse contexto, Paulo Bellini crescia em Caxias do Sul e uma outra família de descendentes de italianos, os irmãos Nicola, montavam uma oficina especializada em reparar e pintar cabines de caminhões.

Logo os irmãos Doracy, Dorval, João e Nélson Nicola ficaram conhecidos pela qualidade dos serviços prestados, inclusive para transformar caminhões antigos em ônibus novos, através do domínio da arte da funilaria.

A empresa iniciou suas atividades com o nome de Carrocerias Nicola

Paulo Bellini entra na sociedade

Como não havia uma empresa especializada em produzir ônibus no Brasil, eles eram importados ou montados no país por meio do uso da criatividade, que era o diferencial dos irmãos Nicola.

A empresa Nicola & Cia Ltda foi registrada em 6 de agosto de 1949 e estava instalada em um galpão com piso de terra na área central de Caxias do Sul, com 17 funcionários.

Apesar da época de aprendizado, pois havia muita reclamação de desalinhamento dos eixos e problemas de vedação que deixavam água da chuva entrar nos carros, por exemplo, a empresa começou a despontar no mercado.

Em 1951, quando parte dos sócios dos irmãos Nicola deixou o negócio, eles conheceram o jovem Paulo Bellini, então com 22 anos e recém-formado em Administração de Empresas. Com a ajuda do pai, Alberto Bellini, ele comprou a quota disponível na empresa e se tornou sócio do empreendimento.

Assim, Paulo passou a ser responsável pelas atividades de gestão da empresa, nas áreas comercial, de compras, financeira e de relações públicas.

Carrocerias de aço

Na época, o uso de madeira para construção de ônibus já era coisa do passado e a empresa encarou o desafio de se aperfeiçoar para construir carrocerias feitas de aço.

A empresa passou a desenvolver técnicas e processos produtivos específicos para ônibus, inaugurando um segmento na indústria automotiva praticamente do zero, já que os chassis existentes eram próprios para caminhões. Assim, em 1952 foi entregue a primeira estrutura totalmente metálica.

Anúncio publicitário da Nicola na década de 1960

No ano de 1961, a empresa já ingressava no mercado exterior, realizando a primeira exportação de ônibus brasileiro para o Uruguai. No final da mesma década, foi lançado o modelo Marcopolo, em homenagem ao navegador de Veneza.

O sucesso foi tão grande que, em 1971, a empresa, até então ainda conhecida como Carrocerias Nicola, adotou o nome Marcopolo. Um novo nome veio a calhar, inclusive, porque a sociedade com os irmãos Nicola havia terminado no final da década de 1960.

Bellini aperfeiçoa a produção

Com a saída dos antigos sócios, Bellini convidou Valter Gomes Pinto e José Fernandes Martins para ajudar na administração dos negócios. Os dois acabaram sendo grandes parceiros e se tornariam diretores da empresa.

Na década de 70, as técnicas foram se aperfeiçoando, com a chegada de mais italianos ao Brasil com conhecimento de serralheria, que foram sendo incorporados ao grupo.

Os primeiros ônibus foram entregues na década de 1950

Nos anos 1980, Paulo Bellini e o então diretor industrial, Cláudio Gomes, foram visitar empresas no Japão para conhecer técnicas como just in time e kanban, que aumentavam a motivação dos funcionários e a produtividade.

Assim, o empresário introduziu na empresa o sistema de produção Marcopolo, focado na valorização e no aperfeiçoamento dos colaboradores para produção em larga escala de “ônibus customizados”. Era assim que ele definia seus produtos, comparando a fábrica a uma grande alfaiataria, onde o chassi é a calça e a carroceria, o paletó.

Importações tornam empresa multinacional

Com o mercado em plena expansão, as importações foram crescendo, até que em 1990 a empresa iniciou seu processo de internacionalização e se tornou uma multinacional brasileira.

A Marcopolo passou a não somente vender para mais de 100 países, como começou a abrir fábricas fora do Brasil. Primeiro em Portugal e depois na Argentina, México, Colômbia, África do Sul, Rússia e Índia.

O G8 (oitava geração) é o modelo mais moderno da Marcopolo

Nos anos 2000, a empresa se destacou na produção dos primeiros ônibus com teto removível. Eles eram fornecidos a um cliente do Oriente Médio e usados nas peregrinações para as cidades de Meca e Medina.

Foram inovações desse porte que trouxeram outros clientes, incluindo as encomendas para o projeto Transantiago, no Chile. As entregas em prazos curtíssimos tornaram a empresa referência mundial na produção de altos volumes, customizados e com entrega expressa.

Faturamento recorde

No ano de 2001, a Marcopolo rompeu a barreira de R$ 1 bilhão em faturamento, sendo 60% de suas receitas vindas do exterior. O grupo fechou aquele ano com a venda de 3.100 unidades de ônibus no mercado externo.

Hoje a empresa é uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo, com dezenas de fábricas espalhas pelos cinco continentes. Em 2019, a empresa registrou faturamento recorde de R$ 4,3 bilhões, com lucro líquido de R$ 212 milhões.

Valter Gomes Pinto, diretor e braço-direito de Bellini, que teve papel fundamental na criação da nova marca da Marcopolo, no final dos anos 1960, morreu em 2013, aos 81 anos.

Bellini honra raízes italianas

Roberto Lasagna, prefeitoSan Benedetto Po, e Paulo Bellini (foto: Gazzeta di Mantova)

Em 2016, Paulo Bellini recebeu a cidadania honorária de San Benedetto Po, na Itália, cidade onde nasceu seu avô, Giuseppe Maria Bellini. “O meu espírito italiano está tanto na alegria de viver, ouvir boa música, desfrutar da boa comida, estar com os amigos, como na fidelidade aos valores e princípios sólidos que me foram transmitidos por meu avô e meu pai. Por isso, o reconhecimento também vai para eles”, declarou na época.

Em 2017, Paulo Bellini morreu aos 90 anos, em Caxias do Sul, cidade que sua família desbravou e que entrou no mapa como sede de uma das empresas mais fortes da história da indústria brasileira.

Sua esposa, Maria Célia, já era falecida. Ele deixou os filhos James Eduardo, Mauro Gilberto e Paulo, conhecido como Paulinho. E um legado gigantesco, construído por mais uma família de imigrantes italianos que chegou ao país com pouco dinheiro, mas muita vontade de prosperar.

Por Roberto Schiavon/Italianismo

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